Capítulo três

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Havia um grande mural de fotos atrás de minha cama

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Havia um grande mural de fotos atrás de minha cama. Uma coleção de lembranças da minha vida. Grande parte delas — ou quase todas — era de quando eu estava com minha família. Eu gostava de deitar na cama com os pés apoiados na cabeceira enquanto admirava as fotos com meus pensamentos vagando nas lembranças.

A minha fotografia favorita era de mim e vovó sentadas na sombra de uma árvore. Eva estava com um livro de história aberto em cima de sua perna. Ela costumava sentar comigo e contar histórias de países e lugares ao redor do mundo. Quando a foto foi tirada, ela me falava sobre a Índia.

— O país é uma mistura de sensações que é difícil descrever, San. O mar de pessoas, com o barulho incessante da cidade respirando ao redor... É uma das coisas difíceis de esquecer. — Ela moveu seus olhos castanhos para céu, como se tentasse enxergar tudo aquilo. — Mas não é como se tudo fosse perfeito.

Fiz uma cara assustada para vovó. Ela voltou a dizer:

— Eu sei que pode te assustar, mas você tem que entender que nada é perfeito. Nada é como um arco-íris. A vida não é assim. Quando mais cedo saber disso, menos vai sofrer depois.

Mãinha estava sentada perto de nós, tirando fotos das flores do jardim. Ela parou quando vovó falou e se virou para nós.

— Você tá traumatizando-a!

— Sandy não pode viver no mundo de fantasia. Precisa saber a verdade.

A verdade que o mundo tinha suas cicatrizes e lados apagados e cinzentos. Pessoas sorriam, mas também choravam.

Mãinha se agachou na nossa frente e tirou uma foto enquanto conversávamos. Sorri, ainda sentindo o cheiro de grama molhada.

Levantei da cama e andei até minha estante do lado do guarda-roupa. Eu guardava vários livros de história do Brasil e do mundo. Havia também uma série de guias turísticos contando sobre países que eu nunca visitei. Puxei um deles sobre Índia. Era o que vovó estava segurando na foto. Se eu cheirasse as páginas, podia sentir seu cheiro preso nas palavras.

Sentei na cama e comecei a ler, me imaginando nas terras indianas e visitando todos os lugares ao ser envolvida pela sua cultura única. Isso fez uma chama se acender dentro de mim. Por alguns segundos consegui imaginar como se minha avó estivesse sentada ao meu lado com um sorriso no rosto. Um dia eu iria para todos os lugares que ela contou para mim. Era meu objetivo.

Peguei meu celular e liguei para o telefone da minha casa natal. Ninguém atendeu. Como assim, não tinha como elas terem saído de casa! Pelo menos a cuidadora teria atendido. Só podia ter uma alternativa, algo aconteceu com elas. Vovó passou mal ou fugiu de novo. Mas Sabrina teria me avisado, né?

Meu coração descontrolou. Não, para. Elas estavam bem. Era só minha mente tentando brincar comigo. Ela tomava vida própria. Era como se fosse outra pessoa dentro de mim me perturbando.

Frangos Explosivos [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora