Capítulo quarenta e dois

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O mundo era injusto

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O mundo era injusto. Não tinha um equilíbrio. Havia pessoas boas que sofriam mais do que mereciam. Em um mundo ideal, nada disso aconteceria. Todos eram felizes e saudáveis sem o mal no mundo. Mas infelizmente a vida não era assim. Se tivesse uma mágica para mudar isso, eu faria sem pensar duas vezes.

Um dia eu fiz mágicas no hospital que minha mãe trabalhava. Teresa pediu para que eu realizasse alguns dos truques na área pediátrica para as crianças internadas.

Ao entrar na ala do hospital, consegui ver muitas crianças deitadas com os olhos fechados, outras com olhos abertos, me fitando. Por algum tempo ficaram receosas com a chegada inesperada de uma pessoa vestida com uma roupa de mágico.

Depois que comecei a fazer as mágicas, o medo delas sumiu de suas faces, sendo substituído por um brilho no olhar. Eu consegui ouvir risos, e as crianças que dormiam acordaram para ver. Eu deixei todos se envolvessem no mundo mágico.

Foi uma sensação diferente ao fazer para aquelas pessoas. Por apenas alguns minutos, consegui distraídos de suas dores, deixando que imergissem em um mundo da fantasia. Meu peito ficou mais leve depois disso.

Era isso. Estava na hora de deixar a minha vida mais leve também. Tomei meu café da manhã e abri o guarda-roupa para tirar as fantasias de frango. Fitei-as, sem ter coragem de pegá-las. Elas fizeram parte de minha vida, mas era hora de dizer adeus a elas.

Marcos sabia o tanto que aquilo era importante para mim. Era significativo e doloroso dar adeus. Eu duvidava de que ele iria utilizá-las de novo. Elas estavam usadas, nenhum outro funcionário iria querer vesti-las. Provavelmente ele iria coloca-las dentro do armário ou jogá-las no lixo.

Trinquei a mandíbula, sentindo a raiva pulsar dentro de mim. Por que eu não poderia ficar como uma recordação? Eu precisava delas. Se abrisse mão, era como se uma parte minha fosse embora também.

Sentiu os olhos marejarem.

Meu deus, Axel, é só uma fantasia! Você pode comprar outra depois.

Aquilo era ridículo. Eu conseguiria viver sem elas, seria o Axel de sempre que todo mundo conhecia.

Respirei fundo e coloquei as roupas na sacola. Era o certo a se fazer. E era melhor se livrar delas uma vez por todas antes de mudar de ideia.

Andei para fora do apartamento com determinação.

Ao chegar no Frangos Explosivos, encontrei Marcos atrás da bancada conversando com Roberta. Cheguei perto dos dois e depositei a sacola em cima da bancada, fazendo com que a conversa de ambos fosse interrompida ao voltarem o olhar em minha direção.

Um silêncio recaiu no restaurante, quando Marcos puxava a sacola e olhava para o conteúdo.

— Tem certeza que vai fazer isso por causa de algumas mágicas? — perguntou ele.

Fechei a minha cara.

— Eu nunca tive tanta certeza. — Eu estava falando a verdade. Não aguentava olhar para o rosto dele.

— Então você vai precisar fazer mais uma coisa. Você precisa assinar alguns papéis.

Fiz tudo que foi preciso, com o olhar de Roberta queimando minha nuca. Assinei e peguei documentos, deixando de ser um dos funcionários do restaurante. Dessa vez deixando com que tudo se tornasse oficial, sem ter volta.

Sai do escritório, fazendo o melhor para conter minhas emoções. Não era um adeus, eu poderia voltar para comprar um balde de frango frito. Não conseguia dizer adeus para essas maravilhas do universo.

Lancei um sorriso para Laís, vendo-a piscar para mim. Depois de sair para a rua, olhei para trás uma última vez, dando adeus a tudo que vivi dentro daquelas paredes laranjas.

No caminho de volta para casa, eu não sabia o que fazer. Sem o emprego, eu tinha uma tarde inteira livre para me dedicar as mágicas e ao Show de Talentos. Recebi mais informações sobre as gravações do Show de Talentos, com alguns avisos de que o dia de gravação aconteceria daqui a três semanas. Por conta de alguns problemas, eles precisaram postergar o dia, o que acabou sendo bom para mim — já que teria mais tempo de me preparar para o show.

Peguei a câmera de Júlia emprestada e coloquei minha roupa de mágico, começando a filmar alguns truques para me acostumar com a câmera. Não sabia se estava fazendo direito. Minha irmã entendia mais dessas coisas. A câmera ficou torta e depois de filmar percebi que a imagem ficou desfocada. Precisei de várias horas para aprender a mexer nela e conseguir fazer alguns vídeos decentes.

Quando eu estava me preparando para gravar mais alguns truques, meu celular tocou, com o número de meu pai brilhando em minha direção. Peguei o telefone com as mãos soadas.

— Quando você ia me contar que desistiu de Direito?! — perguntou meu pai sem que eu tivesse tempo de dizer alô. — Ia esconder de mim pra sempre?

Larguei a câmera, com meu coração se acelerando. Não era o que eu esperava ouvir.

— Você tá escondendo isso de mim já tem um ano! O que você tem na cabeça?! — Ele grunhiu, com sua voz fazendo meu ouvido arder. — Você não imagina a vergonha que passei depois de conversar com alguns dos professores da faculdade e descobrir que não estuda mais lá. Liguei até mesmo na coordenação do curso para ter certeza de que isso estava acontecendo. Você tem ideia do que eu tive que passar?! O tanto de vergonha que fiquei?!

Minha visão estava começando a ficar embaçada. Sentei no chão e escondi o rosto entre as mãos.

— Pai...

— Eu nunca estive tão decepcionado com você, Axel — Fechei os olhos. — Eu nem te conheço mais. Nunca pensei que você fosse capaz de fazer isso.

Ele desligou o celular na minha cara. Fiquei com o aparelho nas mãos, enquanto o mundo desabava ao meu redor.

Frangos Explosivos [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora