Frangos Explosivos [Completo]

Capítulo vinte e nove

Limpei meu quarto e joguei tudo no lixo. Observei os restos do rosto de Rafael na lixeira, o lugar onde ele merecia estar. Sorri, me sentindo leve como uma pena. Até cogitei mandar uma mensagem a ele contando o que fiz.

Lembra daquela blusa que você me deu? Pois é, eu a rasguei em pedacinhos e joguei no lixo junto com as suas outras coisas podres que infestaram minha vida.

Não via a hora de contar a Lúcia, ela ficaria orgulhosa. Sabrina também ficou quando me viu limpando o quarto.

— Eu estava esperando você fazer isso.

Parei de varrer e avaliei com a atenção. Seu corpo estava encostado no vão da porta. Parecia mais calma desde a última vez que conversamos no dia anterior.

— Desculpa por tudo que fiz ontem. — Abaixei os olhos e voltei a varrer. — Eu estava fora de mim.

Minha irmã assentiu.

— Eu sei, você tá tentando melhorar e isso já é um começo.

Era bom recomeçar.

Andei para tomar o café da manhã com o sentimento de que minha vida entrava nos trilhos. Minha mãe estava sentada, dando um pedaço de pão a Eva. Como a cuidadora não ficava o dia inteiro nos fins de semana, ela se encarregava de fazer seu trabalho. O que já estava cobrando um preço alto, havia olheiras abaixo de seus olhos. A preocupação era algo forte demais, não permitia o sono de alcançá-la.

— Pode deixar que eu dou comida a ela, vai descansar um pouco — disse, sentando ao lado de vovó.

Minha mãe ergueu os olhos e falou que não precisava. Ela era cabeça dura demais, não aguentava vê-la desse jeito. A sua forma de tentar abraçar o mundo apenas prejudicava sua saúde.

Eu não me importava de fazer seu trabalho. Eu gostava de cuidar de vovó, sentia falta disso.

— Você precisa descansar. Eu estou preocupada com você.

Mamãe ergueu as sobrancelhas.

— Estou preocupada com você também.

Suspirei.

— Pelo menos me deixe dar a comida pra Eva.

— Não, Sandy. Eu faço, já estou acostumada. Você veio aqui para descansar e não ficar trabalhando. Aproveita o tempo com sua avó e irmã.

Controlei para não revirar os olhos.

— Só estou tentando ajudar...

Vovó começou a tossir, me impedindo de continuar. Isabel negou. Meu deus, por que ela precisava ser desse jeito? Insisti mais um pouco até ela ceder e deixar ajuda-la com outras tarelas da casa. Mesmo não dizendo nada, vi o alivio pelo seu olhar. Seus ombros relaxaram e depois de fazer tudo, nos juntamos para ver televisão. Consegui ouvir sua risada contagiante pela primeira vez desde a visita, isso melhorou o resto do meu dia.