Capítulo trinta e quatro

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Eu contava os minutos para me encontrar com Lúcia

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Eu contava os minutos para me encontrar com Lúcia. Alguns dias distante faziam toda a diferença. Muita coisa aconteceu e eu fiquei na tentação de anotar no papel para não esquecer de comentar quando o momento chegasse. Nunca me imaginei nesse ponto. No primeiro dia eu estava morrendo de medo sem saber o que falar, algumas sessões depois eu percebia que cinquenta minutos não eram suficientes para tantos sentimentos misturados dentro de mim.

— A conversa com Giovana e toda a minha reflexão de estar vivendo ou não foi como se tudo mudasse dentro de mim. Mas mesmo assim, ainda tem muita coisa me incomodando. Toda essa ansiedade... — Suspirei sem saber como colocar em palavras.

Minha psicóloga perguntou quando tudo isso surgiu, mas minhas memórias pareciam como um vídeo cassete antigo, cheia de poeiras e com cenas faltando. Nunca pareci para pensar, a sensação era que ela estivesse sempre presente em minha sombra.

Talvez as respostas estivessem escondidas em algum canto de minha vida, então tentei contar tudo que me lembrava em busca de alguma resposta. Falei sobre minha infância, como eu era na escola e minha relação com a família. Vovó surgia nas minhas falas mais do que eu conseguia perceber.

— Sandy, a descoberta da doença de Eva mudou completamente o rumo de vida. Foi algo muito brusco e repentino, não é?

Ergui as sobrancelhas. Ela estava falando o óbvio. Em um momento tudo estava bem e no outro parecia que tudo iria desmoronar a qualquer momento. Era como se um terremoto tivesse chacoalhado meu mundo, me fazendo acordar e perceber que eu poderia perdê-la pra sempre.

Eu tinha catorze anos. Novas responsabilidades foram jogadas em cima de mim, me deixando perdida e tonta. Alguém me prendeu na parede enquanto eu era forçada a ver as coisas desabando, sem conseguir fazer nada.

— Consegue perceber o seu medo? Está nas palavras e na forma como você fala, Sandy. — Permaneci quieta sem saber o que dizer. Onde ela queria chegar? — Como você disse, antes se sentia bem, mas sua avó adoeceu e o medo começou a surgir. O medo de perder tudo. Perder a sua avó e não a ter mais do seu lado.

Meu estômago embrulhou.

— Lembra quando você me contou que quando tinha cinco anos e seu hamster morreu? Vamos falar mais sobre isso.

Suspirei, sentindo-me zonza, sem entender como falar sobre o hamster iria resolver. Às vezes Lúcia ia para caminhos muito estreitos, empoeirados e esquecidos pelo tempo.

Mesmo assim comecei a falar sobre meu bichinho de estimação, contando pequenos fragmentos de lembrança sobre ele. Foi um animal muito importante para mim, meu primeiro animal de estimação antes de ter Salen. Ele era meu melhor amigo. Conversava com ele todos os dias, contando sobre meu dia e compartilhando meus segredos.

Eu me sentia a garota mais sortuda do mundo por tê-lo em minha vida. Pensei que viveríamos juntos para sempre. Não consegui acreditar que um dia ele morreria, para mim sua vida estaria entrelaça com a minha pela eternidade. Dois anos depois eu descobri que isso não era verdade.

Frangos Explosivos [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora