Capítulo trinta e três

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Recebi uma mensagem de meu pai quando tomava o café da manhã na varanda de casa, com as nuvens se dissipando e o azul se transformando em tons de rosa arroxeado

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Recebi uma mensagem de meu pai quando tomava o café da manhã na varanda de casa, com as nuvens se dissipando e o azul se transformando em tons de rosa arroxeado. Um rastro de avião atravessou o céu, como um risco branco feito as pressas por um lápis de cor.

Paulo: Eu encontrei mais livros de Direito aqui em casa. Você vai querer? Posso enviá-los para você por correio.

Paulo: Ah e tem mais uma coisa, preciso muito saber se você ainda aceita ser meu padrinho.

Larguei o celular e enchi minha boca com pão de queijo. Ainda estava morno, com a massa crocante pelo lado de fora. Coloquei vários deles na boca até minha barriga empanturrar. Eu não sabia o que responder. Claro pai, eu posso ser seu padrinho se você conseguir aceitar que eu larguei a faculdade e estou te escondendo isso o ano inteiro.

Resmunguei. Eu devia ter contado a verdade na sua última visita, teria sido bom liberar tudo de uma vez. Desse jeito eu não viveria em uma tortura constate, pensando nas probabilidades do que poderia ter acontecido.

Se eu contasse por mensagem, seria o caminho mais fácil. Não precisaria encarar seu olhar de decepção ou a forma como balançava a cabeça e suspira ao desviar o olhar. Era um assunto muito sério para dizer pelo celular e seria muito insensível da minha parte jogar essa bomba para cima dele sem ao menos me importar na destruição que poderia causar.

Voltei a comer o pão de queijo com rapidez e peguei o celular de novo.

Axel: Claro, pai. Eu aceito. Sei como isso é importante para você, só quero te ver feliz. Mas não se preocupa, eu não preciso de mais livros. Tenho outros que você me deu e eu não terminei de lê-los.

Ele respondeu alguns minutos depois.

Paulo: Como não terminou? Aqueles livros você devia ter lido todos eles já nos primeiros períodos. São a base para o curso, eu te disse.

Meu coração saiu para a boca. Peguei outro pão de queijo enquanto batucava o pé no chão, tentando encontrar um caminho seguro para a sua pergunta.

Axel: Estou relendo os antigos para fixar bem sobre o assunto.

Era a pior desculpa que poderia dar, não tinha dúvidas de que o deixei desconfiado, seu silêncio em seguida era a resposta que eu precisava. Eu não poderia mais prolongar esse momento, encontraria uma forma de visita-lo em algum fim de semana para conseguir ser sincero com ele depois de tantos anos vivendo dentro de uma fantasia que não me pertencia mais.

O que era irônico, já eu estava literalmente usando uma todos os dias.

— Ei! — Júlia colocou o corpo para fora. Estava enrolada em um roupão felpudo branco e os pés presos em havaianas esfarrapadas. Ela abaixou os olhos para minha vasilha com pães de queijo. Ou o que restou dela.

— Já comeu todos? — Abaixei os olhos, havia apenas dois restantes. — Axel, você não tem limites!

Eu não havia percebido. Não me recordo de quantos assei, talvez mais dez deles. Tudo parecia tão distante e ao mesmo tempo tão próximo de mim. Eu fazia os movimentos no automático, com o gosto do queijo sendo o único indicativo que eu ainda estava presente na realidade.

Frangos Explosivos [Completo]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora