2. Adina Hale?

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– Ei Adam, quer uma carona? – Levanto os óculos escuros quando avisto a figura do meu vizinho de porta caminhar até o ponto de ônibus.

Adam não mudou nadinha nesses anos em que passamos mais afastados. Ele ainda vai para a escola com a mesma mochila, ainda tem o mesmo andar preguiçoso e o mesmo cabelo desgrenhado. Parece que já se passou uma vida desde que fomos amigos, ou ao menos parecidos. Ele se vira para mim e finge surpresa, fazendo voz de garota:

– Ai meu Deus, Allyson Hale quer me dar uma carona!

– Para de ser idiota e entra logo no carro — Rio e ele bufa, então apoia os braços cruzados na janela aberta.

– Vai me deixar na esquina pra ninguém te ver comigo?

– Sabe que não é assim, poxa.

– Eu gostava mais de você no fundamental.

– Se você não entrar agora, eu passo em uma poça d'água perto de você, e sei que essa é a sua camiseta favorita dos Beatles — Reviro os olhos e ele desiste, tira os fones e abre a porta do carro – É isso aí – Sorrio e ele liga o rádio na estação da cidade – Você não entende, não é?

– O que eu não entendo?

– Posso te colocar no topo também, é só falar e faço acontecer. Sabe que faço acontecer.

– Eu não quero o topo, Ally, quero andar de bicicleta com você sem que se preocupe com a sua unha, isso que você não entende.

– E de novo, não dá pra conversar com você.

– É, acho que não dá mesmo.

Olho para os cabelos castanhos claros de Adam ao meu lado e sorrio. Esse cara que costumava ser meu melhor amigo de porta andava estressado e sensível, sem me dar nenhuma chance de redenção. Eu não sabia mais o que fazer pra recupera-lo sem manchar meu histórico. Somos todos atores fazendo parte da mesma peça, e temos que dançar conforme a música, seguir os padrões.

– Você vai assistir ao jogo de lacrosse? – Ele perguntou mexendo no chaveiro da mochila cheia de desenhos feitos com canetinha hidrográfica. Meu nome ainda estava assinado lá. Encarei minha mochila de couro bege no banco de traz e sorri. Quando foi que nós dois fomos parar em mundos tão diferentes?

– Bom, o Jake vai jogar, então...

– Claro, o Jake, eu esqueci que você é a cachorrinha do Jake– Ele murmura – Eu te vejo lá então?

– Sim. Vou torcer por vocês. E Summers, cuidado com a boca, posso te colocar no topo, mas não me irrite, ou vou te rebaixar ainda mais.

Ele ri e depois me encara.

– Ally...

– O que?

– Me desculpe por não ter ido a sua festa de aniversário, fiquei sabendo que a sua mãe fez tacos.

– Tá tudo bem, mesmo.

– Não infle o seu ego, Ally, é uma pena para mim, adoro os tacos dela – Meu sorriso fica ainda maior – Agora que você tem dezoito, tá sentindo alguma coisa estranha?

– Estranha como?

– Sei lá, só estranha.

– Sim, pra falar a verdade tem uma coisa muito estranha... – Ele se vira de novo e eu rio com sua expressão de curiosidade – Bom, é você. Você tá muito estranho.

– Ah, qual é – Adam sorri e eu junto as sobrancelhas. O que estaria acontecendo comigo que Adam poderia saber e ajudar? Eu poderia contar da sombra da janela e do vulto em meu quarto? Poderia contar das pequenas mudanças que estou sentindo no meu corpo? Ou era melhor conversar sobre isso com Jessica e Hazel? Jess me acharia uma retardada e Hazel diria que só estou distraída – Quais são os planos para a tarde?

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now