16. Vamos esclarecer as coisas

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— O que você tem na cabeça, Allyson? — Jordan grita mais uma vez quando aterrissamos na frente de um galpão fora dos limites da cidade.

Eu mal consegui colocar o pé no chão e quase caí por causa disso, mas ela passou o braço ao redor da minha cintura de novo. Minha cabeça latejava e ardia onde a faca tinha rasgado, na linha da mandíbula. A dor era causticante e insuportável, estava queimando minha pele.

— Entra — Ela diz depois de abrir a porta e reprimo um suspiro de espanto quando percebo que a aparência dentro do galpão não era nada parecida com a de fora, era como se fosse uma camuflagem.

Os móveis eram todos em tons de branco ou preto, era todo sofisticado, arejado e... rico?

— Você mora aqui?

— Não, moro dentro de uma árvore – Ela desdenha – É claro que moro aqui.

— Não precisa me ajudar se não quiser — Reviro os olhos e faço uma careta quando sinto dor nas costas, ela me leva para um quarto. Logo percebo uma folha de papel em cima da cabeceira da cama e sei bem do que se trata — Entendo que sou um peso pra você, que você gostaria que eu fosse mais como sua Adina, então me desculpe.

Se ela me escuta, resolve ignorar.

— Preciso ver o que é isso, mas só a Hazel pode ter certeza — Eu sabia que ela só estava tentando amenizar a situação, e não falei mais nada.

Jordan sai do quarto pisando duro e eu me assusto quando ela fecha a porta com força. Ok, o que diabos eu fiz? Tudo bem que não foi o melhor plano do mundo, mas caramba, eu estou bem, certo?

A folha de papel em cima de sua cabeceira, eu noto, é a parte do livro que dei a ele naqueles primeiros dias, quando tudo ainda estava relativamente bem se comparado à hoje.

— Tudo bem, vem aqui — Escuto sua voz e me viro como se tivesse sido pega no flagra.

Jordan tinha uma bacia no colo e um pano branco na mão. Dentro da bacia estava um líquido branco meio aquoso. Quase reclamei, mas percebi que não estava em posição de negar nada que fosse me ajudar agora.

— Qual o problema? — Perguntei — Pelo menos eu fiz alguma coisa, investiguei. Só escolhi os alvos errados.

— Alguma coisa estúpida.

— Olha Jordan, eu até admiro sua paciência, mas não consigo ficar parada esperando mais alguém morrer.

— Você não entende, Allyson, são coisas que não podemos controlar. Tem ideia do risco que correu?

— Tenho, mas decidi correr o risco mesmo assim.

Jordan molhou o pano e passou no meu pescoço, tirando a sujeira dali, logo passou para o rosto e depois para os ombros.

– Você não precisa tentar ser igual a Adina, já são bastante parecidas, ainda mais na teimosia e na forma cega de agir – Seus olhos normalmente inexpressivos aparentam uma forma preocupação – Eu não aguentaria... perder você de novo, é demais pra mim.

— Eu tô bem, e não vou fazer isso de novo, da próxima vez vou pensar melhor — Seguro sua mão e algo acontece.

Consigo ver aquilo de novo, um círculo fraco de sentimentos ao redor dela. Algumas partes transcendem mais que outras, e consigo ver as várias versões de mim mesma em um canto escuro.

— Allyson?

— Desculpa, não consigo controlar.

— O que você viu?

— Sua alma — Não percebi o que tinha falado até as palavras saírem da minha boca — Isso é estranho.

— Ótimo, começou a se curar — Ele diz aliviado e volta a me limpar, mas com as sobrancelhas franzidas. Nem precisei perguntar quando ela começou a falar — Eu me lembro da primeira vez que te vi, da primeira vez que vi a Adina. Eu nunca tinha visto nada tão perfeito. Me lembro de pensar que precisava de você ou morreria. E então você sussurrou que me amava, eu me senti tão em paz e segura, porque eu soube que fosse o que fosse, daquele dia em diante nada poderia ser tão ruim porque eu tinha você, mas...

Flor da meia-noiteOnde histórias criam vida. Descubra agora