29. A chave

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— Preciso que você acorde.

Os gemidos audíveis ecoavam pelo corredor. Gemidos de dor, de arrependimento, de medo. Meu coração está acelerado, e ainda penso no que acabei de presenciar. O horror de seus olhos dourados me encarando com tal ferocidade que me deixou apavorada, as presas saindo de sua boca, brilhando contra a luz forte. Bruxas se revelando. Mortos voltando a vida. O sangue nas minhas mãos. O que foi que eu fiz?

— Jamais esqueça quem você é — Sussurro ajoelhada no chão.

— Allyson, corre! — Alguém grita, o som é distante e não ouso me levantar. Não consigo parar de encarar o sangue em minhas mãos, e o corpo inerte de Jordan no chão da biblioteca. Tudo de novo não — O que você ainda tá fazendo aí? Corre! — Sou arrastada pra fora da sala.

— A gente fez um acordo!

— Os Arcanjos não estão aqui — David. É o David.

— Eles têm que estar — Consigo me soltar e me ajoelho novamente — Me perdoa, volta pra mim. Jordan, volta pra mim.

— Eles estão chegando. Corra!

— Arcanjos?

— Não, Allyson, os caídos estão vindo te pegar.

Alguns Dias antes:

— Você sabia o tempo todo, salvou a vida da Adina — Sussurro para Kaleesa enquanto esquento minhas mãos, as envolvendo na caneca de chá — Você sabia que tudo isso ia acontecer.

— Eu sempre fui diferente das Bruxas que viviam em Riverland, sempre tive uma certa fé nas histórias que me contavam. Então um dia tive uma visão durante a noite, de uma guerra, e de sangue preto pingando na neve. Sabia o que queria dizer, e sabia que aquele não era o fim, e mesmo depois da maldição, quando todas as pessoas que viviam no Castelo ficaram presas, eu conseguia sair. Ainda tenho fé no mundo, no nosso mundo.

— Você coloca toda a sua fé em alguém que não tem a menor ideia do que está acontecendo.

— Minha fé nunca erra.

— Adam acha que vou ganhar essa guerra, mas nem sei contra quem estou lutando.

— Muita gente te quer morta.

— Bom, isso não é nenhuma novidade — Deixo o sarcasmo bem evidente na minha voz e coloco minha caneca na mesa de cabeceira ao lado da minha cama lamentando de dor de cabeça — Por quê?

— Uma ordem social foi formada há muito tempo, Ally, os Caídos chegaram primeiro na Terra, e vocês foram criados a partir deles, serviam a eles. Então você nasceu, e Riverland cresceu enquanto você crescia. Você quebrou isso, você lutou, e você amou quem não deveria amar. Você é uma fagulha de esperança, e os Arcanjos não gostaram nada disso, além de uma Profecia dizer que você ia acabar com tudo, e mesmo que acabar com os Caídos significasse o fim da escuridão, também significaria o fim dos Nephilins, o fim de uma raça que os intrigava por também nascer da luz. Sem caídos, sem novos nascimentos, e o fim de uma linhagem longa.

— Mas por que eles precisavam dos Nephilins? Por que não deixar a coisa rolar e a Terra ser limpa novamente.

— Você realmente não sabe o poder do sangue de um Nephilim puro? — Kaleesa indaga, olhando para mim com seriedade — Você não sabe de nada?

— Ninguém nunca quis me contar.

— Dizem que o sangue de um Nephilim tem capacidades mágicas, e quanto mais puro melhor, o sangue de Nephilim que nasceu de um Caído original era o mais poderoso deles. Havia um Anjo Caído, que todos acreditam ser o primeiro deles.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now