41. Vida cega e inconsciente

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Jessica me deixou na colônia da Ballard ao invés de me deixar em casa, afinal eu precisava pegar meu carro. Jordan não desce comigo, e mal me encara, mas aposto que me esperaria na poltrona do meu quarto quando eu chegasse. Jake me prometeu que conversaríamos sobre aquele assunto. Eu sabia o que era, mas me recusei a responder.

David destrancou meu carro e me entregou a chave. Suspirei quando não vi vidro nenhum protegendo a janela. Sorte a minha que o campus era bem seguro quanto à furtos, ou estaria sem locomoção a essa altura. David ficou surpreso quando não entrei no veículo, e sim passei por ele entrei no prédio. Pouco tempo depois, ele sobe as escadas atrás de mim e me encontra na porta. A abre e então entramos.

Eu sabia que deveria ir para casa, mas tinha assuntos a tratar com ele. Tinha que saber se ele tinha encontrado a Caixa.

— Posso tomar um banho?

— Claro, claro — Ele logo vai atrás de uma toalha, um moletom e aponta o banheiro, feliz em ser útil — Quer conversar?

— Não — Sigo a passos pesados até a última porta do curto corredor.

Ligo o chuveiro e deixo a água quente correr pelo corpo até o ralo, tentando fazer com que ela me limpe de toda sujeira da minha mente. Mas isso não acontece. Assim que fecho os olhos, as visões chegam. O homem de olho vermelho, chegando perto, usando uma espada grande para acertar meu coração e drenar meu poder para si.

Abro os olhos, mas o sufoco no meu peito não desaparece, aquela dor que parece quer me rasgar de dentro pra fora, que me consume e que me cega, ela não escorre pelo chão.

Visto a roupa do David, uma camisa preta que vai até a coxa e uma calça de moletom cinza que tenho que dobrar a barra pra não tropeçar, mesmo sendo alta, ele é mais. E assim eu já me sinto infinitamente melhor. Os frascos que roubei fazem barulho no jeans, e eu o dobro bem antes de deixa-lo em cima do sofá.

— Seu celular está no balcão — David comenta quando reapareço na sala — Liguei para sua mãe e avisei que está tudo bem, mas ela quer que vá ao hospital.

— Obrigada.

— Ela parecia preocupada.

— David, eu não...

— Eu sei, me desculpa — Ele toca meu ombro e diz com uma voz tão mansa que me acalma de meus pensamentos impróprios — Fiz um chá, precisamos conversar.

Sentamos nos sofás, um de frente para o outro, e eu uso a caneca pra esquentar as mãos. O frio nunca me deixa, nunca vai embora. David parecia tenso e eu já sabia do que se tratava, quase sorri. Quase, porque até sorrir doía depois do que passamos.

— Segui suas pistas.

— Imaginei que seguiria, me preocupei por não ter dado tempo de te passar a chave, mas fico feliz que tenha conseguido — Bebo um gole do chá e fecho os olhos.

— Mas eu entreguei a Caixa ao Adam.

— Eu sei.

— Como?

— Aquela Caixa era falsa — Digo com calma e ele franze as sobrancelhas — Eu nunca deixaria a Caixa de Pandora tão exposta, é valiosa demais. Foi tudo proposital. Eu sabia que se dissesse que não, você iria atrás para tentar me salvar. Agora Adam vai ficar ocupado um tempo tentando descobrir como abri-la e a gente pode se concentrar em outra coisa. E eu precisava entrar para checar onde estavam os Nephilins.

— Mas... meu Deus, Ally, você me manipulou de novo, tá vendo isso? E se eu não fosse? O que você faria?

— Eu sei que iria, esse é o tipo de coisa que você faz — Deixo a caneca na mesinha e vou até ele, me ajoelho na sua frente e pego suas mãos — David, não perca de vista quem você é. Você é doçura e luz. É por quem eu me apaixonei, por quem a próxima garota vai se apaixonar. Então não fique empilhando tragédias, eu mais do que ninguém sei que isso não vale a pena.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now