6. Asas. Magníficas... asas

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— Allyson! — Escuto a voz de Jake, mas não ouso me virar e quebrar o contato visual, sequer consigo. É impossível desviar o olhar de Jordan agora.

A beleza e o brilho daquelas asas pareciam mágica. Me hipnotizando, me guiando. Nunca acreditei muito em magia ou nessas coisas sobrenaturais que nos contam em histórias. Acho que a maioria das pessoas não acredita, na verdade. Afinal, são histórias contadas para que as crianças não conversem com estranhos na rua e nem saiam de noite sem os pais. As séries de televisão? Universos criados para nos entreter. Anjos eram apenas estátuas de igrejas cheias de ouro e histórias tiradas de um livro que não tinha fatos comprovados.

Porém aquilo, a luz... aquilo era real, eu sentia que era real. Senti um profundo e inexplicável desejo de estender a mão e tocá-las, mas meus dedos passaram direto, como se eu estivesse tocando um holograma.

Quer dizer, aquilo poderia ser facilmente um holograma, certo? Não era magia.

— São só essência — Jordan explica ao notar minhas sobrancelhas franzidas por não conseguir toca-las — Não são penas de verdade, como as de pássaros. Nossas asas estão em sentido espiritual elevado. Humanos não são capazes nem de enxergar, então se você pode ver, é mais uma prova de que é especial.

— É tão... lindo — Sussurro extasiada, incapaz de expressar nada menos que adoração.

Me aproximo cada vez mais da luz, ela está quase me cegando agora, mas não me importo, porque tem algo me puxando, como ímã. Não consigo pensar em mais nada além disso, é de onde eu vim, é onde eu pertenço, como se de repente me entregassem óculos limpos para enxergar o mundo à minha volta.

— Ally, cadê você?

Jordan se vira de repente, e voltamos para a escuridão. As asas somem, e foi como se desligassem o interruptor de algo dentro de mim. De repente estou de volta a mim, ao meu corpo, ao acampamento e à viagem de biologia. Ela veste a camiseta, e no segundo seguinte muitas lanternas apontam para nós.

— Ah, graças a Deus, que susto — Jake suspirou vindo ao meu encontro.

— Ei, o que aconteceu? — Hazel me abraça e alterna o olhar entre mim e Jordan. Não sei do que Jake está falando, e Hazel percebe a minha confusão — Como veio parar tão longe?

— Estou bem.

— Ouvimos você gritar — Adam explica — Todo mundo ouviu, o que é estranho porque estamos longe demais do acampamento.

— Eu caí — Explico.

Jake me abraça com força e me dá um beijo na testa depois de colocar um cobertor sobre meus ombros. Só agora percebi o quanto estou tremendo, e isso me assusta.

— Eu juro que estou bem.

— Você tá congelando, baby. Ei, o que vocês duas estavam fazendo aqui? Você a derrubou? — Ele aponta para Jordan e instintivamente me vejo entrando em sua frente, ficando entre os dois.

Jordan consegue ser um pouco mais alta que eu, e é da mesma altura de Jake, então eu estar tentando protegê-la de alguma forma parece patético, é algo que eu nunca faria. E de verdade, o que eu estou fazendo? Eu não gosto dela, de jeito nenhum. Ela é estranha pra caralho, sempre andando nas sombras e me encarando. Enquanto Jake tinha um cabelo claro e olhos castanhos, ela deixava os cachos negros caírem sobre os ombros, e os olhos não ficavam para trás. Além disse, esconde segredos como ninguém.

Eu não deveria me meter com alguém como Jordan Benacci, mas estranhamente, eu queria.

— Foi ela quem me achou, eu estava perdida.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now