33. Isso é magia, Allyson

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O dia seguinte começa com um borrão.

Acordei na minha cama, com a perna ainda latejando e o coração apertado. Eu tinha feito merda, muita merda. Jordan mal havia me deixado e pulei nos braços de outra pessoa, como uma menininha indefesa só porque ele salvou a minha vida, e sei que isso não é pouca coisa, mas não tinha passado nem uma hora desde a mensagem de Jordan, ou tinha? O tempo parou enquanto David conversávamos naquele abrigo esperando o ataque passar.

O ataque!

Me levanto em um salto tentando não reclamar da dor de cabeça que chega como um raio e vou atrás do meu celular. Tive medo de o ter perdido na confusão, mas lá está ele, em cima da escrivaninha. Com os dedos trêmulos, disquei os números conhecidos do telefone da Jess. Ela atendeu no terceiro toque, tempo suficiente pra eu roer as unhas de ansiedade.

— Oi! Você tá bem? — Ela grita e eu quase choro de alívio ao ouvir sua voz.

— David me tirou de lá a tempo, e você?

— Eu já estava nos fundos quando aconteceu, consegui correr.

— Graças a Deus, fiquei com tanto medo de... perder você de novo — Suspirei com a mão na cabeça sentindo aquela enxaqueca miserável.

— Parece que você ganhou um novo anjo da guarda — Jessica disse para disfarçar. Ela nunca foi boa com sentimentos, um bom exemplo disso é o Adam, mas não só ele. Ela nunca falou pra gente que nos amava, eu e Hazel, e nunca foi de demonstrar muito carinho. Era dura feito uma pedra.

— A gente... — Penso no que vou dizer, se vale a pena contar tudo, afinal ainda não decidi nada, se o que vivi ontem com o David foi um sonho, se realmente a ideia de tê-lo comigo era válida, porque me parece absurda, mas ao mesmo tempo assustadoramente válida. Checo o celular, nenhuma mensagem de Jordan ainda, volto ele à orelha — A gente se beijou.

— Allyson! Se for pra trair a Jordan, que seja pelo menos com alguém que use condicionador no cabelo de vez em quando.

Gargalhei, tá aí, era por isso que eu amava a Jess, porque não importava o quão mal você estava, ela te fazia rir. A dor de cabeça voltou.

— Jordan foi embora ontem — Conto, assumindo um tom melancólico — Disse que vai me dar a minha melhor chance, que eu mereço ser feliz e ter uma vida normal.

— Nossa, eu nem sei... nem sei o que dizer.

Bom, isso é uma novidade.

— Eu tô confusa, Jordan e eu temos uma história, nossas almas estão conectadas de um jeito que eu não sei explicar, mas o David me faz bem, ele cuida de mim. Ah Jess, não sei mais o que fazer, sinto falta da minha sanidade.

— Eu te entendo, e acho que precisa de um café — Sorrio concordando e me levanto procurando uma roupa, já que ainda estou com a de ontem, e a camisa dele ainda está enrolada no meu tornozelo — Eita, o jornal da manhã já tá falando sobre ontem.

— Merda — Paro estática de frente para o guarda-roupa.

— O quê?

— Meus pais sempre assistem o jornal da manhã antes de irem para o trabalho.

— Allyson Hale! — Os dois gritam no andar de baixo e me encolho.

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O café estava cheio de gente como sempre. Todos vinham para cá, tanto pela música boa, os livros, e claro, o melhor capuccino da cidade. Encontrei Ruth sentada com Kate no canto, as duas pareciam abaladas e decidi me aproximar. Ruth chorava baixinho e Kate a consolava.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now