42. O cadáver de Allyson Hale

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O galpão está quase cheio a essa altura, alguns Nephilins do Peter já se juntaram a nós, os outros permaneceram treinando, pois ainda não confiam plenamente em mim. E sei que dei motivos para isso, os deixei por meses quando prometi voltar com uma salvação.

Jordan e David também apareceram mesmo tendo compromissos, Jordan com a academia de polícia e David com a universidade. Mais uma vez admiro a coragem dos dois, o amor dos dois, são tão diferentes, mas ao mesmo tão parecidos e nem se dão conta disso. Talvez seja melhor assim.

Kaleesa, Miriel e Kyla conversam em um canto. Jake, Nick e Daniel discutem em outro canto, e sei que estão falando de mim, já que a garota não para de me jogar olhares desconfiados. Nick e Daniel pareciam ter uma conexão incrível, como uma linha invisível juntando os dois, como se dançassem uma mesma música que ninguém mais pode ouvir.

Hazel não está aqui, e sinto um vazio no peito, como se algo tivesse sido tirado de mim sem aviso prévio. Quer dizer, já fazem duas semanas. Preciso da minha Anjo de Luz, é ela quem me dá forças.

Peter ainda conversava com o conselho no andar de baixo, o andar onde a vida Nephilim fluía constantemente, como água descendo de uma cachoeira, sem parar, sem dormir. Chamam de Fosso, é lá onde acontece praticamente tudo. A última vez que desci no Fosso foi para anunciar que eu partiria.

Minha cabeça doeu de novo e eu tratei logo de tomar um comprimido. Não podia arriscar que as visões chegassem enquanto eu falava.

Jess entra no galpão e olha ao redor, vasculhando o local até que me encontra. Ela anda a passos leves, porém decididos, até mim.

— Como ela está? — Pergunto logo de cara.

— Oi pra você também. Bom, um pouco melhor, mas ainda de cama, pelo menos não está como uma louca querendo vingança como você.

— Ah Jess, me diz por que eu sempre ferro com tudo? — Cruzo os braços e apoio as costas na parede.

— Não sei, mas você parece ser realmente muito boa nisso — Um sorriso escapa de seus lábios, é o que me deixa mais à vontade — Então, por que estamos aqui afinal?

— Tenho algo a dizer, andei pensando muito e cheguei a uma conclusão.

— Vou querer saber?

— Provavelmente não, mas vai ouvir assim mesmo.

— Tudo bem, digníssima soberana — Sorrio e ela mexe no meu cabelo — Ah, você não me disse o que está planejando para o seu aniversário, já que não estava aqui no último porque estava dando uma de nômade na Grécia, imaginei que pudéssemos fazer alguma coisa.

— Se eu estiver viva até lá a gente dá uma festa.

— Você é demais, garota — Ela ri e eu peço licença antes de me afastar.

Massageio as têmporas e sorrateiramente pego mais dois comprimidos dos frascos que peguei no hospital, engulo sem água mesmo. Coloco as mãos na parede e abaixo a cabeça tentando fazer com que as vozes sumam. O mundo gira ao meu redor, o suor se acumula em minha testa e fecho os olhos. Não consigo andar, não consigo falar. Tudo está em câmera lenta.

Uma mão em minhas costas me traz de volta à realidade.

— Ei, você está bem? — Jordan pergunta, e eu me agarro a ela como se ela fosse o centro de paz do meu furacão interno. E, na verdade, ela não é exatamente isso? — Calma, respira.

— Eu tô bem.

— Não tenho tanta certeza disso. Respira, Flor.

— Não consigo mais fazer isso.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now