18. Adina Hale

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— Tem certeza que quer fazer isso, Flor? — Jordan diz andando em círculos pelo grande deposito do galpão abandonado em Liechtenstein.

O espaço, apesar de ser enorme, é sufocante e nada convidativo. Acho que essa era a ideia da camuflagem. As janelas são sujas, o que mal permite a entrada de raios solares. Não que haja raios solares agora porque está anoitecendo, mas vale a pena ressaltar. Caixas e pallets estão espalhados pelo local e tudo parece ter mofado há muito tempo.

— Eu preciso. Só assim vou entender o que tenho que fazer.

— Tá, mas não tem volta.

— Eu sei.

— Será como uma guerra dentro de você.

— Eu sei – Sorri de novo.

— Será como...

— Jordan — Pego sua mão e a aproximo do meu peito, apoiando o queixo nela em seguida. Sua pele na minha me esquenta e me dá a sensação de segurança que preciso — Obrigada por me deixar tomar essa decisão sozinha.

— O que disse?

— Obrigada — Franzo as sobrancelhas.

— Que gosto sentiu ao dizer essa palavra?

Eu ri.

— Um gosto terrível.

— Ally, estamos prontos — Adam diz de uma porta no canto e eu respiro fundo.

— Me deseje sorte — Suplico encarando os olhos escuros de Jordan.

— Você não precisa, é a Filha da Profecia.

Só assim eu solto sua mão, sentindo um inexplicável vazio de repente. Como se tudo que eu precisasse naquele momento era ele, e só ela. Jordan parecia ser o alimento da minha alma, eu me sentia uma completa inútil sem ela do meu lado. Uma garota sem identidade.

Me lembrei de como ela havia ficado ao atacar David, de como me senti com medo. E logo depois me lembrei de como ela tinha ficado assim que a toquei. As asas voltaram ao dourado. O círculo de emoções e lembranças ao seu redor se tornou quase puro de novo e seus olhos voltaram a ficar escuros e misteriosos. Ela olhou para mim e aí tudo parou, a sala inteira congelou e ela largou David no chão, que correu como um cachorrinho abandonado.

— Temos que pegar ele — Jordan disse ainda olhando para mim.

Apertei seu braço um pouco mais forte.

— Hoje não. Sei o que fazer, e preciso que me deixe fazer isso.

O complexo abaixo da construção era incrível. Todo equipado com a maior variedade de armas e tecnologia. Me dei conta que Peter era apenas o cavalo em um jogo de Xadrez, e nós os peões. Tinha vários espaços de treino, como se fossem ringues. Algumas pessoas treinavam umas com as outras, e aquele barulho rotineiro de gente brigando tomava conta do ambiente: gemidos, respiração ofegante, socos e facas cortando o ar enchiam o ambiente.

Era reconfortante, mas ao mesmo me deixava ainda mais nervosa do que eu já estava. Eu ficaria assim? Sempre me imaginei jogando vôlei na faculdade, com um monte de amigas sentada no jardim, não em um centro de treinamento, sem saber o que me espera no dia seguinte.

Eu sentia Jordan atrás de mim, me protegendo, me vigiando, me amando. Ainda não tinha superado aquelas três palavras que ela tinha dito com tanta facilidade. E embora eu soubesse disso lá no fundo desde o momento que ela me contou sobre as vidas passadas, ainda foi estranho ouvir aquilo de alguém que não fosse o Jake.

Ah Jake, eu sentia tanta falta dele que chegava a doer, sentia falta de mergulhar em seus olhos azuis, de sentir seu cabelo macio entre meus dedos, sentia falta da voz dele. Mas ao mesmo tempo eu sentia que tinha conseguido seguir em frente, que ele esteve comigo em uma fase da minha vida e que agora estava começando outra sem ele, e que tudo bem começar.

Flor da meia-noiteTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon