8. A historia toda? Acho que não

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Na segunda-feira, o colégio parecia um local diferente, todos eram uma suspeita. Eu estava apavorada, e tentava encontrar em todos os rostos olhos como aqueles, ou uma cicatriz na bochecha, qualquer coisa. Foi quando senti um toque no meu ombro me virei com uma caneta na mão, na intenção de usar como uma arma patética, mas era só o Jordan, então relaxei, voltando a atenção para o meu armário.

— Ia perguntar se você estava bem, mas tô vendo que não. Tá tentando me matar com uma caneta bic rosa.

— Na verdade eu estou com medo, e alerta. Além de que, ganhei um belo de um curativo, quer assinar minha mão?

— Vai ficar tudo bem.

— Você não devia falar comigo, achei que Jake tinha deixado isso bem claro — Fecho meu armário com força e seguro os livros contra o peito, seguindo meu caminho para a aula.

No sábado, Jake apareceu lá em casa para ver como eu estava e deu de cara com Jordan na minha poltrona, eu ainda estava meio sonolenta e sem saber se o que vi era real, mas seus gritos me acordaram na hora. Ele acreditou quando falei que não fazia ideia de o porquê de Jordan estar no meu quarto, e era verdade, mas o olhar nada amigável que Jake lançou a ela meio que assustou até a mim. Ainda mais depois de dizer que eu não gostava dela de forma alguma, então o que ficou parecendo era que Jordan era obcecada por mim e entrava no meu quarto sem a minha permissão.

— Ele não me intimida, eu sou...

— Um Anjo, é, eu sei — Completo ainda meio atordoada sobre o fato de eu ser uma "aberração" — Depois eu preciso conversar sobre uma coisa que aquele Caído disse.

Nem notei quando minha boca pronunciou a palavra. Caído. Inconscientemente soube o que aquele cara era, senti a escuridão em cada centímetro do meu corpo. Agora eu sabia.

— Claro, é só falar quando e onde.

— Você é bem bipolar, é pra eu falar com você ou não?

Jordan ri e me para no corredor, apoiando um dos ombros na parede bege e colocando a mão que está livre do caderno no bolso da calça jeans surrada. Eu preferia que ela não sorrisse. Pois não quero ficar achando ela bonita. Ela parecia uma daquelas estrelas do rock dos anos noventa, e isso me deixava desconfortável na presença dela. Ela não parecia se encaixar bem nesse século, nessas roupas. Jordan não devia andar por aí desse jeito tão sugestivo, exalando tanta sensualidade. E já tinha chegado aos meus ouvidos que as meninas sáficas da escola estavam dando mole pra ela na aula de educação física.

Isso não me incomoda nem um pouco.

— Eu só não posso me envolver demais, é complicado. Meu dever me limita, mas gosto de andar com você. Se quiser conversar sobre isso é só me falar que eu já conheço o caminho da sua janela.

Dessa vez sou eu que rio a acabando relaxando. Jordan pisca para mim e então entramos juntas na sala de inglês. Eu acho que disfarcei muito bem o quanto minhas pernas ficaram bambas com isso.

Todos estavam nos lugares de sempre, conversando em uma altura bem alta já que a Senhora Grunwald ainda não tinha chegado. Os olhares foram diretamente para mim, e depois pararam no Jordan ao meu lado. Xingo baixinho, me sento na frente de Jess e jogo os cadernos na mesa, ainda meio desajeitada.

— Que azar ter machucado a mão esquerda, vai ter que copiar.

— Jessica, eu fui atacada, não tô nem aí para que mão eu machuquei — Resmungo, mas percebo que pareceu rude e me viro com um pedido de desculpas na ponta da língua, mas ela está sorrindo.

— Graças a Deus, você voltou.

— Quê?

— Sabe que amo você cruel, já estava com medo de você ter amolecido, predadora. Mas e aí, como está o corte? — Olho para gaze em minha mão e a tiro devagar, deixando Clove olhar. Não está mais tão ruim, talvez cicatrize em duas semanas, se eu tiver sorte, e tudo isso porque segurei aquele maldito caco de vidro forte demais – Que pena, vai ter que ficar no banco hoje.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now