38. A nova ordem da esperança

18 4 1
                                    

Não dormi muito bem aquela noite, na verdade, não dormi nada bem aquela noite. Tive vários sonhos que me fizeram acordar ofegante várias vezes, eles estavam me atormentando há muito tempo e eu não sabia como fazê-los parar. Mas o pior de tudo eram as lembranças, com os treinamentos pesados, as memórias perdidas voltaram. Não só memórias de Ellicot ou do acampamento perdido, mas todas as memórias, memórias das garotas antes de mim.

Todas as formas das quais eu havia conhecido Jordan me dominavam por completo e eu estava enlouquecendo com isso. Eu não só me lembrava, eu sentia a paixão. Parece que foi ontem quando ela deu em cima de mim em um show de rock, ainda nem tínhamos celulares para trocar mensagens, e ela me chamou para encontra-la no parque em Amsterdã.

Lembro-me de ter ficado encantada, e também me lembro da roupa horrível que usei. Como nós usávamos aquelas roupas há alguns anos era um mistério para mim.

Passei as mãos pelo cabelo e suspirei pela milésima vez. Minha cabeça estava cheia, e não acho que caiba mais alguma informação aqui, mais alguma morte, mais algum...

— Hey, tudo bem? — Jordan pergunta abrindo um olho só. Sorrio e ela se senta como eu.

— Desculpe, foi só um pesadelo. Ahn... de novo.

— Tudo bem, Flor, uma hora isso vai acabar, e quando isso acontecer, nada mais vai te assombrar, porque eu não vou deixar.
— Esse é problema, J. Não sei se vai acabar, e não importa o que eu faça, sempre vou sentir o sangue em minhas mãos quando for me deitar.

— Tenta dormir um pouco, eu tô aqui, ok?

Ou Jordan não sabe de nada, ou ela interpreta muito bem, porque não importa o que eu diga, nada vai mudar a forma como as coisas são.

Sinto-me mal por mentir para ela de novo, mas acabei de reencontra-la, como eu poderia estragar o momento contando tudo o que eu estava planejando fazer? Contar que eu de novo, partiria em uma missão suicida sem ela. Todos estavam confiando em mim, e eu não podia falhar de jeito nenhum.

Me aninhei ainda mais em seus braços, sentindo o cheiro doce que vinha do seu cabelo.

— Escuta, mesmo que eu encontre outra pessoa, mesmo que você encontre também, é você. Sempre foi você e sempre vai ser você. E eu não sei onde estava com a cabeça quando eu dizia que não era.

— Eu sei, Allyson, eu sei — Jordan beija minha testa e volta se deitar. Sorrio quando ela me abraça pela cintura, como era acostumada a fazer, como naquela noite em 1998.

Depois de um tempo, me certifico de que ela pegou no sono novamente e me levanto, indo em direção ao guarda-roupa. Deslizo a porta para o lado e tiro a tábua solta do piso do móvel, revelando um punhado de roupas que deixei ali, coisas de Riverland que eu insisti em guardar.

Peguei a camisa vermelho-escura e quase chorei de alívio quando senti o objeto no qual ela estava envolvendo. A caixa era pequena, mas poderosa, gosto de pensar que ela é como eu. As engrenagens começaram a rodar quando toquei na superfície irregular daquele objeto tão significante. Rapidamente enrolei na blusa de novo e me levantei.

Eu estava mesmo sequer cogitando essa ideia completamente insana? Aquela caixa valia mais que o mais raro dos diamantes e estava em minhas mãos. Aquela minúscula caixa.

Desci as escadas na ponta dos pés e peguei a chave do meu carro no meio das outras penduradas na parede. Para a minha sorte, meu antigo carro não estava dentro da garagem. O liguei e só acendi os faróis apenas quando estava no fim da rua. Mandei uma mensagem para a pessoa que poderia me ajudar agora sem ficar me julgando. Prometi que nunca mais faria algo sem seu consentimento de novo.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now