28. A última dança

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Há muitas praias no estado. A de Beach Valley, provavelmente, é uma das menos populares, razão pela qual, é claro, é uma das preferidas de minha mãe. O mar aqui é mais forte que em Willard ou em Sunset End. Não sei ao certo por quê. Não me importo, sempre fui uma boa nadadora.

Depois daquela primeira vez, quando minha mãe soltou minha cintura e senti ao mesmo tempo o pânico crescente, a empolgação e o entusiasmo, aprendi bem rápido, e aos seis anos eu já estava nadando sozinha depois da arrebentação.

Há outras razões pelas quais as pessoas evitam a praia em Beach Valley, embora fique bem perto de Promade Park, um dos parques mais populares, a praia não passa de uma faixa estreita de areia com pedras e cascalhos.

Não me sinto nervosa até chegar à praia. Apesar de o sol estar baixando atrás de mim, ele ilumina a água e faz tudo brilhar. Protejo os olhos da claridade e vejo David perto da água, uma longa pincelada escura naquela vastidão azul.

Volto à noite anterior, aos dedos de uma de suas mãos tocando minhas costas com tanta delicadeza que era como se eu estivesse sonhando, e sua outra mão segurando a minha, seca e confortante como um pedaço de madeira aquecido pelo sol.

Ele está de costas para mim, olhando o mar, e eu fico feliz. Sinto-me pouco à vontade ao descer os degraus instáveis e corroídos pela maresia que levam do estacionamento à praia, parando para desamarrar e tirar os tênis e pegá-los com uma das mãos. A areia está morna sob meus pés descalços enquanto caminho em sua direção.

Há outras quatro pessoas na praia: uma mãe com uma criança, a uns trinta metros de distância, a mãe sentada em uma cadeira dobrável de tecido desbotado, com o olhar perdido no horizonte, enquanto a menina, que provavelmente não tem nem três anos de idade, brinca nas ondas, ela é derrubada, solta um grito (de dor? de prazer?) e se esforça para se levantar. Mais adiante, um homem e uma mulher caminham juntos.

E então me aproximo de David, que se vira, me vê e tenta sorrir. O sol reflete no cabelo dele, deixando o castanho um pouco mais claro por um instante. Em seguida, ele volta à cor normal.

— Oi — Diz ele — Que bom que você veio.

Sinto-me tímida de novo, idiota, segurando meus tênis gastos em uma das mãos. Posso sentir minhas bochechas se aquecendo, então olho para baixo, solto os tênis e os viro com o dedão do pé. Qual é Ali, ele é só mais alguém que faz parte do plano.

Trago as pernas até o peito, apoiando o queixo no joelho. David deixa um bom espaço entre nós, quase um metro, posso imaginar o porquê. Ficamos em silêncio por alguns minutos. No começo, busco desesperadamente alguma coisa para dizer. Cada segundo de silêncio parece estender-se infinitamente, e eu tenho a certeza de que David deve pensar que sou muda. Mas então ele pega uma concha parcialmente enterrada na areia e a joga ao mar, e eu percebo que ele não está nem um pouco desconfortável. Depois disso, relaxo. Sinto-me até feliz com o silêncio.

— Sei que ouviu o que eu disse ontem.

— É, eu ouvi.

— Então porque me ligou?

— Na verdade, eu não sei — Ele se vira novamente para o mar e fica assim por mais algum tempo — Por quê? Por que a Hazel?

— Tenho que perder os vínculos com a Allyson, varrer a sujeira.

— Você erra — Ele diz — Eu gosto de você, Ally, mas você erra ao achar que mesmo... Não sei. No fundo você sabe que não precisava matar ela.

— Já está feito — Sussurro — A Hazel já era. Ah David, você já passou por isso, já teve a sensação de se sentir invencível.

— E aí você me salvou.

Flor da meia-noiteWhere stories live. Discover now