A Ladeira da Memória

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N/A: Olá queridos Karas! Este conto para mim está muito, muito especial por vários motivos. Fiquei muito feliz com a versão final dele, e espero de coração que vocês gostem. Tudo o que eu escrevo, escrevo com o coração, mas este foi mais especial ;) ♥

Boa leitura!

"Agora, por exemplo, corpo e alma estão juntos num ponto de estrada, como duas patrulhas que se reencontram após uma ação de vanguarda da terra da Memória, e ficam juntos, atentos, como na porta duma guarita"

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"Agora, por exemplo, corpo e alma estão juntos num ponto de estrada, como duas patrulhas que se reencontram após uma ação de vanguarda da terra da Memória, e ficam juntos, atentos, como na porta duma guarita".

José Geraldo Vieira - A Ladeira da Memória

Existe uma linha tênue entre sonho e realidade. Existe também uma separação entre presente e passado, mas que às vezes ambos se misturavam na linha tênue entre sonho e realidade tornando-se uma só coisa.

O apartamento, que era antes tão silencioso, agora estava cheio de vida, com sons de risada e conversas. Magrí estava esparramada no tapete novo e fofo observando com seus grandes olhos o seu amado. Era às vezes esquisito pensar que ele não era mais um garoto e nem ela uma adolescente. Os anos passaram com tanta rapidez que ambos nem perceberam.

Ele estava segurando um martelo e alguns pregos para colocar os quadros favoritos de Magrí na parede - depois de colocar as prateleiras novas da cozinha, serviço que fez entre o riso e piadinhas, dizendo algo do tipo "Estou sendo explorado" para o divertimento de Magrí.

- Poxa, meu amor, não sei porque você quer tanto quadro na parede - Crânio brincou - Vai transformar sua casa numa galeria de arte?

Do seu lugar do tapete, ela riu e depois suspirou enquanto o contemplava. Ele continuava o mesmo de quando partiu para o EUA no início do ano. O mesmo sorriso, a mesma voz, as mesmas covinhas no rosto, o mesmo olhar que parecia estar sempre calculando e pensando em várias coisas. O sol do verão americano fez bem ao namorado, pensou, e os pensamentos passearam por outras conjecturas também que a fizeram rir e corar.

- Eu deixei todo o serviço pesado para você, meu amor - ela brincou - Até parece que eu ia me arriscar colocar tudo isso sozinha.

Crânio virou-se para ela com um sorriso sarcástico:

- Mas nem me ajudando você está. A vida está boa aí, hein?

Ela deu a língua para ele, o que só o fez rir mais. O rapaz a fitou com ternura. Deitada naquele tapete, Magrí parecia uma ninfa grega esperando seus súditos virem servi-la. A beleza dela não diminuiu no tempo que ficaram separados, pelo contrário, ela parecia ainda mais bela de quando deixou o Brasil, a ponto de fazê-lo suspirar e sentir um desconforto físico que já estava acostumado depois que ficou adulto. A verdade é que não se importava nenhum um pouco de ser um súdito dela.

Crânio terminou de pregar um dos quadros sob o olhar de Magrí, e em seguida se juntou a ela no tapete. A moça se aninhou no abraço do namorado, inalando o cheiro dele. Os dois evitavam pensar no pouco tempo que tinham antes de se separarem de novo, dentre outros assuntos delicados sobre o futuro do relacionamento. Havia um no qual estava tirando o sono de Magrí desde o dia Crânio ligou para avisar da visita, mas ela tinha medo de arriscar e assustá-lo.

Canção Vintage (Crânio & Magrí - Os Karas)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora