(Um Interlúdio...)

224 5 16
                                    

N/A: Olá Karas! Talvez alguns de vocês vão ficar um pouco decepcionados com este conto já que não acontece quase... nada rsrs. Mas é vida não é somente drama :)

Boa leitura!

Como o desterro de minh'alma errante,

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Como o desterro de minh'alma errante,

Onde fogo insensato a consumia:

Só levo uma saudade - é desses tempos

Que amorosa ilusão embelecia.

Álvares de Azevedo

- Então é isso? Esse é o fim?

Crânio não sabia o que era pior. Se era a calma controlada de Magrí ou a dor visível nos olhos dela que o oprimia. Os galhos do velho carvalho balançaram na brisa outonal, e num relance do inconsciente do garoto, ele percebeu que estavam debaixo da mesma árvore que Magrí subiu para salvar um gatinho. Parecia que foi eras antes, uma vida inteira.

O caroço na garganta de Crânio estava sufocando-o. Magrí piscou com os olhos cintilando, mas ela não deixou uma lágrima escorrer. Crânio tentou falar:

- Você tem razão. Já fizemos muitos danos, não é? É justo que paguemos por isso.

Crânio preferia mil vezes que ela gritasse, xingasse, falasse qualquer coisa cruel contra ele, menos aquela serenidade resignada, como as nuvens silenciosas que se formam no céu antes da tempestade. Era tudo muito pior, um pesadelo. Ele nunca a tinha visto daquela forma - impotente, mais vulnerável do que nunca.

Ele se engasgava com as palavras. Estava sentindo sufocado, as mãos tremiam e os pensamentos estavam completamente bagunçados.

- Magrí, eu... eu... n-nunca, nunca vou am-

A menina, agora não mais tão menina assim, colocou o dedo indicador nos lábios de Crânio silenciando-o. Havia algo nela, naquela compostura tão serena que lembrava o rapazinho a serenidade de uma rainha que sabia que a guerra estava perdida, mas que aguentaria o que viesse com a coroa impecável entre os cabelos e os ombros eretos.

- Querido, por favor, não me prometa nada que você não possa cumprir.

Ela se afastou rapidamente não deixando que Crânio nem ao menos tocasse-lhe a mão. A expressão serena de Magrí se quebrou por alguns instantes enquanto murmurava:

- Nós fomos um erro, mas... mas eu não me arrependo.

- Eu também não - Crânio deixou uma lágrima teimosa escapar no canto do olho - Eu amo você.

Ela acenou, arrumou a mochila nas costas e desapareceu como se sumisse no ar. Crânio já havia lido muitos poetas e romancistas descrevendo a sensação de ter o coração partido. Contudo, naquele dia ele pôde enfim entender a dor descrita nos versos de Álvares de Azevedo. Magrí nunca foi um erro, disse para si mesmo, mas sabia que ela queria distância pelo tanto de remorso que sentia.

Canção Vintage (Crânio & Magrí - Os Karas)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora