Capítulo 1

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Ele é estranho. Definitivamente estranho.

Foi isso que Alan pensou quando viu o albino vasculhando as estantes da biblioteca da universidade.

Ele usava roupas de nerds dos filmes dos anos 90: com seus tradicionais suéteres de cores pastel, calças largas e gravata borboleta – e esse último elemento era o mais sinistro para um jovem usar.

No entanto, as roupas eram esquecidas quando se olhava para sua pele: uma cor assustadoramente branca. E, involuntariamente, os olhos de Alan sempre se voltavam para o garoto de cabelos albinos e olhos lilases todas às vezes que se cruzavam no campus da universidade. A visão de um ser tão diferente e com um tom de pele único sempre atraiam sua visão.

– Que droga, o professor quer mesmo nos matar com esse trabalho – Judith reclamou. – Que diabos será que ele pensa?

– Que ele não quer ter nenhuma concorrência no mercado de trabalho – Comentou Elias, pegando alguns livros. – Talvez ele tenha medo que roubemos a vaga dele.

– O que não é muito difícil com a incompetência daquele panaca – Revirou os olhos, antes de fixá-los em Alan que praticamente deslocava o pescoço a fim de seguir o albino. – Ei, você está prestando atenção no que estamos fazendo?

– Claro, você acabou de xingar o professor – Coçou uma de suas várias tatuagens, fingindo que não tinha molestado o garoto com os olhos. – Mas foda-se o professor. Eu só preciso de nota e vou me ver livre dessa matéria.

– Ah, Alan! antes que eu me esqueça: Aline me pediu para te avi...

A garota se interrompeu, apurando a audição quando se ouviu o som de livros caindo no chão, antes de alguém resmungar.

Alan e Elias se voltaram para trás, curiosos, vendo o garoto albino todo constrangido se ajoelhar no chão e recolher apressadamente algumas folhas espalhadas ao seu redor.

– Será que ele se machucou? – Judith perguntou preocupada. Por mais que a garota fosse durona e imprevisível, ainda era uma ômega. Sentia empatia de um jeito puro e genuíno, mesmo que não demonstrasse.

Isso também se repetia em Alan, mas ele era muito melhor do que ela quando se tratava de mascarar o que sentia de verdade.

– Nunca vi ninguém parar no hospital por causa de livros – Elias debochou e Alan se levantou da cadeira, olhando atentamente o garoto que parecia querer desaparecer. – Ei, senta ai! Vai querer ajudar?

– Eu vou – Judith respondeu no lugar. – Aquele ali é Gael. Calma ai, eu já volto.

Correu com uma postura mais amigável até o garoto que tentava organizar a bagunça que tinha feito.

– O que ela está fazendo? – Alan acompanhou a amiga com os olhos, que estava ajoelhada ao lado do albino, pegando os livros.

– Desconheço esse lado bondoso de Judith. Confesso que estou assustado.

Alan não disse nada, apenas observou cautelosamente a garota que parecia mais gentil e delicada, embora o garoto permanecia sério e evitava contato visual a todo custo. Aquilo lhe pareceu uma grosseira.

Depois que ambos recolheram as folhas, o albino agradeceu com um leve inclinar de cabeça, antes de caminhar apressadamente até a porta, como se quisesse sair dali o mais rápido que pudesse.

– Aquele cara me pareceu um babaca – Julgou Alan quando Judith se aproximou da mesa.

– Você sempre tira conclusões precipitadas – Criticou a garota.

StrangerWhere stories live. Discover now