Capítulo 47

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Em dois anos muito progresso poderia ser feito. E muito retrocesso também.

Gael e Alan começaram a morar juntos e trabalharem em suas respectivas profissões. A vida adulta tinha chegado e trazia certo amadurecimento como consequência. Entretanto, nem sempre os dois conseguiam estar lá muito adultos.

Alan amava Gael com todo seu coração. Mas era difícil lidar com um autista, não importava quanto ele dissesse para si mesmo ter paciência, que um dia ele falharia.

Gael fazia a mesma pergunta milhares de vezes; sempre precisava seguir seus métodos senão sua mente se tornava a mais perturbada; tornava-se tão obsessivo com suas pesquisas e com seus trabalho no laboratório que ficava noites acordado; detestava quando suas roupas não estavam separadas por cor. Tinham dias que Gael odiava contato físico e ficava o dia inteiro no silêncio e sozinho. Alan odiava esses dias porque ele sempre queria abraços e beijos, palavras doces e calor.

E Gael também amava Alan com todo seu coração, mas tinham dias que não suportava quando ele era muito barulhento, ou muito manhoso e procurava afeto de qualquer jeito. Ele precisava ficar sozinho, e Alan não entendia isso, assim como não entendia que suas pesquisas eram como um membro de seu corpo. Como Gael também tinha dificuldade de entender que Alan era explosivo por natureza.

- Gael! Eu quero conversar! – Grunhiu frustrado, esfregando a bochecha no alfa.

- Nós podemos conversar outro momento. Eu estou ocupado agora – Explicou pacientemente, esquivando-se dos braços de Alan.

- Não se afaste! – fez uma voz manhosa, olhando irritado para o livro de Gael. – E nem é sobre suas pesquisas! É a porra de um livro de mitologia celta! Por que caralhos você está lendo isso?

- Eu estou fazendo uma pesquisa de cunho pessoal para enriquecer meus alicerces dentro do contexto psicanalista "mitológico-filosófico-cultural" e como ele tem influência so...

- Por que você sempre tem tempo para isso e nunca para mim?

Lecionar às vezes era um pesadelo. Corrigir provas, orientar alunos, tolerar professores insuportáveis... Ele só queria Gael quando seu dia foi desgastante. Mas Gael estava parecendo um cacto.

- Sabe, você ama mais esses livros e suas pesquisas do que eu. Você está desde semana passada tão ocupado com seu trabalho que nem dormir comigo você não está mais. Quando eu chego perto você sempre tem uma desculpa para afastar e....

E então Gael começou a ler em voz alta para interrompê-lo. Mas o que não esperava era que isso magoaria Alan. Muito. E principalmente, o deixaria furioso:

- PORRA! PRESTE ATENÇÃO NO QUE EU FALO!

Gael fechou o livro, olhando-o como olharia para um estranho.

- Esporadicamente eu sinto como se você estivesse falando em Mandarim. E eu não entendo mandarim. Por mais que eu tente.

- EU NÃO ESTOU FALANDO NADA DIFICIL! – Tentou controlar sua voz. – Eu não estou fazendo piadas e nem usando metáforas. Só queria conversar com você sobre o meu dia e o seu. Eu queria que a gente assistisse filmes ou aqueles documentários seus que eu odeio, mas eu me esforço para assistir só para estar perto de você! E você nem se importa com isso!

- Não mesmo.

Alan entreabriu os lábios, lançando um livro de capa dura em Gael.

O alfa fez um barulho de susto, tentando procurar os olhos do ômega que já tinha saído da sala, com uma expressão nada contente.

- O que eu fiz de errado dessa vez?

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StrangerWhere stories live. Discover now