Capítulo 6

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– O que é TOC? – Alan perguntou para Alina, vendo a alfa através da tela de seu celular.

– O que é isso, de repente? – Riu do seu jeito suave, balançando seus cabelos violetas.

– Alan querendo saber de problemas mentais? – Debochou Alanis, se metendo na frente da câmera. – Eu acho que vai chover.

– Para alguém que considera depressão falta do que fazer, me surpreende – Disse Aline, séria, se sentando no sofá ao lado das irmãs mais novas.

– Vocês sempre enchendo o saco dele – Defendeu Alana, também ficando visível na câmera quando se aproximou das mais velhas.

– Vish, caralho. Tocamos no protegido – Riu Alanis, piscando para Alan que estava do outro lado da tela.

– Você pode me explicar o que é TOC? – Cortou, vendo que Alana iria começar a se zangar.

– É um distúrbio de ansiedade, e é caracterizado por comportamentos obsessivos e repetitivos – Explicou Alina, sabendo que isso era sua área. – Pessoas que sofrem desse transtorno são assaltados constantemente por pensamento perturbadores, sem conseguir controlá-los. Um jeito de aliviar esse estresse é construir rituais ou manias, que podem às vezes destruir com sua vida social e preencher o dia inteiro.

– É grave? – Alan sussurrou, sentindo um peso nas costas. Ele agora entendia que tinha sido um perfeito ignorante.

– É normal que alguém que tenha TOC acredite que se descumprir com seus rituais algo muito ruim possa acontecer. Isso destrói a pessoa, ela pode se tornar agressiva quando algo que é pré-estabelecido sai do controle.

Alan se lembrou do jeito bruto que Gael tinha retirado a garrafa dos lábios do pequeno alfa; seus olhos assumindo a violência. Isso foi o máximo que Alan viu Gael demonstrar no quesito emoção.

– Você conhece alguém com TOC? – Alana se intrometeu, seus olhos azuis escuros, da mesma cor que seus cabelos, focando em Alan.

– Essa pessoa que eu conheço tem obsessão por limpeza – A imagem das luvas pretas que Gael sempre usava veio a sua mente.

– Ele deve ter medo de contaminação – Concluiu Aline com sua voz grave e madura. – O nome dele é Gael, não é?

O ômega demorou para responder, o rosto corando repentinamente. Era estranho como sentiu pequenos choques elétricos quando o nome dele foi pronunciado: é como se Aline tivesse dito tudo o que Judith comentou quando insinuou coisas que ele tinha calafrios ao lembrar. Alan definitivamente não queria ninguém sabendo sobre o jeito que ficava quando Gael estava por perto.

– Como você sabe?

– Judith já me disse sobre ele. E ela comentou que você não foi nada bonzinho com o rapaz.

– Ela me deu duro hoje – Enterrou seu rosto no travesseiro, de forma que as irmãs só conseguiam ver seus cabelos vermelhos. – Sua ômega foi uma grossa.

– Tenho certeza que você mereceu – Aline deu de ombros, seus cabelos verdes e curtos roçando em seu pescoço.

– Judith é uma graça, maninho. Mas ela pode ficar bem raivosa quando quer – Alanis comentou, as mãos sujas de tinta rosa depois de retocar os fios.

– Aline, tome cuidado. Sua ômega vai te trocar por um alfa esquisitão – Brincou, e Aline ficou intrigada.

– O que Judith fez para você? – Alana perguntou, parecendo irritada.

Alan tinha tamanho o suficiente para se defender, e fazia isso muito bem todas às vezes que se metia em brigas, mas ele ainda era o único ômega entre as garotas, apesar de tudo.

Ele era o mais novo entre as quatro irmãs; a ordem tinha sido: Aline, Alina, Alanis, Alana e por fim ele. Ficava mais fácil de reconhecer quando se via os cabelos coloridos que os cinco possuíam. Aline tinha fios verdes, Alanis rosa pastel, Alina violeta e Alana azul. Eles tinham feito um pacto que quando atingissem 12 anos deixariam que a mãe pintasse seus cabelos da cor que desejasse. Alanis não tinha gostado da cor delicada que a mãe escolheu para si (ela que tinha a alma mais sarcástica e maluca entre os irmãos), mas com o tempo começou a gostar e ficou, assim como os irmãos, com a cor para a vida toda. E por incrível que parecesse, ficava bom em todos eles, no tom vermelho sangue de Alan, até no azul frio de Alana que tinha a personalidade mais irritadiça e gelada entre os cinco.

– Ela quase me atacou.

– Oh, pobrezinho – Alina sussurrou, olhando gentil para o ômega.

– Você sabe muito bem que Alan é maldoso quando deseja ser – Aline defendeu a namorada.

– Fale mais sobre Gael. Você nunca diz nada sobre ninguém, e faz tempo que não conversamos – Pediu Alana, olhando esperançosa para Alan. Às vezes ele era muito distante, ainda mais depois que entrou na faculdade e começou a sair com pessoas erradas. Elas não sabiam muito da vida e dos relacionamentos do mais novo, mas por intermédio de Judith elas entendiam o suficiente para desejar que ele voltasse para casa o mais rápido possível.

– Ele é bizarro: não parece o alfa que se diz ser e é autista também.

– Você não parece um ômega, e Alina é doce demais para ser uma alfa – Retrucou Alanis.

– Aquele cara me tira do sério – Bufou, puxando um dos seus vários piercings com raiva.

– Judith contou que você não para de falar dele – Alina ergueu uma sobrancelha, insinuante.

– É a força do ódio.

– Lembra quando tinha um ômega apaixonado por Alana e ele fazia de tudo para irritá-la? – Interrompeu Alina. – Era fofo.

– O que você está querendo dizer? – Quase rosnou, mas Alina era sensível demais para que ele fizesse isso.

– Vocês garotos têm um jeito estranho de tentar chamar a atenção, um jeito que faz o cérebro ferver – Grunhiu Alana, se lembrando do menino persistente.

– Mas saiba que isso afasta às pessoas – Lembrou Alanis.

– Eu conheço muito bem esse jogo, isso acontece com pessoas orgulhosas que não gostam de admitir para si mesmas que estão interessadas – Resumiu Aline com sensatez.

– Maninhas, eu consigo qualquer um que eu desejar, a arte do flerte já está comigo a tempos. Se eu quisesse transar com aquele esquisitão eu já teria feito isso – Balançou os ombros largos em arrogância, tentando desesperadamente convencer a si mesmo que era só isso.

– E o esquisitão quereria transar com você? – Alanis provocou.

– E se você não desejar só ter sexo? Seria romântico se você estivesse um relacionamento sério com alguém seguro – Disse Alina com sua voz delicada, mas cheia das indiretas.

– É mesmo, seria ótimo se você parasse de se drogar e dar para qualquer um só porquê você acha maneiro – Interrompeu Alana, olhando fria para Alan, mas por dentro querendo tirá-lo a todo custo daquele meio mesquinho.

– Vocês estão sendo intrometidas – Revirou os olhos, passando a mão por uma de suas várias tatuagens que tinha feito quando estava chapado.

– Está tudo bem, querido. Você pode contar tudo para nós – Garantiu Alina, toda amorosa.

– Nós estamos aqui, até quando você se foder – Disse Alanis.

– E ligue mais para mamãe, ela está ficando preocupada – Interferiu Aline.

– E não fique andando à noite sozinho. E beba muita água – Completou Alana do seu jeito marrento e as irmãs riram, como se ela fosse a figura de uma gatinha irritada.

– Tudo bem, mamães – Debochou, sorrindo.

Alan sabia que podia contar com todas elas; suas irmãs eram seu bote salva-vidas quando sua vida se tornava o mais turbulento oceano.

StrangerWhere stories live. Discover now