Capítulo 26

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– Isso me parece o fim do mundo – Alan reclamou quando desceu do carro, olhando assustado para a vastidão de nada.

O observatório ficava em um planalto cercado de árvores, sombras e animais noturnos que faziam sons de filmes de terror. Alan se encolheu sutilmente, antes de correr até Gael para que se sentisse seguro.

– Fascinante... arrebatador... delirante... pitoresco... – Ofegou, olhando admirado para o céu enquanto corria entre as árvores em direção ao observatório.

– Continue olhando para o céu enquanto corre que seu rosto vai se voltar logo para as pedras – Alan revirou os olhos, tentando segui-lo. – Você é estranho com seus gostos. Você poderia ter me chamado para ir ao cinema, mas você preferiu o meio do mato.

Gael parou repentinamente, fazendo Alan colidir seu peito com as costas do albino que não se importou com a dor, só com as palavras.

– Você não gosta?                                                                     

– Bem, não curto muito o escuro – Admitiu.

– Poderemos travar novos encontros daqui para frente. Posso ir onde você desejar – Garantiu, sem notar que sua voz estava tão doce que fez com que Alan quase choramingasse.

O ômega se sentia em pré-heat todas às vezes que estava com Gael. Ele queria carinho e mordidas, palavras gentis e sexo. Ele queria tudo de Gael, até as suas partes mais esquisitas e selvagens.

– Tenho certeza que você não gostaria de ir num motel – Riu, fazendo Gael concordar.

Mas Alan bem que adoraria ser fodido duramente de quatro no chão. Ah, ele realmente adoraria...

– Bem, eu gosto de estar com você. Tipo, mesmo num observatório no meio do nada e com alguma coisa rastejando entre as árvores – Sentiu um calafrio quando ouviu barulhos na grama. – Está tudo bem se for até numa palestra chata sobre astrofísica. Mas se uma cobra me picar, pode ter certeza que vou te ignorar até eu morrer.

Gael se virou para Alan com os olhos cintilando num humor que o ômega nunca tinha visto, antes de começar a rir. Seu riso o fez se lembrar dos sinos delicados que pendiam num móbile que tinha quando bebê. Era quase silencioso, mas o tintilar ainda estava lá, macio e suave, o fazendo se acalmar e quase adormecer.

Alan se sentiu chapado e alegre com o som, como se tivesse cheirado cocaína até seus pés parecerem estar andando em nuvens. Ele não tinha certeza se a sensação da droga era tão excitante quanto ver Gael sorrindo.

– Certamente eu não sobreviveria se você me ignorasse até a morte.


– Estou com sono... – Alan choramingou, esfregando sua bochecha no ombro de Gael que se assustou com o ruído e o afago, se inclinando um pouco para desviar. O ômega estava carinhoso demais para seu gosto.

Depois de se acomodarem nas poltronas do observatório, Natã se equilibrou no centro da construção oval e começou a falar. Falar, falar e falar. Ele apontava uma ponteira a laser para os slides que tinha preparado e fazia cálculos sombrios numa lousa. Às vezes mexia no que parecia ser um telescópio moderno demais para Alan e começava de novo com sua tagarelice.

O ômega estava quase desmaiando. Ele não entendia porra nenhuma daquele cacete, e a voz monótona daquele homem estava fazendo-o ter vertigens de irritação. Ao passo que o alfa quase enfartava de tamanha comoção. Ele parecia compreender aquela linguagem estranha e estava eufórico com isso. Quando Alan tentava dizer algo, era interrompido pelo "shhh" horroroso de Gael.

Pensou em se enforcar de uma vez. Pelo menos não ouvia aquele loiro chato falando.

– Gael! – Choramingou mais alto, fazendo outros alfas do lugar ficarem atentos. – Eu estou cansado!

– Fique em silêncio – Deu batidinhas na coxa de Alan para que se acalmasse, mas então ele começou a choramingar cada vez mais alto até Natã se interromper, o olhando assustado.

– Não me mande ficar quieto!

– Alan, você está nitidamente chamando a atenção – Repreendeu, antes de voltar seus olhos curiosos para Natã que continuou a palestrar. – Você não se sente tentado a idolatrar a abstração da acreção de seixos através de nebulo...

– Eu estou cansado... Eu quero dormir – Coçou os olhos sonolentos, manhoso, antes de se arrastar até Gael e esfregar carinhosamente a bochecha em seu peito, no seu jeito ômega de afagar. – Casa. Eu quero ir embora...

– Não me toque – Afastou-o delicadamente, mas quando seus olhos fitaram os de Alan, ele viu o erro que tinha cometido.

Alan começou a ganir escandalosamente: seus antigos choramingos sendo substituídos por aqueles sons chorosos e dengosos que ômegas muito magoados emitiam. Gael se sentiu terrível quando vários olhares se voltaram para ele em desaprovação. Era como se ele houvesse chutado um filhote.

– Por que está se afastando de mim? – Afogou-se no próprio ar, como se estivesse soluçando. – Não fuja de mim!

Gael arregalou os olhos, fitando assustado as pessoas que os observavam. Ele odiava quando os outros olhavam. Era por isso que ele nunca comprava roupas chamativas e andava com a cabeça baixa.

Não olhem... Não olhem...

– Alan, pare – Ofegou apreensivo, vendo o ômega ronronar na sua forma inata de mostrar doçura e submissão. Natã não falava mais, todos pareciam estar ouvindo. Seu peito começou a se apertar e de repente não se importou mais que era a sua voz que mais chamava a atenção – ALAN! CALE A BOCA!

O ômega paralisou: seus olhos se arregalando dolorosamente enquanto seus ombros começavam a sacudir, numa tentativa de se conter.

Algo se rasgou, quebrou e explodiu em Gael quando viu os olhos de Alan lhe alcançarem num raiva que ele nunca tinha visto.

­­– Vai se foder – Rosnou, antes de correr até a saída do observatório; seus cabelos longos brilhando feito sangue em pele pálida no meio da escuridão da sala.

– Oh, minha nossa... – Gael suspirou, esfregando as mãos no rosto, não sabendo se ia ou ficava.

Se fosse com ele, gostaria de ficar só, mas com Alan... era diferente. Sabia que com ômegas a dança era embalada por outra música. Gael sabia que se não fosse, outro alfa iria em seu lugar. Então se levantou silenciosamente, esperando que ninguém lhe notasse.

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