Capítulo 22

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Depois que Ícaro havia se acalmado, eles o levaram a Judith. Quando a garota entendeu o que estava acontecendo, pensou em ir até o pai do garotinho e implantar o caos, jurando que o mataria com suas próprias mãos; o que assustou Gael, que interferiu dizendo que seria presa. Gael sempre levava pelo sentido literal, e apesar de Alan garantir que ninguém seria morto, ele preferiu caminhar até em casa, sem querer participar de conflitos.

Contudo, disse que poderia ajudar se caso ambos decidissem processar ou fazer botim de ocorrências. Como Gael entendia sobre constituição, artigos e inquéritos, deu uma rede de informações sobre o estatuto da criança e leis que asseguravam a proteção de menores, e estabeleceu medidas que poderiam ajudar.

Judith que usou todas as ideias como ameaça ao pai do pequeno alfa. Ela não estava segura só com a promessa de que ele nunca mais agrediria Ícaro, mas era o que ela tinha agora, enquanto recorria na justiça a guarda do garotinho.

– Suas palavras estão comedidas – Gael disse, fazendo Alan o encarar curioso. Ele mesmo teve a ideia de acompanhar Gael até em casa, mas o trajeto inteiro ficou no silêncio.

– O quê?

– Por quê está tão quieto?

– Eu estava pensando no quão terrível é ter pais agressivos.

Gael notou que Alan ficou arrasado com a situação de Ícaro. Mas o alfa também ficou: ainda sem entender o motiva da fúria quando viu a criança machucada.

Isso era empatia? Se fosse, Gael estava satisfeito consigo mesmo, pois ele estava entendo o caminho do coração.

– Você também teve pais ruins? – Alan perguntou, percebendo que tinha tocado num ponto sensível quando viu Gael enrijecer.

– Não sei o que dizer...

Gael não queria compartilhar lembranças de sua infância. Esse era o assunto que o fazia ficar mudo.

– Mas você sempre sabe o que dizer – Riu, fazendo Gael o olhar perplexo.

– Isso é sarcasmo?

– É claro que é.

– Para mim não é demasiado evidente. Eu nunca capto o sentido – Deu de ombros, enquanto Alan se recordava do que sua mãe havia dito sobre a dificuldade autista de entender duplo sentido. – Por que dizer uma coisa sendo que você quer informar outra?

– Pessoas são caóticas, Gael. Você ainda continua tentando decifrá-las, mas isso é impossível. Você não me entende e eu nunca vou te entender. Mas para construir laços e se sentir conectado com alguém, não precisa necessariamente interpretar tudo sobre o outro.

Gael se calou, mais quieto do Alan imaginou ser possível. Talvez ele sempre estivesse no completo silêncio. Talvez fosse realmente doloroso estar na pele dele.

– Então por que todos continuam a obstinar que eu devo aprender sobre sentimentos, expressões, gestos e cordialidade? Por que eu sempre devo tentar entender os outros, sendo que ninguém se esforça para tentar me entender?

– Bem, eu estou tentando te entender.

– Tentar... Induzir... diligenciar... intentar... – O que Alan tinha dito o emocionou de certa forma. Ninguém nunca tentou compreendê-lo. – Eu gostaria de saber flertar.

Alan se engasgou, não entendo se Gael estava realmente dizendo aquilo que ele estava pensando.

– Caralho, o que foi isso...? – Riu, olhando para o alfa que continuava sério.

– Eu li que flertar é uma sutil insinuação de interesse de uma ou ambas as partes. É a empatia entre olhares e atitudes, que pode instigar sensações e emoções.

StrangerWhere stories live. Discover now