Capítulo 3

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Alan seguiu Judith até o caixa, vendo Elias arrumar algumas prateleiras.

– Eu estou impressionada com você, Alan – Ironizou Judith. – Em plena sexta-feira, depois das aulas, você aqui, trabalhando com a gente.

– Está me chamando de vagabundo?

– Mais ou menos. Você prefere ir à festas.

– Você sabe que estamos perdendo uma dessas nesse momento. Uma das fodas –Suspirou, apoiando seu maxilar forte nas mãos.

– Eu não sei como você consegue fazer amizade com essa galera. Eles são dá pesada. Eu já consigo ver os corpos chapados empilhados no chão – Elias estremeceu, lembrando de uma das festas que teve que salvar um Alan embriagado que vomitou as tripas depois de beber incontáveis shots de vodka e tequila. 

– Meu caro, eu também sou da pesada.

E de fato Alan era: seu estilo rebelde, suas várias tatuagens e piercings, cabelos compridos tingidos de uma cor sangue, sua personalidade divertida e irritável... tudo isso fazia-o um alvo perfeito para pessoas que gostavam do perigo. Alan não era o tipo de pessoas que te mantinha na linha: ele sempre o convidaria para raves e encontros com traficantes encapuzados em becos escuros.

Judith ainda se perguntava como ela ainda não havia virado uma viciada sendo amiga do ômega.

– Não se orgulhe disse – Avisou a garota. – Você vai ser foder uma hora ou outra, e eu vou estar lá para rir da sua cara.

– Quando se tem Judith como amiga, quem precisa de inimigos? – Alan riu, dando batidinhas no cigarro.

– Ei! Guarda isso! – Elias brigou, arrancando o cigarro das mãos de Alan; mostrando com o queixo a porta do antiquário que estava se abrindo.

Alan deu um jeito de se ajeitar, sabendo que era proibido fumar dentro da loja e, dependendo de quem entrasse, ele estaria fodido.

– Oi, Gael! – Judith cumprimentou, a voz hesitante enquanto cutucava Alan.

O ômega se virou rapidamente ao som do nome familiar, encarando a figura esguia, mas delicada de Gael na porta. Depois do que tinha acontecido no refeitório, ele duvidava seriamente que Gael olharia na sua cara de novo.

– Boa tarde, senhorita – Disse formal, antes de se voltar para Alan e baixar seus olhos para o balcão que equilibrava o cinzeiro, parecendo desconfiado, mas sem dizer nada.

Com esse olhar, Alan sentiu que estava de volta a terceira série: sendo repreendido pelo professor depois de furar seu colega com a tesoura.

Toda vez que Alan estava perto do albino, se sentia sufocado e intimidado. Ele tinha entendido que Gael definitivamente não gostava dele: sempre com aqueles olhos estranhos julgando tudo que ele fazia. Gael não era agressivo, mas Alan sentia que se o albino pudesse, ele o rasgaria ao meio.

– Você precisa de ajuda? – Elias perguntou.

– Não.                                                                                          

Elias trocou olhares com Judith, antes dela interferir:

– Ele "trabalha aqui". Seus tios são os donos do antiquário.

– Nossa, eu não fazia ideia – Elias assobiou, voltando a relaxar.

– Você é muito distraído. Judith já tinha dito isso – Comentou Alan, mas agora ele que estava distraído, observando Gael.

Alan tinha que admitir que ele era bonito. Olhá-lo constantemente como ele vinha fazendo, só o fazia acreditar no quão Gael era seu tipo. Alan não tinha gostado das diretas que ele dava, mas o ômega adorava desafios e pessoas difíceis.

Gael era o tipo inacessível e excelente; tirava as melhores notas e tinha uma aparência impecável: desde sua pele que parecia creme branco ao seu rosto harmonioso e delicado. Ele era o tipo de cara que Alan gostaria de brincar.

– Mas o que você faz aqui? – O ômega perguntou, fazendo Gael dar um leve sobressalto. – Judith disse que você só fica nos finais de semana.

– Sexta-feira é considerado "final de semana". Isso decorre desde à noite de sexta até domingo – Comentou frio. – São dias muito determinantes para digressões.

Elias e Alan se entreolharam, achando estranho a observação óbvia de Gael. Eles só não sabiam que o albino se sentia cutucado pela vontade de contrariar Alan mesmo nas coisas mais simples.

– Ei, Gael – Judith chamou. – Você se importaria se meu sobrinho ficasse aqui? É que eu realmente não tenho ninguém para deixa-lo, e...

– Meus tios estão de acordo? – Interrompeu, se virando para Judith que corou. Aparentemente, Alan não era o único que se sentia assustado com os olhares súbitos de Gael.

– Sim! Inclusive eles adoram aquela criança.

– Todos nós gostamos, até os clientes – Garantiu Elias.

Deu de ombros, concordando, antes de dar meia volta e entrar na sala que só permitido funcionários.

Judith e Alan se olharam, meio que suspirando.

– Ele também te deixava nervoso? – Perguntou a ômega, ouvindo o barulho familiar do carro da irmã.

Alan negou, mentindo. Ele jamais diria que se sentia estranho quando estava perto de um alfa como Gael, que ainda o deixava cheio de dúvidas sobre ele ser mesmo um alfa.

– Ele só me deixa confuso, porque definitivamente ele é a pessoa mais bizarra que eu conheci.

StrangerWhere stories live. Discover now