Capítulo 37

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– Olá, Gael – Alina cumprimentou, abrindo a porta de seu consultório para Gael que entrou hesitante, olhando a mobília como se ela fosse viva e pudesse atacá-lo. – Você sabe como responder.

– Olá? – Perguntou timidamente, sabendo que o silêncio era constrangedor para pessoas como Alina.

Mas não para ele. Gael adorava ambientes vazios de som. 

– Você pode me perguntar se eu estou bem.

– Você está bem?

– Obrigada por pergun... o que é isso? – Seu sorriso se fechou ao ver Gael lhe estender um doce, com uma expressão séria no rosto.

– Pirulito, por boa educação

– E por que um pirulito?

– Porque sim.

– Quando alguém lhe perguntar algo, você deve dizer o motivo por trás daquilo que você falou – Disse, com seu quê gentil que fez Gael se lembrar de suas reuniões com Alba.

Alina, com sua altura baixa e seus cabelos cor de bala de uva, era como uma cópia mais jovem da própria mãe. E isso foi o suficiente para que ele começasse a se soltar:

– Minha avó me entregava pirulitos todas às vezes que eu era educado ou seguia as instruções... normas... dogmas que a sociedade criou em códigos para facilitar a interação.

– E o que você acha dessas regras?

– inúteis.

– É mesmo? – Disse, pegando sua prancheta e começando a anotar. Gael sabia que era sobre si, então ele teve que engolir em seco antes de continuar:

– Todos dizem que cada indivíduo é um indivíduo. Eles gritam sobre autenticidade e a singularidade de cada sujeito. E se cada um é diferente do outro, então por que precisamos padronizar até aquilo que diz respeito a habilidades de socialização?

– As pessoas precisam se conectar de alguma forma, e as regras são essenciais para isso – Explicou, com aquele seu sorriso infantil no rosto. – Você não sente vontade pertencer a algum grupo?

– Lobos, abelhas, cupins, formi..

– O que você...? – Olhou-o de forma suspeita, mas então Gael ergueu um dedo, fazendo-a se calar.

– ... Todos fazem um coletivo. Eu não preciso disso. Posso ser autossuficiente.

– Se bastar sozinho? É uma bela palavra, mas ela não funciona.

– Funciona, sim.

Ergueu os olhos, por trás de seus óculos, anotando em sua prancheta de novo. Gael sentia que poderia ter uma crise só pela aflição de não saber o que ela julgava de si.

– Você que sabe sobre muitas coisas, deveria entender que ser totalmente sozinho faz tão mal para a saúde quanto se drogar como meu irmão tinha feito. E você pode morrer de depressão, como bem sabe.

– Eu posso fazer diferente.

– Não pode – Cortou, com um tom de voz firme, mas sem tirar a compostura suave. – Você também faz parte da nossa matilha, Gael. E essa matilha é a nossa comunidade. E como o alfa que você é, seus instintos te orientam a se relacionar com ômegas.

– Estou impressionado – Interrompeu, olhando-a nos olhos. – Estamos dialogando e você não está me tratando como uma criança ou um incapaz. Você está me tratando como se eu fosse normal.

Ela o olhou surpresa, sabendo que aquilo não era comum. Gael pelo jeito não tinha boas experiências com psiquiatras e psicólogos.

– Eu vi sua ficha e percebi que você tem uma incrível capacidade de memória e devoção ao aprendizado. Você supera seus limites facilmente. Comunicação? Todos temos dificuldade em nos entendermos. Eu não preciso trata-lo como um incapaz. Eu vou te tratar como o adulto que você é. Não vou lamentar sua síndrome como deve ter visto seus familiares fazerem. Você deve saber que ela existe, e deve ter calma quando for quebrar algumas barreiras. Mas você não deve ficar separado dos outros só porque alguns lhes disseram que você é anormal. Una-se as pessoas e entenderá que você também faz parte delas, porque você é igual a elas.

StrangerWhere stories live. Discover now