Capítulo 12

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– Por que você está sendo tão gentil? – Gael foi direto com a garota que colocava seus livros para secarem no sol.

Judith parou de repente, como se estivesse refletindo, e o albino percebeu que ele estava sendo evasivo.

– Perdoe-me... Eu não aspirava pressi...

– Eu tive um irmão, mais novo – Começou, sem olhar para Gael. – Ele teve autismo crônico. Não é nada parecido com o que você conhece: ele não falava, tinha crises constantes e era agressivo. Eu o cuidava desde quando eu era uma menina... – Respirou fundo, como se algo estivesse pesando. – Eu o amava, mesmo que ele jamais pudesse retribuir isso.

– Por que está contando isso? A senhorita não precisa elucidar sobre sua vida pessoal – Tentou soar gentil, mesmo sabendo que todas as suas palavras eram duras.

– Eu nunca contei isso para ninguém. Nem para Elias e para Alan, apenas para a minha alfa. Não porquê eu tivesse vergonha, sempre foi porque eu tive medo que, dependendo de quem descobrisse, o maltratasse. Às vezes eu me lembro de quando eu estava no fundamental e as crianças iam a minha casa e riam dele pelas minhas costas e faziam brincadeiras maldosas. E eu odiava o jeito que eles o olhavam, com deboche. E eu realmente odeio deboche.

– Alan é muito bom nisso – Comentou sem querer.

– Alan não fará mais parte das nossas vidas – Disse firmemente, lançando um sorriso na direção de Gael.

– Você não deveria ter feito isso – Sussurrou, desviando seus olhos do dela. – Não precisa carregar um fardo que não lhe pertence.

– Alan é um babaca, se ele machuca meu amigo, ele vai me machucar automaticamente – Gael perdeu o fôlego. Ele jamais pensou que alguém fosse querer sua amizade – Amigos ajudam uns aos outros, não é?

Gael sabia que Judith tinha contado aquela história para ele não se sentir tão sozinho. Ele sabia que ela tinha pena dele, mas, de alguma forma, Judith o fazia se sentir confortável e Gael sentia que ele podia ser ele mesmo perto dela. Sem frieza, indiferença e medo.

Sempre foi solitário e assustador estar sem ninguém. Parecia mais fácil quando ele olhava para seus colegas e via todos rodeados de amigos. Talvez fosse tudo uma ilusão: e que a verdade é que as pessoas não se importam umas com as outras, e que todas elas estão juntas por apenas um motivo em comum: para não se sentirem tão só.

Talvez esse lance de amor e amizade fosse apenas uma falácia.

– Você está dizendo tudo isso por que presume que eu tenha autismo? – Resistiu a vontade de acreditar que Judith estava sendo bondosa sem querer nada em troca.

– Eu não sei o que você tem e não precisa me contar se quiser, mas eu sei que você é especial, de um jeito bom. Eu estou te ajudando porquê QUERO te ajudar. Não estou sendo altruísta ou estou fazendo isso porquê tenho dó de você. Eu estou fazendo isso porquê acho que podemos ser amigos.

Gael se sentiu tonto e teve que mudar de assunto, sentindo que iria corar caso ela continuasse a ser sentimental.

– E por que você disse que tinha um irmão. No passado?

Judith demorou para responder:

– Ele morreu.

– Minhas sinceras condolências – Sussurrou, meio tímido.

Ela sorriu, voltando com o bom-humor.

– Obrigado, senhor.

– Senhor?

– Ué, você me chama de senhorita.

– Não consigo estagnar o uso – Comprimiu os lábios.

-Não se preocupe, eu gosto disso, mesmo que às vezes eu reclame – Ela riu, e Gael realmente percebeu naquele momento que ela não estava sendo forçada. Uma amizade baseada na pena fraquejava, mas ela não estava mais com pena dele. Judith parecia sincera, e ele se sentiu acolhido como quase nunca se sentiu.

– Obrigado, Judith. Por me contar isso.

– Saiba que eu sempre vou estar aqui. Você pode confiar em mim. 

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