Capítulo 7

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Gael estava caminhando pelo corredor da universidade, carregando um experimento que tinha preparado na aula de laboratório. Ele entendia que qualquer baque poderia destruir com seu trabalho duro e a placa de Petri.

Os acadêmicos tinham muita estima por Gael, não só pela sua dedicação, mas principalmente pela sua inteligência. Era raro ver alguém como Gael: ele conseguia ser bom em tudo que fazia. Desde a arte até a matemática. Mas tudo isso não importava mais quando ele se lembrava de sua dificuldade de socialização. Ele conseguiria brilhar muito mais se conseguisse ser simpático.

Gael tinha aprendido com o tempo a bloquear seus sentimentos. Ele entendia que pessoas frias e sinceras eram as melhores do que as cuspiam simpatia. Gael mostrava seus pensamentos do jeito mais puro. Pelo menos quem o conhecesse, observaria seu lado mais verdadeiro. Mas até então ele não tinha encontrado ninguém, porque suas emoções estavam tão suprimidas que era impossível compartilhá-las.

– Puta que pariu, Judith! Pode parar de ser tão difícil? – Grunhiu uma voz familiar, o que fez Gael ficar atento.

– Se você não pedir desculpas para Gael, nossa amizade não pode continuar – Gritou Judith, caminhando rápido.

O albino estremeceu, preferindo morrer do que se encontrar novamente com Alan. 

– Você sabe que não pode ficar muito tempo brava. Você é minha cunhada.

– Mas eu posso muito bem armar um barraco e acabar com os laços da sua família. Eu vou levar Aline para bem longe, e vou fazer ela... Minha nossa! Pare, Alan! – A garota gritou, tentando puxar Alan para si, mas já era tarde demais quando se ouviu um baque.

Gael e Alan se chocaram violentamente; ambos quase vendo estrelas. Alan corria para acompanhar Judith que cruzou o corredor sem problemas, se desviando de Gael perfeitamente, mas Alan era distraído demais para notar isso, assim como Gael que continuou andando, sem perceber que fora de sua vista Alan corria.

O ômega estava irritado demais, e Gael desesperado para sair da vista de Alan. Mas seus planos não deram certo, pois quando ele foi entrar numa das salas para não se deparar com o ômega, os dois já tinham se encontrado, do jeito mais doloroso possível.

Gael quase cambaleou, mas se esqueceu da dor nos ossos quando sentiu seu experimento escapar de suas mãos antes de um som de vidro se quebrando preencher o ar.

Ele prendeu o fôlego, seu coração palpitando.

– Vocês estão bem? – Judith perguntou, alarmada.

– O que caralhos foi isso? – Gemeu abismado, observando Gael que tinha caído de joelhos no chão, os cílios brancos tremendo.

O estômago de Gael fez um nó. Ao passar suas luvas pelo vidro quebrado, sentiu sua dignidade esfarelar junto com os cacos.

– Isso é bioquímica? – Judith olhou preocupada para o albino que arfava.

– Minha incubação para a cultura de micro-organismos... – Prendeu a respiração, as bochechas coradas pela aflição.

– Nossa, é uma pena... – Alan elevou a mão aos lábios, sentindo que ia começar a rir a qualquer momento. A situação tinha sido cômica. O choque elétrico que ambos receberam dava para acender uma lâmpada, e a cara de Gael estava fazendo... bem, ele merecia.

– Você pode fazer de novo – Propôs Judith. – Você é muito bom em tudo que faz, e é inteligente... E foi um acidente!

– Alan é o culpado – Gael interrompeu, com a voz trêmula de ira. – Você deve se responsabilizar por isso.

– Ah, quer que eu faça seu trabalho? – Alan fez uma expressão sarcástica. Gael não entendia o que era aquilo e o significava. Mas ele não gostou nada do tom provocativo do ômega.

– Certamente fui irracional ao propor tal inconveniência – Se ergueu do chão, mostrando-se calmo. – Você é burro em demasia para fazer as proezas que eu realizo. Como alguém tão tolo pode preparar um atividade tão inteligente?

Alan abriu a boca em um perfeito "o" e Judith se afastou, vendo que iria ter briga.

– Caralho, mas você se acha mesmo... – Rosnou, se aproximando de Gael que tinha os olhos vazios. Ele queria arrumar intriga, mas por fora não parecia se importar. – É por isso que as pessoas não te suportam.

– Oh, é mesmo? – Gael ergueu sua sobrancelha quase transparente; poderia ser ironia se ele entendesse o que isso provocava em pessoa como Alan. – eu costumo me abstrair de opiniões alheias.

– Ah, veja ele é todo autossuficiente! – Alan mexeu os ombros exageradamente. – A verdade é que você é um solitário de merda que dá pena nos outros. Você sabe que Judith se aproximou de você por dó. E é tão patético, não é? O sentimento de pena...

– Sabe o que é patético? – Gael aumentou seu tom de voz, mas sem sair do controle. – Tentar me tempestuar. Provocação é simplesmente um ato imbecil de pessoas que vivem do fracasso.

Os músculos de Alan se tencionaram de raiva. Ele estava um passo de esganar Gael.

– Foi você que começou! – Bufou, como uma criança.

– Eu? – Suas pupilas aumentaram, mas logo diminuíram de novo. Estava sendo um parto manter a calma. – Desde o momento que nos conhecemos, você gasta seu tempo me encolerizando. Isso só enfatiza sua mente atrasada e primitiva.

– Porra, você é tão mesquinho! – Revirou os olhos, colocando o indicador entre a língua e o céu da boca, como se fosse vomitar. – Mas talvez eu devesse te tratar como o retardado que você é, e fechar meus ouvidos para toda a merda que você diz.

– Retardado? – Gael arregalou os olhos. – O que vocês está dizendo?

– Você é um autista patético. Você nem me olha nos olhos! E ainda quer discutir! Você é um esquisitão albino que as pessoas tem nojo só de olhar. Você não faz parte disso, Gael. Deveria desistir da faculdade onde têm pessoas normais e ir talvez para uma escola para deficientes. Lá você vai se encontrar tenho certeza, vocês podem se comunicar com grunhidos – Se aproximou de Gael perigosamente. – Ah, você está tremendo?

Alan riu, vendo o corpo de Gael em espasmos. Aquilo não era medo, mas raiva suprimida. O próprio albino sentia seus lábios se afastarem, procurando ar, desafiadores. Uma onda de ira descendo e subindo pela sua garganta.

– Ah, está com medo? Eu te assustei? – Alan sorriu, seus caninos naturalmente afiados parecendo presas. – Vai começar a chorar?

Foi tocar com malícia os ombros de Gael, mas alfa foi mais rápido, pegando seus pulsos no ar enquanto fincava suas unhas na carne de Alan que grunhiu. Mesmo que Gael estivesse de luvas, sua raiva fazia qualquer coisa se tornar dolorosa.

– Eu tenho meus direitos amplamente reconhecidos pela lei de inclusão de autistas – Deu um passo para mais perto de Alan, que tentava se afastar, mas a força de Gael era maior. – Isso estabelece sansões aos que discriminam. É meu dever comunicar à autoridade se qualquer forma de ameaça ou violação me atingir. O que remete o papel do ministério público que pode tomar providencias cabíveis para infratores como você. Eu posso acabar com sua dignidade, Alan. O que uma universidade como a nossa pensaria de um aluno que fere os direitos humano? – Perguntou, sem esperar uma resposta, o rosto muito próximo de Alan que continuava lutando para se afastar, fazendo barulhinhos que ômegas reproduziam quando estavam intimidados por alfas. – Adeus, filosofia. Adeus, diploma.

Gael enfim o libertou enquanto recuperava o autocontrole e Alan, o fôlego. Gael ainda o olhava com indiferença, da maneira mais educada para desprezar alguém.

Alan sentiu seu maxilar tremer enquanto via Judith correr até seu lado, mas tudo parecia muito lento e... irreal.

– Experimente fazer isso para ver o que acontece com seu rostinho delicado – Rosnou trêmulo, quase que indefeso.

– Com prazer – Deu de ombros e juntou o restante dos cacos do chão, passando bem longe de Alan e de Judith que o olhava confusa.

Sentiu os olhares que mais pareciam alfinetes de do ômega em suas costas. Alan era corajoso e agressivo, mas ainda continuava um ômega. Era tão fácil acuá-lo...

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