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3° dia de aposta.

Naquele colégio existia apenas duas opções de uniforme. A porcaria de uma saia de pregas cor cinza opaco, e uma calça de alfaiataria igualmente porcaria na cor cinza opaco.

Eu detestava ambas.

A saia odiava por razões de ser desnecessária e por não favorecer meu dia dia naquele bendito colégio. Não era fácil ser produtiva e ao mesmo tempo estar confortável com uma saia que ia apenas cinco dedos acima do joelho. Tantas vergonhas já passadas por ter me abaixado e esquecido de estar usando uma saia. E a calça era por ser irritantemente quente.

Então, com intenção de tornar o desagradável em algo útil, eu transformei uma das calças em um shorts. E isso me mandou para a diretoria.

— Já cansei de dizer, pare de transformar suas calças em shorts, Rosellyn — a vice diretora me odiava, ou odiava quando me via entrando em sua sala.

— Então transforme shorts em novos uniformes, saias não são práticas e as calças são quentes.

— O colégio tem código de vestimenta desde 1950, quando foi fundado. Sempre foi usado saia. Tem sorte que acrescentamos a calça recentemente — ela não se importava. Nem sei por qual razão tentava. — Escolha — mostrou-me a opção da calça ou saia. Apontei para a saia.

— Está calor, usar calça no calor é castigo, e usar saia é desnecessário — sorrindo ela me jogou a saia.

— Você é a única que reclama. 

— Sou a única que tem senso — com um total de zero vontade de me dar ao trabalho de ir ao banheiro e trocar de roupa, apenas visto a saia por cima do short ali mesmo. — Olha isso! Meu short é maior que a saia! — sou exagerada, a saia não era tão curta, eu apenas a odiava.

— Tchau, Rosellyn — ainda não dando a mínima ela praticamente me expulsou abanando as mãos em minha direção. Deixo a sala resmungando meio mundo de palavrões e volto para o clube.

— Rotina? — questionou Tânia com tanto veneno que era possível enxergar escorrendo no canto de seus lábios. Rindo da minha careta em desgosto ela acrescentou: — Por que não aceita a saia de uma vez?

— Porquê é desconfortável. É difícil me movimentar sem ficar pensando estar mostrando mais do que devia — sem me importar com a presença dos demais na sala volto a tirar a saia, ficando novamente de short. Sentado no sofá Jungkook sorriu com a cena presenciada. Ah.

— Eu verdadeiramente gosto das suas pernas — murmurou encarando minhas pernas. Reviro os olhos. — Posso toca-las?

— Deixa de ser pervertido — respondo enquanto corava. Jungkook não tinha filtro, apenas dizia o que pensava sem se importar com quem estava por perto, e isso me deixava estranhamente envergonhada e ao mesmo tempo animada.

E sua presença ali era totalmente desnecessária. Ou era eu querendo que ele sumisse dali de uma vez. Afinal, mesmo tentando a todo momento ignorar sua provocação de ontem, eu sentia um leve calorzinho pelo corpo somente de olha-lo nos olhos e lembrar de suas palavras descaradas.

— Será que você poderia ser menos desrespeitoso? — A voz de Yuri surgiu em meio ao silêncio que surgiu de instantes. Ele parecia estar irritado.

Jungkook encarou Yuri não muito interessado, e logo voltou a me encarar.

— Fui desrespeitoso com você? — sua formar de dizer a palavra desrespeitoso foi irônica o suficiente para quase me fazer sorrir. Mas não o fiz por respeito a Yuri.

Não...quer dizer, só não faça mais — sorrindo com certa aprovação ele confirmou.

— Entendi, só quando estivermos sozinhos então — sorriu enquanto me assistia corar com força. Abro a boca para reclamar, mas noto que ele voltou a encarar Yuri. Somente com o olhar ele deixava claro que estava em tentativa de provocar Yuri. Conseguiu.

— Sério? Só isso? Você geralmente quer quebrar a cara de quem fala da suas pernas, agora com ele você age numa boa?! — ficou um tanto que irritado com meu descaso com o assunto.

— Yuri! — eu gostava muito de Yuri, era sua amiga antes mesmo de entrar no colégio, mas as vezes Yuri levava a sério o papel de melhor amigo, achava que tinha o direito de sempre se envolver em meus assuntos. Isso me irritava um pouco. — Meus problemas eu resolvo.

— Ele é um idiota com você, por que ainda não o mandou embora? — além de Tânia, eu e Jungkook, mais ninguém sabia da aposta, e certamente Yuri por ser inteligente sacou que tinha algo ali que me proibia de mandar Jungkook embora.

— Poxa vida Yuri, deixa de ser chato — Tânia tentou chamar a atenção do rapaz.

— Isso! Deixa de ser chato, e assunto encerrado — falo tentando por um fim no assunto. Yuri se irritou ainda mais, no entanto preferiu permanecer em silêncio.

Olhando para Jungkook, o causador da confusão, o pego encarando Yuri com um olhar desconhecido por mim. Então desviou o olhar, agora nossos olhares se encontrando.

Ele sorriu. Um sorriso enigmático, como se ali, naquele exato momento, tivesse descoberto algo que eu certamente desconhecia.

tweety • jjkWhere stories live. Discover now