t w e n t y - o n e

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Minha mãe era boa em tudo. A mulher,  sinceramente, era excelente em qualquer coisa. Além de uma ótima advogada,  se ela quisesse poderia ser também professora em horas vagas, policial, e diversas profissões a qual ela estudou grande parte de sua vida.

Mamãe era quase que uma Barbie da vida real. Além de muito bonita seu currículo era reforçado por trabalhos diversificados, cursos especializados e etc. Como dito, ela era boa em tudo.

Menos em cozinhar.

Além do quadril largo, seios pequenos e os olhos castanhos escuros, não ser prestável na cozinha foi mais uma das formosuras herdadas de mamãe.

Tudo o que sabia fazer de comida já vinha pré preparado, e em alguns casos até isso dava errado. Macarrão instantâneo era meio que minha salvação para quase sempre. Menos hoje.

Mesmo passando o tempo de recuperação em casa, papai fez questão de avaliar tudo o que tinha na geladeira e armário, e reforçar que miojo e qualquer coisa pobre em nutrientes saudáveis estava fora de cogitação.

Sem comida industrializada ou fast food, mamãe e eu estávamos fardadas a cozinhar. Em resumo, estávamos ferradas. Até tentei pedir para que meu padrasto cozinhasse, já que o cara era bom de cozinha, mas ele, assim como mamãe, estava sempre trabalhando. Seria muita sacanagem pedir para que ele cozinhasse depois de um dia corrido e estressante de trabalho.

Então eu teria que me virar sozinha. Ou quase sozinha. Escutando as batidas na porta, me levanto mais animada do que deveria. Papai apenas decretou que mamãe e eu não poderíamos comprar comida, ele não especializou que outra pessoa não pudesse fazer isso por mim.

Bonjour princesse — com a cabeça inclinada para o lado e um charmoso sorriso de canto o rapaz em minha frente saudou com o sotaque mais forte do que nunca.

— Na mensagem fui clara que era para você mandar o pedido para minha casa, não o trazer aqui.

— E que graça teria isso? — mordeu o lábio inferior e ergueu a embalagem do McDonald's na altura de meus olhos.

Sem muita paciência para gastar palavras tentando expulsa-lo, apenas pego o lanche, e ao tentar fechar a porta, ele agiu mais rápido entrando em casa antes que o deixasse lá fora.

— Invasão de propriedade — afirmo colocando a mão na cintura.

— Contrabando — sinalizou para o lanche. Ah sim, se papai soubesse o que estava comendo, ele sem dúvidas me colocaria em uma enrascada pior que a polícia. — Você já é baixinha, aí coloca a mão na cintura pronto, fica a própria xícara — disse descaradamente.

— Você é um idiota

— Eu sei.

Sem um convite de minha parte, ele foi andando pela casa. Olhando cada canto atentamente. Hm.

A casa da minha mãe não era ridiculamente grande, mas era com cômodos espaçosos e reconfortantes. A decoração era normal e simples. E mesmo não sendo nada nível o pessoal mais rico do colégio, era boa o suficiente para mim. Então espero que sua maneira de olhar não seja julgando minha moradia, ou necessitaria partir para a violência.

— Estranho — murmurou ainda olhando tudo à sua volta.

— O que é estranho? — deixo óbvio o suficiente que em qualquer ofensa de sua parte, eu não me importaria com meu tornozelo e partiria para quebrar sua cara.

— Estar em um lugar que tem um pouco da sua história — disse olhando-me por cima do ombro. — Eu gosto dessa sensação de estar envolvido com tudo que relacione você, é interessante...você é iteressante — não sabia se ele estava sendo sarcástico ou apenas dizendo por dizer, mas aquilo me deixou impressionada.

— Concordo, sou bem interessante — Murmuro não querendo deixar óbvio que fiquei internamente mexida com sua revelação. Sorrindo ele concentrou sua atenção no quadro que tinha como imagem uma Rosellyn banguela na frente de uma balanço e sorrindo como se o dente faltando fosse uma vitória. — Caí do balanço nesse dia, dei de cara com o chão, mas ao invés de chorar eu ri. 

Sem querer meus olhos encararam seu corpo. Desde o cabelo, descendo lentamente por seu pescoço, ombros, até suas mãos. Em seu pulso, misturado com suas pulseiras, estava meu lacinho de cabelo...ah.

— Acho que teria me apaixonado bem antes se tivesse te conhecido nessa época — murmurou encarando a foto. Aaaaahhhh.

Tento pensar no que dizer, mas me sinto perdida enquanto tentava imaginar o que de fato suas palavras queriam dizer.

— Cozinha — me esforço para chegar até o cômodo o mais rápido possível. Escuto sua risada e logo seus passos seguindo-me. — Quer beber alguma coisa?

— Água.

— Tá na geladeira, sinta-se livre.

— Você me ofereceu, pegue pra mim.

— Ha! Você tem pernas e mãos, levanta essa bunda daí e pega você mesmo. 

— Você é uma péssima namorada — minha mão travou no que fazia. Ergo a cabeça, olhando fixamente em seus olhos.

Um humor malicioso brilhava em seu olhar. Mas nem mesmo a certeza de suas palavras serem provocações me fez reagir rápido. Levei segundos para lembrar que necessitava respirar, e mais alguns segundos para poder usar as palavras.

— Pare de falar porcarias, idiota — sorrindo satisfeito por sua efetiva provocação ele me ajudou a terminar de ajeitar a comida na mesa. Sua mão tocou levemente na minha quando fui lhe entregar o copo.

Travei no mesmo instante. O silêncio não era constrangedor, não para ele. Era aterrorizante para mim. Sei que ele já havia me tocado mais intimamente, mas naquele momento havia uma tensão diferente no ar. Parecida com aquele bendito dia em seu quarto, só que de uma maneira mais sentimental. Beirando ao precipício do romântico.

— Me auto contrariando, tenho que confirmar que isso parece bom — comentou quebrando o silêncio.

— O-o quê?

Deu a volta na mesa, em pirraça posicionando bem atrás de meu corpo. Cada centímetro de pele se arrepiou com sua aproximação. Seu sussurro mexeu alguns fios de cabelo em meu pescoço e me deixou mais uma vez estática:

Ter você como namorada.















tweety • jjkWhere stories live. Discover now