t h i r t y - s e v e n

7.7K 872 375
                                    

Pensei muito e cheguei a conclusão de que se chegasse chamando a vice de tia, levaria uma puta bronca. E de quebra um belo castigo.

Então mative a vontade guardada durante os cinco dias restantes do acampamento. Mas ao chegar no colégio não contive o sorrisinho de quem sabia das coisas. A vice como de costume me mandou parar de ser besta, mas seu jeito de olhar já deixava claro que ela sabia a razão de meu sorriso.

Agora eu que não sabia a razão. Porque vamos aos fatos, não existia de fato um motivo para estar sorrindo. No momento ao qual pisei no colégio, a realidade bateu em minha cara com bastante força. Hoje era o penúltimo dia para desfrutar da boa sanidade que tinha, pois logo na segunda-feira o inferno começaria.

Temporada de provas. Era isso, segunda-feira começava meu pior pesadelo. Iria passar duas semanas inteiras sofrendo e chorando por ser burra. Então a razão do sorriso em meus lábios era um tanto que desnecessária. Na verdade, acho que era de desespero mesmo.

— Onde arranjou sorvete? — questionei para Tânia que entrou no quarto toda contente com o picolé em mãos.

— Jungkook me deu — revelou. Aquela amizade de Tânia e Jungkook poderia me apavorar, e deixar o ciúmes bater até conseguir sair. Entretanto, o fato de ter imensa confiança em Tânia e em Jungkook, fazia eu me sentir tão calma, que não me importava nem um pouco.

— Beleza, esquece o sorvete, me conta o que aconteceu para que você levasse castigo — o sorvete parou no meio do caminho. Ela paralisou, olhando-me com certo espanto.

— J-jungkook queria falar com você, q-quer ir falar com ele não? — perguntou desviando a atenção do assunto. Ao tentar dar meia volta e sair do quarto eu pulei da cama, correndo até ela e a segurando.

— Conta — a fiz sentar na cama. Seu tique nervoso de balançar a perna apareceu com força. Respirando fundo e terminado o picolé em uma única dentada, ela me olhou e disse:

— Não sei se isso vai te deixar brava ou assustada, mas...— por mais uma vez respirou fundo, dessa vez puxando ar o suficiente para dizer tudo de uma única só vez. — No primeiro dia do acampamento, quando você e Jungkook brigaram com Brad e depois ficaram horas andando, a vice mandou eu e Yuri atrás de vocês. Mas no meio do caminho Yuri estava um tanto que estranho com o fato de você ter sumido com Jungkook, e especulou que vocês provavelmente estavam fazendo algo que não deviam, mas não estavam porquê eu te conheço e você não seria capaz de perder a virgindade no meio do mato, então eu briguei com Yuri por isso, ele ficou bravo, eu fiquei brava e nós transamos 

Tomou uma grande lufada de ar, recuperando o fôlego perdido com a rapidez que despejou as palavras.

— Quero muito ter alguma reação digna disso tudo, mas agora não consigo pensar em outra coisa a não ser...como vocês conseguiram transar no mato? Tipo, não pinica?

— Foi contra uma árvore, e não foi em folhagem seca, então não pinicou como você imagina — deu de ombros.

— Meu Deus, a vice pegou vocês? E por que Yuri não estava no castigo?

— Na verdade ela não nós pegou, ela só ficou irritada por termos demorado tanto, e ainda ter voltado sem vocês. E Yuri cumpriu o castigo, mas ajudando com os demais na cozinha.

Tendo a pergunta intrigante respondida, me coloquei a pensar o porquê deveria surtar com a notícia. Certo, não havia motivos. Não nutria sentimentos românticos por Yuri, então o fato dele ter transado com minha melhor amigo era estranho, mas não me incomodava. A não ser que...

— Você está bem? Ele fez alguma coisa que você não gostou? Como ele te tratou depois? Te forçou a fazer outra coisa? — caso as respostas fossem contrária das quais esperava, não me importaria de sair do quarto de pijama e ir quebrar os ovos de Yuri. Tânia sorriu envergonhada.

— Ele não fez nada errado. Muito pelo contrário, ele foi bem...perfeito  — disse com as bochechas se avermelhando, claramente lembrando do ocorrido. — Foi até bem melhor do que minha primeira vez — ah, queria poder deixar claro que de santa Tânia só tinha o círculo do olho, porquê de restante a vaca era terrível.

Perdeu a virgindade aos catorze com um primo de consideração, que ao menos para acalmar meu surto, tinha a mesma idade que ela. Mas isso não a livrou do tapa que lhe dei quando me contou. Com catorze anos eu ainda me balançava de cabeça para baixo, gritando para papai que o mundo foi invertido. Se bobear e aparecer um balanço em minha frente, faço tudo novamente.

E Tânia abrindo as pernas pro primo. Falta de infância.

— Como disse naquela vez, você estando de acordo está tudo bem pra mim. O caldo engrossa quando ele tentar algo contra sua vontade — afirmei não dando muita importância. Meu assunto com Yuri já estava resolvido, assim eu acredito, então não tinha razão para que sentisse algum incômodo com ele e Tânia juntos.

A coisa só se tornaria meu assunto se Yuri de alguma forma fizesse Tânia chorar. Aí sim eu seria obrigada a me envolver e me importar.

— Ele pediu desculpas no dia seguinte, e ficou um tanto que sem jeito todas as outras vezes em que ficávamos perto — eu me lembrava de ter notado o comportamento acanhado de Yuri, mas nem em mil anos me passaria na cabeça que ele havia transando com minha melhor amiga. — Não sei o que vai acontecer a partir de agora, mas vou deixar as coisas tomarem seu próprio rumo, sem interferir — completou.

— Aprendeu isso comigo

— O caramba! Você interfere em tudo! E se pudesse interferiria com tudo na base do ódio e do soco.

Naquele instante, no mesmo minuto, recebemos uma mensagem. Ela em seu celular e eu no meu. Mesmo sendo em aparelhos diferentes, o conteúdo da mensagem era o mesmo. Era um convite alegrinho demais sobre uma festa que rolava na casa de um aluno que morava perto do colégio.

A festa tinha como propósito relaxar os alunos do que estava para chegar, nesse caso, estresse em formato de prova. Sendo sábado, todos estavam liberados para saírem, e se quiserem, voltarem na segunda bem de manhã. Então era uma festa com passe livre para todos os alunos. O único requisito era ser aluno do último ano. Meu caso e de Tânia.

— Eu não bebo — fui logo avisando para a garota que sorria toda contente. — Caso não tenha comida, pode ter certeza de que vou voltar embora 

Já tem companhia para voltar — olhamos assustada para a pessoa parada na porta. Encostado no batente, com as mãos dentro do bolso da calça, ele sorriu. Jungkook!

— Beleza, vamos para festa! — comemorou Tânia indo se trocar. Ficando animada com a presença dele ali me levanto da cama, parando em sua frente.

— Dizendo a verdade, não sou nem um pouco fã de festas — declarei baixo, não querendo acabar com a felicidade de Tânia. Se bem que ela já sabia disso.

— Eu muito menos.

— Só estou indo para me distrair das provas

— E eu para te ajudar a controlar a criança ali — apontou com a cabeça na direção de Tânia, que cantava alegre no banheiro. Não precisava de ajuda, era só dar um chutão nela que ela voltava em si, mas iria fingir precisar de ajuda só para camuflar minha vontade de ficar perto dele.

Pegando o olhar do rapaz em meu corpo provoco com um sorrisinho sacana:

— Vai se importar se eu ir de pijama?

— Vai se importar se no meio do caminho a gente provavelmente transar?

Seguinte, as próximas palavras sairiam por motivos de: sorrisinho malicioso demais para me deixar com uma grande vontade de provocar e o ocorrido do acampamento ainda pairando sobre nossas cabeças. Então, o que disse era de fato um sim gritante para sua pergunta:

Eu vou de pijama então.




tweety • jjkWhere stories live. Discover now