t w e n t y - e i g h t

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Eu fazia muita merda, disso ninguém podia discordar.

Mas ainda sim, em grande parte das merdas que eu fazia, eu utilizava da minha pouca inteligência. Papai gostava de brincar comigo, perguntando onde eu gastava meus últimos únicos neurônios pensativos, eu afirmava em "brincadeira" que gastava para ganhar dinheiro dando notas melhores nos boletins escolares de alunos burros.

Seria terrível para algumas pessoas tentar camuflar a mentira contando a verdade. Não para mim. Além do péssimo dom de deixar uma falsificaçõa melhor que a original, eu conseguia mentir bem. Isso quando não entrava em surto interno comigo mesma.

Minhas mentiras se possíveis poderiam se passar por verdades. Claro que não fazia disso uma normalidade, muito pelo contrário, só usava do meu talento da mentira quando necessário. A razão era óbvia.

Eu não gostava de mentir muito, afinal mentira tem perna curta, como mamãe costuma dizer. Além de nem sempre dar certo. Como tudo nessa vida, mentir também tinha sua fraqueza, e no meu caso, a fraqueza da minha mentira perfeita era o que mais convivia comigo no dia dia, o estresse.

Eu não conseguia mentir em situações de estresse ou raiva. A mentira saia toda com buracos e armadilhas para que eu mesma ferrasse futuramente. Agora, quando eu estava no meu mais pleno dia de calma, a mentira rendia.

O que não era o caso de hoje.

O dia estava estressante, minha cabeça borbulhava em pensamentos confusos e irritantes, o que me deixava vulnerável para tudo. Então eu implorava que nada mais acontecesse durante as quatro horas restantes do dia, ou melhor, da noite. 

Não sei se aguentaria encobrir minhas mentiras com facilidade.

Como de costume, enquanto andava de um lado para outro no pequeno quarto, tentava aliviar a tensão em meus ombros. Apesar de que com as batidas na janela eu entendi que a tensão do dia estava decidida a me deixar a ponto de infartar.

Relutei em abrir a janela, mas penso que se caso não fizesse a boa ação do dia, muita merda poderia acontecer a partir dali. Com um resmungo ando a passos pesados até a janela, abrindo-a com visível irritação.

Era ele. Óbvio.

Diferente do que eu imaginei, Jungkook não estava com um sorriso provocador. Não emanava aquela bendita áurea de quem apareceu apenas para me tirar do sério. Pelo contrário, ele demonstrava estar irritado.

Sem dizer nada apenas dei passagem para que ele pulasse a janela e entrasse de uma vez no quarto. Meio sem jeito andei até o outro lado do quarto, escorando-me na parede e observando ele fechar a janela. 

Jungkook fez o mesmo que eu após fechar a janela. Escorou na escrivaninha um pouco mais para o lado, cruzou os braços e ficou me encarando. Ah. Seu olhar naquele momento me deixava mais nervosa do que o necessário.

Como se pudesse ler o que acabará de pensar, por segundos ele desviou o olhar, analisando meu quarto.

— Onde está Tânia? — sua pergunta era simples, mas sua voz deixava difícil de responder sem que eu demonstrasse o quanto seu lado irritado mexia comigo.

— Está com a prima — troquei o peso do corpo de uma perna para a outra. Um leve levantar de uma única sobrancelha dele me deu a entender que ele queria um pouco mais de explicação. — Duas das primas dela também estudam no colégio, de vez em quando Tânia passa à noite com elas, é isso — encolhi os ombros, não dando muito importância para o assunto.

Calmamente soltando a respiração ele voltou a me encarar. Tremi com a intensidade do olhar. Diversos pensamentos travaram minha cabeça. Além do questionamento do que ele fazia ali, havia também as possíveis situações as quais ele poderia desencadear em uma conversa estranha sobre o dia de ontem, talvez sobre o clima bizarro entre a gente, ou por qual razão eu mostrei meus seios para o refeitório, ou pior...

tweety • jjkWhere stories live. Discover now