t w e n t y - f o u r

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Eu era burra.

Tá certo que isso não era novidade, mas caceta, eu era muito burra.

— Meu pé tá quebrado, meu pai me fez andar por aí com uma cadeira de rodas, odeio usar essa bendita dessa saia e eu sou burra. 

— Tornozelo torcido, não pé quebrado. O resto tem solução, agora, você não é burra, só está com preguiça de estudar. 

Não importava as tentativas fajutas de Tânia. Eu continuaria com meu drama. A razão por todo drama logo cedo era os estudos. Para muita coisa eu era inteligente, para o restante eu era burra. O restante que me referia eram todas as matérias em si. Acho que de todas, história era a única a qual me saia quase bem.

E não esperava ter começado o dia chorando, mas aconteceu. O professor me perguntou qual era o valor do x e eu comecei a chorar por não lembrar a resposta, ou por não saber mesmo.

Eu já sabia que era burra, mas naquele momento estava percebendo meu alto nível de burrice. Não queria nem mesmo saber como durei tanto tempo sem reprovar.

— Eu não consigo! O que é comprimento de onda Compton?! Por que isso existe? O que isso vai servir pra minha vida?! — eu não brincava quando dizia estar chorando, eu literalmente estava chorando por desespero.

Em algumas semanas iria começar a temporada de provas. E apesar de nos anos passados ter me dado bem, conseguido uma nota razoável, esse ano eu estava o desespero em pessoa. Os anos foram se passando, as matérias tornando-se ainda mais difíceis e eu ficando cada vez mais burra. 

Não aguentava mais. Desde o começo do ano fui bombardeada com matérias complicadas e surreais. Algumas que nunca me serviriam de nada na vida, mas que eu era obrigada a aprender e por cima tirar notas boas. Estudar em um colégio interno não ajudava muito, era tudo cinco vezes mais difícil.

Na lógica dos professores, o tempo que não tínhamos em sala de aulas devería ser aproveitado em estudos. A questão era: eu odiava estudar! Se fosse por mim, teria pulado da quinta série direto para a faculdade. Ou talvez nem faculdade.

Eu gostava de gastar meu tempo livre com coisas fúteis. Gostava de olhar pro teto e as vezes gastar minha pouca inteligência com coisas sem sentido. Mas precisava honrar o dinheiro suado que meus pais gastavam comigo, então tentava sempre estudar quando podia.

Mas eu era burra! Tudo entrava por um ouvido e saia pelo outro! Não era nem modo de falar, era a pura verdade.

— Rosellyn está chorando de novo. Ah, amanhã é a prepararão para a temporada de provas — constou Talles sentando-se ao meu lado. Junto dele estava Yuri. Mas o rapaz apenas ignorou minha existência e continuou focado em seu suco. — Você sempre faz isso, por quê? 

— Porque colégios são uns saco e eu sou burra — bato com a testa na mesa, chamando a atenção do pessoal na mesa ao lado. Doeu, porém não mais que minha alma chorando por eu já saber que em meu futuro tiraria um zero em todas as provas.

Sempre soube que chegaria o momento daquele surto. Ano passado já havia visto pessoas surtarem por também estarem sobrecarregadas de matérias excessivamente estressantes, então muitos alunos já estavam cientes que aquele momento chegaria para eles também. Queria poder gritar dizendo não ser um robô capaz de absorver tudo em questão de segundos, porém não tinha muito o que fazer a não ser tentar e tentar.

Porém, eu era a merda de uma humana estressada e burra. Combinações essas que não deveriam existir. 

Qual é o drama? — nem mesmo a voz reconhecível por meu canal auditivo fez com que erguesse a cabeça.

tweety • jjkWhere stories live. Discover now