f o r t y - f i v e

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No fim das contas acabei aceitando, não tão espontâneamente, o convite de Jungkook.

— Por que não me disse que tinha um carro?

— Você nunca perguntou.

Era incrível o quanto minha vontade em acabar com a raça do infeliz havia crescido gradualmente de ontem pra hoje. Assim que ele me deixou sozinha na sala do laboratório eu me senti o próprio pinscher, tremendo de raiva e vontade de dar na cara dele. Caso ele não controlasse aquela boquinha esperta, ia acabar levando um chute master entre as pernas. Sendo até capaz de deixá-lo estéril.

— Ei, meu bicarbonato de ódio — chamou pegando em minha coxa.

— Me chama assim de novo e eu te chuto pra fora desse carro — parou por um tempo, olhando para o nada em questão e depois abriu um sorriso, me encarando de canto. Ah ele ia chamar! Tinha certeza absoluta que ele iria chamar novamente. Fiquei o encarando sem desviar o olhar, deixando claro que no momento ao qual ele me provocasse, eu iria lhe bater.

— Eu sei que foi um pouco maldoso o que fiz...

— Um pouco? O que você fez foi tão grave que eu diria que você está entre a vida e a morte. Uma palavra errada e adeus Jungkook — eu estava emburrada e tinha uma excelente razão para isso. Ele não podia simplesmente ter feito o que fez e logo depois agir como se nada tivesse acontecido.

Eu não chorei uma madrugada inteira só pra ele achar que podia reaparecer com um pedido de desculpas salafrário e tudo estaria bem. Não! Ele iria precisar se ajoelhar e pedir perdão.

— Se eu te comprar comida, vai melhorar minha situação com você?

— Vai, em 0,5%

— Isso não é grande coisa.

— Bem que você sabe — ignorando minha irritação ele apertou levemente minha coxa. Por um tempo fiquei encarando sua mão. Aquilo era bom, e por um tempo já havia imaginado algo daquele tipo com ele, porém: — Não se apaixone, eu posso ser pior que isso — murmurei sentindo uma imensa vontade de desabafar. Me olhou confuso.

— O quê?

— Foi o que você disse naquela dia, na primeira vez em que nos beijamos.— soltei um suspiro trêmulo. — Eu nunca consegui tirar aquilo da minha cabeça, mesmo depois de tudo. E quando você passou por mim, me ignorando daquela maneira, eu fiquei com tanto medo de ter sido apenas um brinquedo sexual pra você, que o medo chegou a virar dor e foi horrível, porquê eu não sabia nem mesmo como senti-la, eu só tive medo e tentei me convencer de que estava ao menos bem, quando eu na verdade estava terrivelmente desesperada por dentro —

Eu havia passado o dia todo me enganando, fazendo daquilo tudo uma simples experiência desagradável, quando na verdade o que eu sentia por dentro era esse puro desespero, que eu só consegui colocá-lo para fora ali, naquela conversa. Talvez eu só estivesse esperando aquele momento para ter certeza de que essa terrível sensação em meu peito não era necessária.

Jungkook não respondeu. Ele, assim como eu, ficou em completo silêncio. De qualquer maneira eu já esperava que ele fosse ficar quieto. Talvez ele também precisasse de um tempo para conseguir dizer tudo. Porque de uma coisa eu tinha certeza, Jungkook tinha muita coisa para desabafar. Então eu iria ser paciente e esperar seu tempo.

O carro andou por mais alguns minutos, com o silêncio sendo mais que presente, até então estacionar em frente à uma casa. Ele saiu do carro primeiro, enquanto eu com uma lerdeza gerada pelo súbito momento melancólico, tirava o cinto de segurança. Sendo distraída pela visão do garoto ajeitando seu casaco, observo ele dar a volta no carro, abrindo minha porta e oferecendo a mão. Aceitei a ajuda e sai do carro.

tweety • jjkWhere stories live. Discover now