s e v e n

9K 1.1K 297
                                    

5° dia de aposta. ( domingo)


Geralmente aos sábados e domingos, os alunos passavam o dia com seus pais. Eu não ficava atrás e também passava os finais de semana com os meus. E olhe que tinha opção em dobro, já que eram divorciados.

Mas, tinha às vezes que eu escolhia a companhia do colégio do que a deles. Não que fossem péssimas pessoas e coisa e tal, a verdade, era que meus pais eram estranhos.

Além de quase nunca estar em casa por culpa de seu trabalho, papai era enérgico demais. Me acordava às cinco da manhã para correr junto dele. E não existia a opção de não ir. Eu ia ou eu ia.

Mamãe era uma paranóica que eu não conseguia explicar. Ela também conseguia ser responsável e desnaturada ao mesmo tempo. E diferente de papai, ela era preguiçosa em um momento e enérgica no outro. Queria fazer tudo em um segundo e não fazer nada no outro.

Não gostava de acordar cedo quando não necessário, então meu pai estava fora de cogitação. Não tinha paciência suficiente para lidar com as pessoas, então muito menos teria para lidar com as paranóias da minha mãe.

Por isso preferia permanecer no colégio em alguns finais de semana. Mas isso não quer dizer que eu gostava. Tânia ia para sua casa todos os finais de semana. Era raro os que ela ficava no colégio. Yuri também. E quanto mais longe de mim Talles e Kris ficavam, eu agradecia.

Então eu ficava sozinha. E para acabar com minha solidão de final de semana eu comprava chocolate. Claro que com isso sempre me colocava em risco, pois era proibido a venda de produtos não autorizados no colégio. Principalmente doces.

A história era a seguinte:

O fundador do colégio vinha de uma família onde grande parte eram dentistas, então, por ter tido uma educação e infância infeliz, ele resolveu tornar a convivência de seus alunos naquele colégio da mesma forma. Então pense, a tradição de proibição de doces dura até os dias atuais do colégio. Não fazia sentindo, todos entraram em um consenso em relação à isso.

Mas dando seu jeitinho os alunos começaram uma venda clandestina de doces em seus dormitórios. Era proibido a saída dos alunos de seus dormitórios depois das 22h, mas era possível ver a circulação de sombras de alunos pelo colégio no meio da madrugada.

Eu acredito que o guarda era comprado por alguns alunos, pois quase nunca fomos pegos. Porém, se caso um dia isso aconteça, era detenção na certa, sem contar o ponto negativo que ficávamos no quadro do mês.

Era um quadro idiota onde os alunos eram expostos. Todos tinha um total de cinquenta pontos iniciais, se você contribuísse com as atividades extras do colégio, ou apenas fosse um aluno excelente, era acrescentados pontos de dez em seu quadro. Podendo chegar até em números bem altos no final do mês e fechando como melhor aluno do colégio naquele mês.

Agora, os que fossem pegos quebrando as normas, tipo comprar comida e doces clandestinos, ou transformar a calça em short e mais essas coisinhas, tinham pontos retirados.

Eu era a aluna destaque. Por ter conseguido ficar oito meses seguidos com zero pontos em todos os oito meses. Rolava um boato de que era a única no colégio a ter conseguido esse feito.

Então, por já ter perdido meu trigésimo ponto, por infelizmente ter transformado minha calça em um short, eu tentei o meu máximo para não fazer barulho e ser pega comprando chocolate contrabandeado no meio da madrugada.

Mas acredito que o universo não gostava de minhas tentativas de sair ilesa de problemas. Encostado em uma das pilastras do pátio estava ele, com as mãos dentro dos bolsos da calça de moletom e um sorriso sacana em lábios.

— Isso é proíbido — Murmurou encarando os chocolates em minha mão.

— Você ficar aqui fora também — retruco no mesmo tom de voz. Sei que não estavamos tão perto da cabine do guarda, mas mesmo assim, não queríamos arriscar ser pegos.

— Não estou fazendo nada de errado — encolheu os ombros, tentando comprovar inocência. — Já você...

— Eu preciso disso, tá legal?! — cubro minha boca ao notar que me expressei alto demais. Jungkook sorriu ainda mais.

— Precisa de pontos também, não acha? 

— Não vou ter pontos negativos se ninguém souber que estive aqui fora. 

Hm seu gemido me deixou um tanto que assustada. Era um gemido propenso a quem estava prestes a tirar meu chão. — E se alguém souber que esteve aqui fora e contar? 

— Para saber que estive aqui é porquê também estava, e se contar também vai se ferrar — falo vitoriosa.

Tirando a mão do bolso ele revela o cartão liberativo. Era um bendito cartão dado para os melhores alunos. Aquilo lhes davam alguns privilégios, como andar pelo colégio em determinados horários sem precisar ter medo de ser pego e perder pontos. Muitos alunos usavam desse passe liberativo para estudar até tarde da noite na biblioteca, treinar, repassar alguns projetos dos clubes e assim por diante, por isso sua existência era até que aceitável.

Primeiro, queria deixar claro que odiava aquele colégio e seu favoritismo com os alunos inteligentes. Segundo, que merda!

Te odeio — resmungo enquanto ele abria um sorriso ainda mais malicioso. Mas ali, naquele momento, me lembro que não me importava, se caso me importasse seria a aluna número um daquele colégio. — Ah, eu lembrei aqui, não me importo — passo por ele.

— Se descobrirem — Murmurou quando já estava me distanciando. Paro subitamente e me viro aos poucos. Ele me encarava com um sorriso atentado. — Vai pegar mau para a presidente de um clube de comportamento estudantil — cretino.

Por essa coisa toda de clube ser recente eu me esquecia que agora levava o nome de um clube nas costas. Porcaria. Jungkook me encarava sugestivo. A linguagem dos alunos me dizia que aquele olhar era de quem queria negociar.

— O que você quer? — Era possível sentir minha raiva nas palavras. Ele gostava.

— Que você coloque o chocolate na minha boca.

— É o quê?! — prendo a respiração enquanto encarava ambos os lados, me certificando de que ninguém ouviu minha voz. Revirando os olhos Jungkook sinalizou para o chocolate e depois para sua boca.

Me alimente

— V-você quer mesmo que eu dê na sua boca? — quase engasgo para dizer aquelas palavras. Com um único olhar ele confirmou o óbvio. — Oh não, não mesmo.

Sacou o celular do bolso da calça. Não sabia o que ele pretendia, mas agi rapidamente, correndo em sua direção e tentando tomar o celular. Ele agindo mais rápido ergueu o celular.

Ele nem se quer precisou abrir a boca para falar nada. Seu olhar maldoso era o suficiente para me dizer o que eu precisaria fazer ali para sair ilesa.

Murmurando em minha mente todo um alfabeto de palavrões abro a barra de chocolate, quebrando o quadradinho e oferecendo para ele. Meus modos foram de mal grado, eu estava me submetendo àquela palhaçada. Eu queria mata-lo. Deus! Como eu queria poder matar esse ordinário.

Jungkook recusou o chocolate.

— Mas você...

— Seja delicada, você está com olhar de quem quer me matar — sua voz rouca junto com a brisa gelada da noite me fez arrepiar.

— É porquê eu quero — continuou a me encarar. Revirando os olhos ajeito minha postura e mudo minha voz. — Abra a boca, Jungkook — minha voz soou o mais delicada possível, o que resultou em uma voz forçada a esconder o ódio.

Sorrindo ele abriu a boca. Coloquei o chocolate e quando voltava a afastar a mão ele a segurou, puxando-me um pouco para ele. Uma eletricidade terrível percorreu todo meu corpo, tornando o arrepio ainda mais intenso. Seu rosto próximo ao meu me deixou nervosa o suficiente para paralisar por segundos.

Inclinou um pouco mais a cabeça, deixando seus lábios tão próximos dos meus que pude sentir sua respiração. Então, sorrindo satisfeito de algo, se afastou e caminhou para algum outro canto. Deixando-me sozinha ali no escuro, com o coração palpitando.

Eu vou matar ele.

tweety • jjkWhere stories live. Discover now