e l e v e n

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9° dia de aposta.

Eu era teimosa.

Não gostava de assumir estar errada. E terrivelmente gostava de colocar culpa em quem não tinha culpa. Não importava a situação, se a culpa era minha eu fazia a questão de joga-la para outra pessoa. Tinha completa noção de que era errado e idiota. Mas era mais forte que eu, agia por impulso.

E eu odiava quando necessitava reconhecer o meu erro. Odiava precisar pedir desculpas. Meu surto com Jungkook no dia de ontem foi sem muita razão, e apesar de ser irritantemente terrível, eu ainda sim sabia reconhecer meus erros.

Então lá estava eu, lutando contra meus instintos de dar meia volta e me mandar dali, pronta para ser racional e pedir desculpas devidamente. Após respirar umas cinco vezes, na tentativa de acalmar a vergonha interna, bato algumas vezes na porta do quarto de Jungkook.

Certo, eu ao menos deveria lhe pedir desculpas pelo comportamento de ontem, e se caso ele não aceitasse, levaria com um soco, já estava sendo um grande desafio eu estar ali. Se ele não colaborasse, seria um belo desperdiço do meu esforço e do meu precioso tempo.

Pela terceira vez bato na porta, e obtive silêncio como resposta. Constato que ele provavelmente não estava ali. Mas por alguma razão sobrenatural minha mão agiu mais rápido do que eu imaginei, pegando na maçaneta e abrindo a porta.

Não sei se me impressionava mais por ter aberto a porta sem mesmo pensar ou pela porta estar aberta. Só pelo motivo de estudarmos em um colégio interno já era meio que obrigatório ele e seu companheiro de quarto trancarem a porta.

Entrando ao quarto vejo que ele realmente não estava. Encolhendo os ombros coloco em minha cabeça que ao menos tentei lhe pedir desculpas, a culpa foi toda dele por não estar no quarto.

Dou meia volta para ir embora, só que de repente noto algo bem interessante. O quarto tinha somente uma cama. Em todos meus anos vividos naquele colégio nunca ouvi sobre alguém que tinha o quarto somente para si. Todos eram obrigados a dividir o quarto com alguém.

- Filho de uma cretina - agora sabendo que ele não era obrigado a dividir o quarto, minha revolta com ele foi maior. Era agora que me recusava a lhe pedir desculpas, ordinário.

- O que está fazendo aqui?

- A porta estava aberta! - pulei com o susto levado. Deus, ele estava no quarto. - Minha nossa, você estava...- minha voz empacou na garganta ao notar que ele estava só de toalha. Os cabelos levemente úmidos, caindo sobre seus olhos, e suas malditas tatuagens todas amostras. Tatuagens essas as quais eu tinha uma secreta queda e o idiota vivia as escondendo.

A toalha enrolada em seu quadril permitia-me ter uma visão limpa de todo seu torso. Não havia percebido antes o quanto ele era forte. Por mais que ainda seja magro e sua cintura fina, ele era forte. Tinha a porcentagem perfeita de músculos. Ah, deveria ter sacado isso quando ele me pegou ao colo. Meu corpo estava longe de ser magro e mesmo assim ele me aguentou.

Noto que estava encarando demais seu corpo. Rapidamente me viro de costas para ele, proibindo meus olhos traíras a entregar que gostava do que via.

- Eu estava no banho - juro por Deus que não havia escutado barulho algum de água. Era o nível alto de burrice me deixando desatenta aos detalhes.

- Você é irresponsável ou o quê? Desde quando tem tanta confiança nas outras pessoas para deixar a porta destrancada? - merda! Merda! Merda! Merda! Mesmo estando de costas a porcaria do reflexo na janela ainda me permitia ter a visão provocadora. Fecho os olhos.

- Achei que tinha trancado, mas percebi que não quando escutei você invadindo meu quarto.

- Não invadi coisa nenhuma! - Ele não disse nada em relação à minha negação, mas imaginava que em seu silêncio ele me encarava da maneira mais debochada que podia. - Invadir é uma palavra forte, diria que foi um convite indireto, já que sua porta estava aberta - senti que ele revirou os olhos. Ah!

- E o que você queria no meu quarto? - perguntou malicioso. Sabia que ele não perderia a oportunidade.

- Não pense errado, seu pervertido. Estou aqui por um propósito digno.

- Que seria?

- Pedir desculpas.

Sua risada rouca e baixa me atingiu com força. Era uma risada repleta de deboche. Cretino.

- Então peça.

- Desculpa - eu sentiria vergonha pela forma extremamente baixa que lhe pedi desculpas, porém, sentiria vergonha se caso tivesse vergonha na cara. Já que o caso não era esse, eu estava pouco me importando.

- Não sei se vou poder considerar isso como um pedido de desculpas, eu não ouvi - era claro que ele não iria deixar por aquilo.

- Desculpa - ergo um pouco mais o tom de voz.

- Ainda inválido.

- Aí caramba! Eu estava errada, Brad foi o culpado, não deveria ter surtado com você, fiz por estar irritada com a situação, mas você quer o quê como desculpas? Quer que eu me ajoelhe?

Péssima hora para ter me virado. Assim que tive contato direto com seus olhos noto a grande burrada que foi usar justo àquelas palavras. Isso para não falar o quanto sua imagem pós banho estava mexendo com meu psicológico.

- Não patricinha, vamos começar devagar. - Sua toalha era vermelha, garanto que meu rosto não estava diferente da cor do tecido. - Um pedido de desculpas correto vale por enquanto.

- Vá se ferrar - ele sorriu, descaradamente gostando da minha irritação.

- Com prazer, mas por agora aceito apenas um pedido de desculpas.

Precisei respirar fundo e não surtar. Controlando a vergonha eu disse:

- Jungkook, meu comportamento de ontem foi ridículo. A culpa não foi sua, e você estava tentando me ajudar, então me desculpa pela maneira a qual te tratei - minhas palavras foram corridas, quase impossíveis de se entender. - Era só isso, agora posso ir embora?

- Não.

- Ah, por que?

- Devo algumas desculpas à você também. Sei bem o quanto posso ser irritante, e sei que não está sendo fácil para você me aguentar - sorriu de canto. - E também por ontem. Fiquei com ciúmes por você ter ido lá, e não foi certo ter brigado com você quando o único culpado ali era o idiota do Brad.

Ciúmes. Ah. Ele assumia ter ficado com ciúmes tão facilmente. Chegava ser invejável sua facilidade em expor sentimentos. E por Deus, eu precisava sair daquele quarto antes que minha mente se tornasse um total caos.

- Ótimo, estamos resolvidos. Adeus - apressada para sair dali e acabar com aquele sofrimento interno de humilhação, acabo não prestando muita atenção onde andava.

O arrependimento bateu forte quando tropeçei no tapete, caindo de quatro. Mas não sem antes levar uma toalha comigo. No desespero da queda eu apenas procurei algo que pudesse segurar, achando justa a única peça de tecido mais importante daquele quarto.

Se antes meu rosto estava vermelho, naquele momento ele estava o próprio sangue. Com toda força de vontade do mundo mantive meus olhos fechados. Me conhecia bem o suficiente para saber que em qualquer brecha meus olhinhos nervosos iriam espiar sem remorso algum.

- Não foi assim que imaginei você me vendo pelado pela primeira vez - murmurou humorado. Sinto tudo dentro de mim esquentar.

- Estou de olhos fechados!

- Pode abri-los, não vou me importar de você olhar.

- Mas eu vou.

- Não é como se você não quisesse.

- Eu não quero - tento me proteger.

O silêncio no quarto se seguiu pelos próximos segundos depois das minhas palavras. Ambos preferiram o silêncio constrangedor do que palavras constrangedoras. Nervosa estico meu braço, entregando-lhe a toalha. Assim que o tecido deixou minhas mãos levanto-me com rapidez, na urgência da procura de deixar aquele lugar. Espero sua provocação assim que tentasse deixar o quarto, no entanto, ao invés de palavras apenas escuto sua risada baixa e humorada.

Já no extenso corredor cheio de portas dou um tapa em minha própria cara e murmuro o que me deixou bastante inquieta por longas horas seguidas:

- É claro que eu queria ver.

tweety • jjkDove le storie prendono vita. Scoprilo ora