n i n e t e e n

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Havia inúmeras razões pela qual eu não queria que chamassem meu pai. Mas iria listar as três mais importantes.

1° Meu pai era médico.

2° Ele era meu pai.

3° Eu quebrei meu pé.

Tá, exagerei, como a enfermeira havia dito, eu apenas torci meu tornozelo. Não importa, um ou outro, essa porra dói.

Queria voltar ao passado e avisar ao meu eu de onze anos que não era nem um pouco legal quebrar a perna, ou torcer o tornozelo, só para andar com um gesso para cima e para baixo. E que devesse parar de invejar o Carlinhos da quinta série por estar com a perna engessada e cheia de mensagens escritas por alunos burros.

Doía.

E doía muito, a dor só passou depois que imobilizei o tornozelo e tomei aquela paradinha lá que sumia com qualquer dor...qual é o nome mesmo? Ah é, droga da pesada. Também conhecida como morfina.

Papai avisou que o remédio me deixaria um pouco drogada se caso eu não dormisse. Eu não dormir. Então estava parecida com uma idiota chapada. E meu medo por terem chamado meu pai era esse. Eu estava num hospital. Pelo grau do ferimento eu acabaria parando em um hospital de qualquer maneira, mas meu pai não estaria me atazanando.

Depois que se aposentou do mundo dos esportes, meu pai embarcou no mundo da medicina. Se apaixonou e estudou para virar médico. Desde então eu fui sempre bem cuidada. Mas o caso é que papai virou o maníaco da saúde. Eu espirrava e lá estava ele com o antialérgico, remédio para gripe, xarope e tudo que tivesse a palavra remédio escrito.

E estava faltando muito pouco para ele colocar todos os médicos de plantão do hospital naquele minúsculo quarto para cuidar da filha acidentada. Porcaria.

— Eu quero ir pra casa — cansei de ver paredes brancas e de ter pessoas me tocando a todo momento. Queria meu quarto, queria minha cama cheio de ursos de pelúcia.

— Você já vai ser liberada — Papai anotava algo em sua plaqueta. — Isso é para você aprender a não ficar correndo por aí sem tomar cuidado — ironizou olhando-me debochado.

Ele, assim como a vice, não sabia a verdadeira história do ocorrido. Para não causar uma confusão maior ainda, resolvi esconder o fato de que estava ali por culpa de Brad, que fugiu assim que me viu se machucar. Típico de um escroto.

— É...bleh — infantil, sei, mas estava dopada, colocaria culpa de todo comportamento infantil na morfina. Tudo culpa da morfina.

Morfina feia.

— Ótimo, vou ligar para sua mãe e avisar que já está com alta. E vou avisar a vice que você está melhor — saiu do quarto já digitando em seu celular o número de mamãe.

Solto um resmungo doloroso. Eu queria muito sair dali. Já estava bem, a morfina já havia feito efeito. Não sentia mais dor alguma, só estava ficando meio drogada. E foi aí que lembrei. Encostado na janela, com os braços cruzado acima do peito, ele me olhava diretamente.

A porta bateu, trancando todo o barulho para o lado de fora. E com o silêncio repentino no quarto em meu cérebro tocou um sino impertinente enquanto eu o encarava.

— Jungkook — chamo sentindo que deveria manter a boca fechada, mas sem conseguir. — Você é um idiota — só fui entender o porquê do sino quando o garoto sorriu de canto.

Ah, merda, ele era bonito. Odiava ele por isso.

— Está melhor? — questionou aproximando-se. Sua voz estava rouca, supostamente pelo tempo em silêncio.

tweety • jjkWhere stories live. Discover now