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6° dia de aposta.

Todos os anos, uma vez no ano, todos os professores de Ed. Física se reuniam em pró de um único objetivo: reforçar o ódio dos alunos por educação física.

Por alguma razão era muito importante fazermos teste de primeiro socorros em nossos colegas. Todos, literalmente todos do colégio eram obrigados a participar.

O pátio do colégio ficava lotado de alunos e macas brancas improvisadas. E passávamos um dia inteiro fazendo um exercício extremamente chato, mas que valia nota. Razão pela qual ainda me esforçava para ao menos ficar com uma boa nota no boletim.

— Você pode ficar quieta apenas por dois minutos, tem como? — Resmunguei para Tânia, deitada de barriga para cima sobre a maca em minha frente.

— Não consigo, estou agitada — ela deveria repousar silenciosamente para que pudesse terminar o curativo falso em sua cabeça. Em dois minutos eu terminaria aquilo, mas não, ela não conseguia manter o corpo imobilizado nem por míseros e irritantes dois minutos. — Já pensou que essa aposta com Jungkook tenha um outro propósito? —

— Psiu! — Chiei, observando as fileiras de macas, para ter certeza de que ninguém tenha ouvido. E sim, a aposta tinha sim um outro propósito, isso estava mais que na cara. — Claro que sim, afinal acho que não seria ele se não tivesse —

— Já pensou que ele está apenas com intenção de te comer?

— Meu Deus, garota! — Exclamei espantada com suas palavras.

— Qual é o problema? — Perguntou um dos professores parando bem ao meu lado.

— A paciente com o ferimento na cabeça parece não ter mais pulsação — eu disse, dando um beliscão em Tânia e tentando arrumar uma boa desculpa.

Enquanto o professor buscava o pulso da garota, ela forjou uma cena de desmaio e se abanou.

— Ah, minha cabeça dói tanto, acho que é por isso que não tenho mais pulso — o professor grudou o olhar no meu, observando-me por cima dos óculos quadrado. Sorri culpada.

E foi assim que acabei levando um olhar de advertência e sendo obrigada a trocar de dupla. Ocasionalmente pegando Jungkook como dupla.

Não era no mínimo estranho e peculiar tal coinsidência? Havia muitos alunos aguardando sua vez, e incrivelmente o professor designou logo Jungkook para ser minha dupla.

Era no mínimo assustador. Porém, isso talvez seja apenas o famoso clichê romântico tendo que ser desenvolvido na trama da minha vida.

Sinto muito murmurou Tânia, olhando para trás enquanto caminhava com relutância para a frente de todas as fileiras.

Um momento depois Jungkook sentou-se à cadeira ao meu lado. Deixou as mãos descansarem entre os joelhos e ficou me encarando.

— O que foi? — Perguntei um tanto que nervosa com a intensidade do olhar. Ele sorriu.

— Como foi sua noite? — Senti o friozinho no estômago com a possível intenção da pergunta, e não sabia dizer se era uma sensação boa ou ruim...espera, na verdade era péssima.

— Uma porcaria, e a sua? — Questiono largando o lápis e lhe dando total atenção.

Se sua intenção era tocar no assunto do que aconteceu ontem, ele estaria com péssima sorte. Eu estava disposta a me esquecer do que fui obrigada a fazer, e de tudo o que envolvesse nossa aposta.

Interessante revirei os olhos. — Mesmo sabendo que basicamente tudo te deixa irritada, vou perguntar, a culpa dessa irritação matinal foi as poucas horas sem dormir? — Ele estava nitidamente tentando me provocar.

— Quem me dera ao menos ter dormido algumas horas. Por alguma razão irritante não peguei no sono a noite inteira.

— Então em quem você pegou?

Fiquei sem palavras por um instante. Ali, sentada, com a boca ligeiramente aberta.

— Isso foi algum tipo de indireta? 

O sorriso dele aumentou.

— O que você acha? — Piscou, e voltou a olhar para a lousa improvisada. Idiota. Eu não poderia lhe dar um soco naquele momento, havia muitos professores ali.

— Hm, certo...você poderia...— Murmurei olhando na direção da maca, e tentando esquecer sua idiota provocação, ou eu acabaria fazendo alguma coisa, como lhe dar um chute.

— Não posso. Sou um cidadão não acidentado, e não tenho coração — penso comigo mesma que não era bem aquilo que ele queria dizer, mas pensando aqui, ele realmente poderia não ter um coração.

Sem opção e com pouca vontade de prolongar aquilo, sentei na maca e esperei ele usar de sua boa vontade para acarbamos logo com aquele tormento.

A tarefa principal ali era que deveríamos fingir que sofremos um acidente, e nosso parceiro se passaria por algum socorrista. E para princípio, era necessário ter certeza de que o paciente estava bem, se o ferimento não era de escala grave. Tendo tudo observado, era necessário anotar e então começar a fazer o curativo.

Apesar de ser apenas uma atividade colegial, era tudo bem feito. Os ematomas e arranhões ganharam um tom de seriedade ao serem feitos com maquiagem. A razão para isso tudo eu não sabia, apenas aceitava por motivos de necessidade de notas.

— Paciente com ferimentos leves nos braços, pernas, testa e um leve arranhão no canto do lábio sua aproximação me deixou atônita. Seu polegar deslizou no canto de meus lábios, próximo ao arranhão falso. Senti minha pele estremecer com o toque delicado. Marcando meus ematomas no papel, ele voltou a sorrir. — Frequência cardíaca —

— Seja rápido — estiquei meu pulso para ele. Fechei os olhos, preferindo não observar os olhos de Jungkook me examinando tão atentamente. Eu podia lidar com tudo, menos com aquele bendito olhar.

Aquele babaca era provocador, irônico, charmoso, esperto, zombador e um tanto que egoísta, um combo perfeito de problema. Esse tipo era o pior de todos, pelo simples fato de sempre conseguir o que queriam.

Sendo mais forte que eu, abri ligeiramente um dos olhos.

— Estável — disse ele. Sua outra mão sem muita, ou talvez com muita intenção, ficou em minha coxa, como se tivesse feito o ato distraidamente. Uma onda de calor disparou pelo meu corpo, principalmente onde ele tocava. A frequência cardíaca da paciente se elevou com o contanto físico — disse ele, sorrindo de canto.

— Escreva isso e eu esfolo a tua cara! — Tentei soar intimidadora, no entanto parecia mais que eu estava me divertindo com a situação.

— Devemos anotar tudo, não se esqueça disso — disse afastando-se apenas para pegar na gaze e o restante dos primeiros socorros improvisados, e depois voltou, levemente afastando minhas pernas e colocando-se entre elas. Acho que iria morrer. Ou talvez ele iria morrer.

— Isso não é necessário — reclamo. Ignorando meu resmungo ele fingiu observar meu ferimento na testa e anotou algo no caderno.

— Já disse, estou fazendo o que foi mandado.

— Mas continua não sendo necessário você ficar entre minhas pernas — instantaneamente desejei retirar o que disse. Mas já era tarde. O sorriso pervertido surgiu lentamente em seus lábios.

Uma das professoras passou ao nosso lado. Jungkook reprimiu o sorriso e fingiu estar 100% concentrando. A professora avaliou o que acontecia ali, acenando silenciosamente em confirmação o trabalho do garoto. Ah vá a merda! Ele não estava fazendo nada demais para receber selo de aprovação!

Bufei descontente quando ela voltou a andar.

— Viu? A professora quer que sejamos minuciosos com tudo.

— E o que você quer? — A pergunta poderia ser confusa para qualquer outra pessoa, mas não para ele. Seus olhos se fixaram nos meus. Por dentro ele estava sorrindo, tinha absoluta certeza disso. — Além daquilo completei.

— É fácil, você sabe que quero você.

— Você só quer brincar comigo.

Não só isso.

tweety • jjkWhere stories live. Discover now