t w e n t y - t h r e e

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Minha mãe era barraqueira.
Meu pai era exagerado.
E eu nasci uma mistura dos dois com um bônus bem grande de inquietação.

Era fresco em minha memória papai afirmando diversas vezes que eu necessitaria aguentar ficar por no máximo quatro semanas em casa repousando, sem fazer esforço físico algum. Assumia sem vergonha, no fundo até mesmo com certo orgulho, que aguentei cinco dias.

Juro que havia tentado me tornar amiga da preguiça e ficar essas quatro semanas numa boa. Mas foi impossível ao nível de quase me deixar surtada ao ponto de arrancar aquela bendita tala na base do dente.

Surtei para meus pais e consegui que eles me deixassem voltar para o colégio. Caso contrário, afirmei que pularia a janela em algum surto derivado do tédio. Mas, porém, entretanto, contudo, todavia, meu surto resultou em um pequeno equívoco. Mesmo dando-me passe livre para voltar ao colégio, eu apenas poderia voltar se usasse uma cadeira de rodas como auxílio.

Tamanha barbaridade foi sugerida por papai. Era bem óbvio. Sem muita opção de negação lá estava eu, agora no colégio, sentada em um dos bancos afastados da bagunça de alunos, olhando com questionamentos para a cadeira de rodas parada em minha frente.

— Seu pai... é muito exagerado — Constou Tânia encarando o mesmo que eu. Só que sentanda de cabeça para baixo no banco. Se eu me atravesse a fazer aquilo, sem dúvidas minha pressão diria adeus assim que levantasse.

— Não é novidade — foi a única coisa a dizer antes de soltar um suspiro e jogar minha cabeça para trás, encarando o céu nublado. — Eu estou cansada, sinto que esgotei minhas energias, o que é quase impossível. 

— Jungkook? — perguntou acertando de primeira a razão da minha falta de energia. Dando uma cambalhota atrapalhada ela sentou-se corretamente ao meu lado, agora sorrindo feito idiota. — Por que não assume que gosta dele? Essa coisa que sente por ele já vai fazer três anos. 

— Não me lembra disso, eu detesto lembrar disso — resmunguei cobrindo a cara com as mãos.

— Sempre afirmei que você deveria ter se confessado assim que começou a gostar dele — eu queria poder lhe dar um soco, mas ela devolveria.

— Ah sim, imagina como seria revelar para um cara que praticamente acabou de chegar no colégio, que sem mesmo trocar uma palavra com ela, já deixou uma idiota patética apaixonada por ele. Ele ia me chamar de maluca.

Me lembrava do dia que Jungkook chegou ao colégio. Me lembrava perfeitamente dos dias que passei o observado de longe, mas morrendo de medo de me aproximar. Vamos ser sinceros, Jungkook era muito areia pro meu caminhãozinho. Além do mais, ele estava sempre rodeado de pessoas, principalmente garotas. Apesar de não ser tímida, eu sempre gostei de manter o básico de amigos, e não um colégio inteiro me bajulado. Gostava grandemente de não ter muitas pessoas, somente aquelas que eu confiava muito.

Então contar para Jungkook que gostava dele naquele tempo estava fora de cogitação. Se hoje é difícil contar, por diversas razões pessoais, tenho certeza que três anos atrás seria impossível. Mesmo tendo plena confiança em mim, e me sentindo bem comigo mesma, ainda sim acreditava que não era muito suficiente para ele. Apesar de querer ser.

— Às vezes acho que ele gosta de você. Tipo, bastante.

Não foi minha intenção, mas comecei a rir. Não de ironia, minha risada era um tanto que nervosa, uma risada de alguém que estava secretamente apaixonada, porém supermega apavorada.

— Às vezes eu quero realmente acreditar que ele gosta, porque eu confio nele de uma maneira estranha e irritante. As coisas que ele faz me deixa com a certeza intacta, mas ainda sim tenho medo. Ah, ele me deixa maluca.

tweety • jjkWhere stories live. Discover now