t w e n t y - s e v e n

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Eu tinha manias.

Uma das várias manias que me habitavam era a mania de fugir das coisas. Quando me sentia assustada demais em minha cabeça surgiam duas opções: A primeira era me jogar ao chão e me fingir de morta, assim como um gambá. Porém tal opção era humilhação demais, precisava preserva a pouca imagem que tinha. Que não era nada boa, mas mesmo assim, precisava preservar.

A segunda opção era a que mais usava para tudo. Eu fugia. Se podia me esconder, eu me escondia, se pudesse mudar de país e trocar de nome, também faria. Mas é aquela coisa, a verdinha não podia me ajudar nesses momentos. Então eu apenas me escondia.

E eu me escondia para tudo. Aos oito anos, quando fui levada para tomar uma injeção, me escondi em uns dos escritórios do hospital, meus pais levaram horas para me acharem. Naquele dia eu aprendi duas importantes lições:

1° Caso fizesse mamãe passar estresse novamente, iria por mais uma vez conhecer seu lado demônio.

2° Não adiantou merda nenhuma eu fugir, tomei a injeção de qualquer jeito. Apenas adiei o momento.

Mesmo tendo consciência de que ora ou outra iria dar de cara com a situação constrangedora, eu preferia adiar o máximo de tempo que poderia.

Era por essa razão que passei as duas últimas aulas ajudando a tia da limpeza a limpar os banheiros. Claro que aí aproveitei a situação para matar dois coelhos com uma cajadada. Fugia das aulas e da pessoa que assombrava meus pensamentos.

— Ha! Agora quero ver dizerem que eu não sei limpar um espelho! — vanglorei-me enquanto encarava meu reflexo no espelho mais limpo que minha alma. Sorrindo, Dina, conhecida carinhosamente como a tia da limpeza, disse:

— Você não devia estar aqui. Seu tornozelo está machucado, e se pegarem você aqui estará bem encrencada.

— Tô de boa, a vice me ama. — me sentei sobre a bancada da pia. Dina, com a mão sobre a cintura e um pano no ombro esquerdo, me advertiu só com um olhar. Não era à toa que Tânia dizia que tremia de medo quando levava bronca da mulher.

— Você já lavou bastante privada, agora vá embora antes que eu resolva virar a tia malvada.

Só não iria hesitar pelo motivo de que o sinal a bater naquele momento anunciava o intervalo. E por ela realmente ser bastante conhecida por ser brava no colégio todo.

— Trabalho encerrado por hoje — Dina, demonstrando ter se esquecido de que já estávamos em final do primeiro turno de aulas, cerrou os olhos em minha direção. — Obrigada tia!

Não queria nem mesmo imaginar a bronca que iria levar da vice por ter matado duas aulas direto.

— Eu te odeio — disse Tânia encontrando-me no corredor que dava ao refeitório. — Quando for matar aula me avisa, sua cretina. Assim eu vou junto — inocente era quem acreditava que Tânia era uma boa aluna.

— Pode deixar.

Não que eu quisesse ser uma péssima amiga naquele momento, mas minha atenção estava distraída tentando achar uma certa pessoa, que provavelmente estava vestida com algum casaco preto. Tinha medo de topar com ele discuidadosmente.

— Ainda fugindo dele? — com a malícia transbordando em sua voz Tânia provocou. — Já peguei vocês em situações bem comprometedoras, então não se atreva  a dizer que está assim pelo quase beijo de ontem.

— Foi diferente. Senti que não era uma simples provocação.

— Então se acostume, acredito que vai haver muitos beijos sem provocação e com provocação. — lhe dei um tapa no braço.

tweety • jjkWhere stories live. Discover now