Capítulo Dois: Fé renovada

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POUCO SE FALAVA da família real em Théocras. Seu Rei, Jarghan II, era pouquíssimo comentado mesmo pelas línguas mais coscuvilheiras. Isso se devia ao fato de que há anos seus súditos não tinham quaisquer notícias do monarca.

O que se dizia, entretanto, era que, logo após retornar de uma campanha militar que culminou com a derrota do reino de Torandhur, o rei se exilou dentro do palácio, acometido por uma loucura que ninguém conseguiu explicar ou curar. Não tinha paz, diziam alguns, tinha ataques, rompantes de fúria e alucinações. Enlouquecera e seu estado catatônico contínuo não pôde ser revertido nem mesmo pelos médicos mais brilhantes de Asther.

Então, o governo de todo um reino em ascensão caiu nas mãos do Conselho do Rei, um grupo seleto de homens tão ambiciosos e inescrupulosos quanto o rei que serviam. O mesmo Conselho que, ao invés de dar fim à guerra que se arrastava havia décadas, continuou a disseminar o caos e a violência desenfreada por todos os cantos de Nova Eghau, dominando reino após reino e sugando deles tudo o que tinham a oferecer como um parasita, uma sanguessuga.

E todo esse poder, em breve, num futuro que eu esperava que não estivesse tão próximo assim, seria passado para o único filho do rei, o jovem e tímido príncipe Sarghan, de quem tão pouco também se falava.

Não pude nominar os sentimentos contraditórios que me tomaram naquele momento.

Estiquei-me na ponta dos pés, correndo os olhos pela fileira de cavaleiros para encontrá-lo. O príncipe vinha em minha direção. Tive um vislumbre de sua figura, jovial e imponente. Uma massa de cachos castanhos encimados por uma coroa dourada reluzente e vestes luxuosas de veludo bordadas: gibão e capa nas cores da família real, vermelho e dourado. Se chegasse um pouco mais perto, poderia ver o seu rosto. Não sabia se deveria me sentir ansiosa por isso como me sentia. A realeza já havia me deslumbrado mais, em outros tempos.

— O que está fazendo, sua imprestável?!

Kalak vociferou sob a respiração entrecortada para mim e me puxou pelo cabelo para baixo, arrancando-me um gemido de dor. Fui forçada a me ajoelhar pela violência dos seus puxões no meu cabelo, batendo meus joelhos com força nas pedras da rua e esfolando-os.

— Curve-se diante do príncipe, criatura imunda! — rosnou de forma contida.

Arquejei, apoiando-me nas palmas das mãos enquanto continha o reflexo de gritar de volta a ele que Etéreos não se curvavam. Nunca. Nem mesmo para monarcas. Éramos mensageiros dos deuses, homem ou mulher alguma estava acima de nós. E ainda assim eu fui forçada a me ajoelhar para a passagem do príncipe, como uma mera escrava ordinária.

Cadius suplicou por meu silêncio e por minha subserviência, ao menos naquele momento, e eu entendi que seria sábio ouvi-lo daquela vez, mordendo a minha língua para me impedir de protestar.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora