Capítulo Oito: Da Guerra à Arte da Sedução

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DE POSSE DE ESPADA e escudo, parti para cima de Gorah com um brado de guerra que fez tremer o coração no meu peito.

Ataquei-o com fúria e paixão, golpeando minha espada de madeira na espada e no escudo dele ao mesmo tempo em que amparava os golpes dele com o meu próprio escudo. E a cada estalo Emera, no colo da mãe e de cima de uma das muitas sacadas do pátio interno, aplaudia, aprovando nosso embate ensaiado com gritinhos de empolgação.

Avancei destemida e confiante de minha vitória, encurralando-o numa parede até que fosse tarde demais e eu pudesse desarmá-lo com uma pancada brusca do escudo preso ao meu braço esquerdo e detivesse a ponta de minha espada a meros centímetros do seu pescoço.

Suada e ofegante, mantive a posição mesmo que meu senhor implorasse por clemência.

— Como me saí dessa vez? — perguntei pausadamente, enfim afastando minha espada da pele do seu pescoço.

— Levou menos tempo para me desarmar, mas abriu demais sua defesa nessa última investida.

Empertiguei-me com um sorriso de vitória enquanto os aplausos entusiásticos de Emera ecoavam por todo o pátio.

— Mas eu consegui, não é isso o que conta?

Gorah balançou a cabeça e limpou o suor que escorria pela sua têmpora. Desfiz-me de minha espada e escudo e me esparramei no chão, cansada. Meu senhor tirou um tempo para descansar de uma forma menos espalhafatosa do que a minha: sentou-se à beira da fonte que havia no centro do pátio enquanto o sol do meio-dia nos castigava. Dessah chegou um momento depois e nos ofereceu água e algumas frutas para que nos hidratássemos.

Passado o tempo de descanso, retomamos o treinamento sem problemas. Ao término do dia, eu estava dolorida e alguns dos meus músculos estavam rígidos. Kara muito gentilmente me preparou um banho refrescante e eu me esparramei com um suspiro na tina em meu quarto.

Ela andava pelo meu quarto carregando algumas peças de roupa consigo para estendê-las sobre a cama. Algumas delas eram vestidos de tecidos leves, apropriados para os dias quentes de Théocras, outras eram túnicas com finos bordados e mais adequadas para as noites ventosas. Eram presentes, que, além disso, incluíam botas de couro macias, sandálias de tiras delicadas para se amarrar ao redor dos tornozelos e acessórios... Mais acessórios do que eu poderia contar: braceletes, colares, brincos, anéis, adereços para se usar no cabelo e para se espetar nas roupas.

Deslizei minhas mãos pela superfície plácida; as pontas dos meus cabelos flutuavam ao redor dos meus ombros e dos meus seios cobertos pela água embaciada. Desloquei-me até a borda da tina, agarrando-a para fitar Kara.

— Ainda acho que tudo isso é um exagero — comentei com casualidade enquanto ela balançava a cabeça para discordar de mim e estendia outro vestido sobre a cama.

— Não, não é. Você já tem dezesseis anos, não é mais uma criança e está na hora de parar de se vestir e de se portar como uma.

Emera entrou saltitando no quarto nesse momento, escancarando a porta e escalando minha cama para se acomodar entre os muitos vestidos e túnicas. Sua mãe a afastou das peças, mandando que se comportasse para não amarrotar as roupas e voltando a fechar a porta para nos conceder privacidade. Pus-me de pé na tina e Kara veio ao meu encontro com uma toalha prontamente.

— Sou uma escrava, senhora. Jamais encontraria oportunidade para usar cada uma dessas roupas — lembrei-a com certa amargura, mas não havia meio de me impedir de soar taciturna.

— Então meu marido não conversou com você ainda pelo que ouço — ela me cortou com um tom enigmático.

— Conversar sobre o quê, senhora?

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora