Capítulo Quinze: Visitante Furtiva

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EU MAL PASSEI pela porta antes de ser interpelada por meu senhor, que aguardava ansioso pelo meu retorno ao que parecia. Ele assomou sobre mim, mais intimidante do que eu jamais o havia visto.

— Onde você estava?! — rugiu. — Por acaso perdeu o juízo?! Tem ideia do que atraiu para si mesma?!

Suspirei, mas não me deixei ser tão facilmente amedrontada. No entanto, também permaneci em silêncio enquanto meu senhor andava de um lado a outro, resmungando imprecações e amaldiçoando alguns deuses.

— Não posso acreditar que foi ingênua a esse ponto, Nysa! Você é mais inteligente do que isso. Deuses, eu me recuso a acreditar que aceitou um convite do príncipe Sarghan para cavalgar pela cidade e se expôs para todos conscientemente. Embora a alternativa, de que fez tudo isso sem ter noção das consequências, seja ainda mais exasperante.

Minha senhora Kara surgiu no recinto e pediu a seu marido que se acalmasse, roçando seu ombro. Meu senhor, entretanto, tornou a se afastar, andando de um lado a outro uma vez mais. Parou, finalmente, e me encarou com uma expressão ainda fechada.

— Não tem nada a dizer em sua defesa, menina?

Dei de ombros.

— O que posso dizer, senhor? Aceitei um convite do príncipe Sarghan para cavalgar com ele e o fiz com total consciência de meus atos.

— Pelos Senhores do maldito Abismo! O que eu faço contigo?! — grunhiu, afastando o cabelo dos olhos num gesto nervoso. — Vê isso, mulher?! Ela ainda admite que fez tudo de caso pensado!

— Querido, acalme-se, por favor! — Kara tentou acalmá-lo pela segunda vez sem sucesso, seguindo-o pelo cômodo de forma atarantada e um tanto desolada. — Foi um passeio inocente, não é mesmo, Nysa? Diga a ele, querida. — Minha senhora tombou o rosto suplicante para mim.

Quando percebeu que eu não abriria a boca, grunhiu e voltou a seguir o marido, pedindo em vão que se acalmasse. Meu senhor se virou para mim novamente.

— Todos certamente devem estar comentando sobre você, Nysa. Se sua luta na primeira rodada não chamou mais atenção do que o necessário, então essa sua aventura de hoje o fez. Deuses, vocês já se encontraram a sós antes, não foi? Na noite do banquete. Ambos desapareceram quase ao mesmo tempo e também retornaram ao salão num intervalo curto demais para me fazer acreditar que se trata de uma mera coincidência. O que está planejando, criança? Pensei que seu objetivo fosse vencer o torneio.

Olhei-o altiva, recusando-me a abaixar a cabeça para o seu sermão.

— E o é, senhor. Nada mudou e nem mudará — garanti.

— Então qual é o propósito desse desatino?! — ele exclamou frustrado. — Importa-se de me explicar?

Suspirei e avancei pelo recinto com ambos me seguindo com olhos ariscos e intrigados; o primeiro par pertencia a Gorah indubitavelmente.

— Não precisam se preocupar com o que faço ou deixo de fazer com relação ao príncipe Sarghan. Conversamos a sós, sim, na noite do banquete. Mas asseguro que foi apenas isso. E digo o mesmo sobre o passeio a cavalo. Não cometi crime ou injúria alguma, não que seja de meu conhecimento.

Meu senhor Gorah chupou uma respiração áspera e murmurou outra imprecação.

— Criança, não minta para mim. Eu te recebi em minha casa como se fosse da família, assim como a minha esposa. Posso não lhe conhecer de todo, mas sei o bastante para apontar com segurança que está mentindo. Seja o que for que estiver planejando, desista, eu lhe peço. Não envolva o príncipe Sarghan nisso. Ele é um bom rapaz, não merece ser ludibriado e enganado com mentiras.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora