Capítulo Quarenta e Três: A Campeã de Asther

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APAREI OS GOLPES da espada de Dashaira o melhor que pude, recuando, levando-a para onde eu pretendia de forma muito discreta. Não podia deixar que meu plano fosse descoberto antes do momento certo. Um passo em falso e eu tombaria.

Dashaira mostrou inclemência na sucessão de golpes que desferiu contra o aço em chamas do meu escudo. Por sorte, a proteção de Ília era inexpugnável.

A multidão louvou o fôlego renovado de Dashaira, cantando o nome dela das arquibancadas. O aço de sua espada refletia a luz dos relâmpagos, tal como o fogo que ardia nos seus olhos. Eu quase não era capaz de acompanhá-la — quase.

Por fim, levei Dashaira até onde eu queria, então coloquei meu plano suicida em prática. Com uma investida certeira e inesperada do meu escudo, atingi a mão de espada de Dashaira, não com força suficiente para arrancá-la de sua mão, mas o suficiente para atordoá-la com a dor por um momento. Dashaira grunhiu, recuperou-se rápido — exatamente como eu havia imaginado que faria — e com as duas mãos segurando firme na espada trouxe-a para mim. Usei meu escudo para desviá-la, mas a força do seu golpe acabou por arrancar o escudo de minhas mãos.

Foi nesse momento que lhe dei as costas e disparei pelas areias numa corrida pela minha vida. Focalizei minha espada, ainda atrelada ao escudo estilhaçado, com Dashaira no meu encalço e muito perto de me interceptar. Então me joguei contra a areia, rolando por cima do escudo e estendendo a mão para agarrá-lo, tudo isso enquanto evitava ser fatalmente ferida.

Coloquei-me de joelhos, já de posse do escudo partido e da espada em chamas que continuava presa a ele. Então me pus de pé. Agarrei o cabo e o forcei a sair, descartando o escudo tão logo estava de posse do meu Tributo da Deusa outra vez. Eu estava ficando cansada, e vi que Dashaira também. Tinha que acabar aquela luta — e depressa.

— Imaginou que seria assim? — perguntei a ela enquanto nos rodeávamos, ambas com nossas espadas e sem a proteção de nossos escudos.

— Não — negou com um balançar sutil da cabeça.

Peguei-me sorrindo e ela também. Infelizmente, o momento durou pouco. Endureci meu rosto, assim como endureci meu coração para atacá-la. Consegui acertar um chute em um dos seus joelhos num golpe de sorte — ou talvez, ela estivesse, de fato, se cansando. Mas também acabei com seu pé plantado no meu estômago, lutando para respirar pela segunda vez.

De alguma forma, acabamos as duas rolando na areia molhada, desprovidas de nossas espadas, e trocando socos e cabeçadas enquanto alternávamos ora por cima, ora por baixo. Levei dois socos na lateral da cabeça que por pouco não me nocautearam antes de conseguir tirar Dashaira de cima de mim com um pontapé na base do seu ventre.

Rastejei pela areia para recuperar minha espada perdida e ela fez o mesmo. Colocamo-nos de pé e avançamos uma para a outra, entrechocando nossas espadas. Feridas, cansadas e ensopadas, não era de se estranhar que nossas destrezas e velocidades estivessem prejudicadas. Acabamos com nossas lâminas pressionadas contra a garganta uma da outra, encarando uma a outra através de uma névoa pungente de dor e exaustão.

Recuamos nossas espadas ao mesmo tempo, num acordo tácito, e então recomeçamos tudo outra vez. Dançando, avançando, recuando, ferindo-nos entre um golpe e outro.

— Precisa ser assim — eu murmurei entre arquejos, sangue tomava a minha boca outra vez e a minha espada e a de Dashaira ainda se entrechocavam com um clangor ensurdecedor.

— Precisa — Dashaira concordou, ecoando-me.

Mas, de repente, enxerguei uma abertura na sua defesa que não enxergara nem uma vez antes. De forma impulsiva, segui os meus instintos e a aproveitei, avançando pelo seu flanco esquerdo, num golpe na diagonal que ia de baixo para cima. Risquei sua armadura com a lâmina de minha espada e, por fim, perfurei sua carne próxima ao seu gorjal, tingindo-a de carmesim.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora