Capítulo Vinte e Dois: Tâmaras Amesh

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PELA MANHÃ, UM EMISSÁRIO do palácio chegou à mansão de meu senhor para anunciar com toda a pompa e cortesia anunciar que eu estava convidada a almoçar na companhia de Sua Alteza Real e herdeiro legítimo do trono de Asther, o príncipe Sarghan. Pedi permissão ao meu senhor para ir, e ele consentiu — sem admoestar-me ou estabelecer condições de horários, uma mudança de comportamento que eu não havia me habituado (ainda).

Vesti um de meus vestidos favoritos, cuja tonalidade e cuja saia esvoaçante, que se abria em muitas camadas de tecido, lembravam-me das pétalas de uma camélia cor-de-rosa. Ainda havia um bordado caprichoso no busto, mas o decote era mínimo. Na verdade, era um de meus vestidos mais simples e mesmo eu não conseguia explicar o meu apego a ele, talvez pela cor e pelo corte transmitirem uma aura de ingenuidade e inocência. Também dispensei as joias. Minha senhora havia trançado meu cabelo mais cedo e o arrumara num penteado elaborado; mantive-o assim porque estava me sentindo bonita.

Despedi-me de todos e segui com o emissário, montada em Vento Prateado, que fora enviada especialmente para mim — outra cortesia do príncipe que eu apreciava.

E, assim, partimos em direção ao palácio real. Descobri nesse meio tempo que o emissário enviado não era um homem de muitas palavras, embora não tenha sido descortês em momento algum tampouco foi um poço de afabilidade. Suspeitei que só quisesse cumprir o dever do qual fora incumbido.

De todo modo, aproveitei o passeio, sacolejando no trote sossegado de Vento Prateado e não me escaparam os olhares estupefatos que recebi ao longo do caminho por parte tanto de homens quanto de mulheres, jovens e velhos, e até mesmo algumas crianças. Refleti sobre o significado disso até que estivéssemos perante os grandes portões do palácio, que se abriram para que o atravessássemos sem questionamentos.

Desmontei Vento Prateado uma vez que estávamos no pavilhão principal do palácio, ladeado por jardins belíssimos e vastos de ambos os lados. Outro servo apareceu e me recebeu com uma mesura, informando-me que eu deveria segui-lo. Eu o fiz e mais uma vez fui o alvo de olhares oblíquos e veementes.

Ignorei-os com meu bom humor enquanto era levada até um das dezenas de jardins que havia no palácio. Este estava mais oculto, como um segredo na curva de um labirinto, escondido e cercado por torres brancas como marfim que, com a posição certa do sol, o sombreavam pela manhã. Adorável na mesma medida com plantas e arbustos de todos os tamanhos e formatos que, juntos, formavam um intrincado de formas e tons de verde.

A água corria suave por canais largos e rasos de mármore, construídos ao longo de todo o terreno, refletindo a luz do sol em sua superfície cristalina. Pássaros vinham se refrescar nas piscinas rasas, e chilreavam e cantavam, enchendo o jardim de vida.

Num canto, notei uma tenda opulenta erguida e, sob a sombra, o príncipe Sarghan descansava, acomodado sobre um tapete grosso belamente bordado e muitas almofadas de debrum. Aproximei-me da tenda enquanto um sorriso se ampliava no seu semblante. Ele tinha uma aparência quase renovada essa manhã, como se os horrores que caíram sobre ele na noite anterior jamais o tivessem feito. Havia cor suficiente no seu rosto, e seus olhos estavam vívidos e calorosos, como eu me lembrava deles. Sarghan dispensou seu servo pessoal com um gesto e então nós ficamos sozinhos.

— Como está se sentindo essa manhã, Alteza? — perguntei mesmo que não precisasse ouvi-lo confirmar o que já sabia.

Sarghan se levantou e caminhou até mim despreocupado.

— Como se houvesse nascido outra vez na noite passada — respondeu-me com ar de galhofa. — E como a mulher adorável que salvou a minha vida está?

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora