Capítulo Trinta e Oito: A Guerreira e a Princesa Exilada

506 69 113
                                    



AS ARENAS DE THÉOCRAS ferviam naquela manhã como ferveram em todos os outros dias de combates. A multidão estava ensandecida, viera com a promessa de ver sangue, violência na sua forma mais crua e morte. Se dependesse de Ymira e Dashaira, eles teriam isso tudo e muito mais.

Era o primeiro dia de combate das semifinais do Torneio Trissolar do reino de Asther e os boatos diziam que teríamos um espetáculo como nenhum outro. Duas guerreiras de elite se enfrentariam em algumas horas. Uma delas era a própria filha do capitão da guarda real, e diziam: o melhor e mais talentoso guerreiro de que o reino podia dispor. A segunda competidora era uma ladra inescrupulosa afamada do reino de Éberus, e secretamente a herdeira legítima do seu trono.

Dashaira lutava pelo seu sonho de seguir os passos do pai, tendo sido forçada a provar seu valor num mundo que jamais a aceitaria por completo. Já Ymira estava perseguindo as suas próprias ambições sombrias: vingança e desejo de retomar o que lhe foi negado.

Era óbvio por quem a multidão pendia, até mesmo Sarghan havia comentado sobre o quão mais carismática Dashaira era em relação à sua oponente, conhecida por sua natureza impiedosa e desonrada. Mesmo assim, era nítido que a maior parte dos apostadores estava dividida sobre em quem depositar sua fé e suas moedas. Ainda que fosse absurdamente talentosa e inteligente, Dashaira não jogava sujo como Ymira, não brincava com seu oponente por mera diversão e nem mesmo explorava suas fraquezas da forma mais baixa.

E era com esse detalhe que eu me afligia. Levantei-me do meu lugar de honra no pódio com uma desculpa qualquer para Sarghan e desci as escadas, seguindo pelos corredores na direção do pavilhão onde eu sabia que as competidoras do dia aguardavam o combate começar.

Quando cheguei lá, encontrei Dashaira sentada num banco comprido de madeira, diligentemente afiando sua espada com uma pedra de amolar. Seu pai estava ali também. Ambos olharam para mim quando entrei no recinto.

— Nysa — ela ma chamou, colocando-se de pé e assentindo discretamente para o pai, dizendo que estava tudo bem.

O capitão Uhrias sorriu com cortesia para mim.

— Então você é a Nysa. Creio que não tenhamos sido apresentados ainda, sou Uhrias, pai de Dashaira — disse ele, aproximando-se com uma mão estendida.

Aceitei-a e retribuí sua gentileza com outro sorriso.

— É um prazer finalmente te conhecer. Ouço muito a seu respeito — murmurei.

— Ora, posso dizer o mesmo — ele olhou de forma divertida para a filha, que comprimiu os lábios como se o censurasse pelo comentário inconveniente.

Dashaira e eu nos entreolhamos, como cúmplices, e acabamos por excluir seu pai da conversa silenciosa que travávamos. Ele limpou a garganta e se afastou em direção à saída.

— Vou deixá-las a sós um pouco.

Dashaira ironicamente ergueu-me uma sobrancelha. Eu ri.

— Presumo que tenha vindo até aqui para me pedir para ter cautela com Ymira — ela disse, embainhando a sua espada e prendendo-a junto ao cinto de couro negro que levava ao redor da cintura.

Meneei a cabeça em negativa.

— Não, você não precisa que eu lhe alerte sobre Ymira. Conhece os truques sujos dela.

— Claro que sim — concordou com um gesto peremptório da cabeça.

Eu me aproximei dela mesmo assim.

— Mas ainda quero lhe pedir para que vença essa luta.

— Não vou voltar atrás no pacto que fizemos — assegurou-me.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora