Capítulo Doze: Jogos de Poder e de Manipulação

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O PALÁCIO REAL DE Théocras era um feito capaz de tirar o fôlego, pensado para expressar suntuosidade, mas também leveza em cada torre e cúpula erigida.

Encarcerado por trás de muralhas muito altas e muito espessas, lembrava-me de uma fera imensa e exótica engaiolada. Todo construído em pedra e mármore branco, e vitrais dourados, era a joia mais cintilante da capital e da realeza. Sua torre principal destacava-se por ser a maior e a mais imponente enquanto as outras cúpulas e demais torres esparramavam-se a partir dela de forma harmoniosa.

Os grandes portões se abriram para nós assim que Gorah anunciou sua chegada; éramos realmente esperados para o banquete.

O pavilhão frontal estava ornamentado por uma trilha de arbustos bem cuidados e o número de pessoas que se via circulando por ali era significativo. Nós os atravessamos com pressa, apresentando-nos nas grandiosas portas frontais do palácio e fomos imediatamente conduzidos ao salão principal. Tentei não parecer tão impressionada com o luxo despendido, mas admito que o interior do palácio reluzia quase tanto quanto minha saudosa Astradh. Desde o piso de mármore polido aos afrescos que decoravam as paredes e colunas via-se a opulência e o prestígio da família real astheriana.

Passamos por baixo de uma cúpula abobadada e eu notei os afrescos que a ornamentavam, a maior parte voltada para os dois deuses reverenciados em Asther, os Senhores do Abismo como eram chamados: Lumiath e Kedrall, imperiosos e impetuosos, e sempre retratados nas figuras de dois homens viris de semblantes tempestuosos.

Quando alcançamos o salão principal eu usava minha máscara de desinteresse outra vez e bem a tempo, já que todos os olhos se voltaram para nós, os recém-chegados, assim que atravessamos as portas duplas, guardadas por duas sentinelas, uma de cada lado.

O fato de que éramos os últimos a chegar despertou tanto sentimentos inofensivos, como curiosidade e intriga, quanto outros mais hostis, como ultraje e desconfiança. Encarei-os com a sombra de um sorriso quando meu senhor desculpou-se por nosso atraso, alegando um contratempo qualquer.

Nós nos aproximamos e eu olhei destemidamente para cada um deles, finalistas e patronos, assim como para alguns nobres que estavam presentes para o banquete. Reconheci os rostos de Alays, Rhiz e de Dashaira. Os demais me eram estranhos. Embora, um a um, nós fôssemos apresentados para os integrantes da nobreza.

Meu senhor se inclinou para sussurrar ao pé do meu ouvido.

— Vê o homem vestindo o gibão azul e as calças engraçadas?

Procurei-o entre os presentes e encontrei um homem de aparência roliça, pele e cabelo oleosos e maneiras muito afetadas.

— É Lorde Darcenus, da cidade de Dhandrur, um dos membros mais influentes da corte. Ele é o patrono de uma assassina chamada Zyora esse ano. E parece muito confiante de que ela será a campeã.

Olhei do homem empoado para a bela mulher que o acompanhava. Era alta e esbelta, com uma pele da cor do ébano e cabeça raspada. Usava adereços pesados e uma túnica dourada de um único ombro. Por um momento, ela percebeu meu olhar, mas não pareceu zangada ou incomodada por eu a encarar tão intensamente. Meu senhor Gorah, no entanto, tocou meu ombro para me fazer prestar atenção em outro canto do salão.

— E aquela é Dama Ketrin, a viúva de um lorde muito importante. Ela é patrona de um escravo chamado Rhegal. Muito se comentou a respeito do desempenho dele durante a primeira rodada de combate.

Olhei da mulher suntuosamente vestida em seda preta para o homem alto, robusto e ruivo que a acompanhava. Ele parecia deslocado... Não, intimidado era a palavra certa para descrevê-lo. Como se não quisesse realmente estar ali. Nem mesmo a espessa barba ruiva escondia a impressão desgostosa que puxava sua boca para baixo.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora