Capítulo Quarenta e Oito: Ascensão e Queda

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CORRI ATÉ A BALAUSTRADA, debruçando-me, mas não havia mais nada que eu pudesse fazer. Assisti em choque ao corpo do rei de Asther despencar de uma altura de mais de cem metros e bater contra o chão de pedra lá embaixo como uma fruta podre. O som que o seu corpo fez quando atingiu o solo foi brutal e horrível.

Nysa, você tem que sair daqui, Cadius me urgiu, mas eu estava paralisada pelo que acabara de testemunhar para mover um músculo que fosse.

Infelizmente, a queda de um corpo não é uma comoção a ser ignorada e não levou muito tempo para que o pátio se enchesse de pessoas que também haviam ouvido aquele ruído aterrador, dentre eles, alguns soldados portando espadas e tochas. Nem todos tinha permissão, afinal, para escapar das responsabilidades e se fartar no banquete do campeão.

— O que está havendo?! — eu os ouvi perguntar entre si, rodeando o cadáver estendido de bruços no pátio.

E, quando o reconheceram, o caos tomou conta de todos:

— É o rei Jarghan! O rei Jarghan está morto! Alguém... Alguém o assassinou! — bradavam de lá de baixo.

Eu me virei e dei de cara com Mahira, que se limitou a curvar-se por cima da balaustrada para enxergar a confusão que criara como um artista contemplaria a sua obra-prima.

— E não é que ele voou mesmo? — caçoou com um franzir intrigado das sobrancelhas.

Nós duas ouvimos passos apressados, além de ordens sendo bradadas lá embaixo para que vasculhassem o palácio e para que encontrassem o assassino do rei. Peguei sua mão e guiei-a para longe dali. Mahira veio comigo sem protestar.

Descemos as escadas e atravessamos um pavilhão amplo sem diminuir o ritmo. Se eu apenas conseguisse chegar até as passagens secretas que Sarghan me mostrara daquela vez, tínhamos uma chance de escapar do palácio com vida. Infelizmente, o ruído de botas se tornou mais e mais distinto na nossa retaguarda, de modo que me forçou a tomar atalhos na vã tentativa de despistá-los.

— Capturem essas mulheres! — bradavam os soldados. — Elas assassinaram o rei!

Corremos por um longo tempo, abrigando-nos nas sombras, sem nunca perder de vista os nossos perseguidores, que apareciam em números cada vez maiores. Eu decorara a maior parte da planta do palácio, mas admito que estava abalada demais para me lembrar de todas as rotas com exatidão.

E, finalmente, acabamos encurraladas num pátio amplo. Tropas de soldados brotaram de todas as rotas possíveis de fuga, armados com escudos, espadas e lanças. Coloquei-me diante de Mahira, protegendo-a com meu corpo.

— Estão cercadas! — declarou um deles, um homem atarracado que usava um meio-elmo. — Rendam-se e não seremos forçados a machucá-las!

Olhei ao meu redor de forma frenética à procura de uma saída. Engoli com dificuldade, lutando para reaver meu fôlego. A corrida havia exigido muito de mim, minhas costelas latejavam a cada vez que meus pulmões tentavam se encher de ar.

Olhei para todos aqueles homens. Não queria feri-los. Não queria fazer deles meus inimigos.

— Destrua-os todos, Nysa — Mahira sibilou no meu ouvido.

Nysa, não faça isso, Cadius pediu-me com tristeza.

— Você jurou destruir os nossos inimigos — ela me lembrou de minha promessa.

Fechei os olhos com força. Que as deusas me perdoem por isso. Cadius lamentou no meu íntimo quando meus lábios se apartaram.

— Queime o fogo dos profanos — murmurei assim que Mahira afundou suas unhas no meu braço.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora