Capítulo Trinta e Cinco: Confrontadas

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QUANDO ESTÁVAMOS DEIXANDO o labirinto de cercas vivas, caminhando lado a lado e trocando murmúrios, fomos abordados por uma comitiva de homens bem apessoados. Eram três ao todo. Dois deles eram altos e fortes, enquanto o terceiro era mais baixo, calvo e mais anafado do que os outros. Eles pararam a uma distância respeitosa e fizeram mesuras para Sarghan.

— Vossa Alteza.

— Senhores. — O príncipe devolveu o cumprimento com um menear da cabeça, então me indicou: — Creio que já a tenham conhecido, essa é Nysa, uma das participantes e finalista do Torneio Trissolar desse ano.

— Ah, sim — assentiu o mais alto, com pele cor de cobre, cabelo escuro ralo e olhos castanhos e frios. — Muito se tem falado na corte sobre a Fúria Prateada das arenas de Théocras, mas eu mesmo não tinha tido a chance de me apresentar, embora já te tenha visto nos banquetes. É um prazer finalmente te conhecer, de fato.

Aquiesci com um sorriso duro. O homem claramente não sentia tanto prazer ao me conhecer assim e fazia uma tentativa ainda mais pífia de tentar demonstrá-lo. Mesmo assim retribuí sua cortesia compelida com uma ainda mais fingida e insincera.

— Nysa, esse é o ministro de defesa da nação, Aedyon — Sarghan o apresentou a mim.

— Eu já te vi em ação nas arenas e reforço as palavras do meu camarada: é um prazer poder te conhecer, Nysa — adiantou-se o próximo, o segundo mais alto com uma pele dourada bonita, cabelos também dourados e rugas ao redor dos seus olhos e lábios. — Eu sou o ministro da moeda, Galenus.

Por último, o homem baixo e calvo limpou o suor da sua testa com um lenço delicado antes de dar um passo à frente.

— Eu me chamo Palamytas, sou o ministro de leis e mestre dos escribas. Posso afirmar que tem sido um deleite assistir as suas lutas nas Arenas de Théocras, Nysa. Já faz um bom tempo que não vejo o público tão inflamado por uma única competidora, devo ter ouvido seu nome pelo menos umas vinte vezes só nos últimos dias — O homem achaparrado tinha um sorriso gentil e olhos castanhos amáveis, e era o único a vestir uma longa túnica debruada que só fazia ressaltar a sua silhueta anafada ao invés de gibão e calças como os outros dois.

Foi dele que eu mais gostei. Talvez porque sentisse mais sinceridade nas suas palavras e nos seus gestos do que nos outros dois. Aedyon me parecia calculista e frio demais, o que era esperado de um ministro da defesa. Já Galenus sabia usar a lábia e ser persuasivo, como era esperado de um ministro da moeda. Palamytas, no entanto, era transparente e deveras loquaz, exatamente como um ministro de leis deveria ser.

Aqueles três faziam parte do círculo interno que governava todo o reino de Asther, eram parte do Conselho do Rei. Imaginei quais deles aprovavam os métodos brutais com os quais o exército astheriano tratava as nações subjugadas. Quantos deles no fundo me desprezavam por eu ser uma mera escrava? Ou pior: quais deles me julgavam como não mais do que uma prostituta barata e oportunista que tentava seduzir seu futuro soberano?

Sorri para todos eles de forma dissimulada, escrutinando suas expressões que variavam do desinteresse escancarado, à curiosidade maliciosa e, por fim, à simpatia insuspeita. Algum deles teria pedido à Ymira e a Meon para que se livrassem de mim?

Não os julgue tão depressa, Cadius me cutucou, às vezes, aparências são enganadoras e primeiras impressões podem se mostrar ainda menos confiáveis. Não baixe a guarda, mas tampouco faça de um ou mais deles seu inimigo; não ainda. Assenti.

Foi Aedyon quem voltou a se manifestar, ignorando-me para se dirigir somente ao seu príncipe.

— Estávamos à sua procura, Vossa Alteza. Temos assuntos a serem discutidos que não devem mais ser postergados — disse-lhe de forma enigmática, excluindo-me da conversa e fazendo questão de que eu também não ficasse a par de tais assuntos.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora