Capítulo Dezesseis: Uma Benção, Uma Promessa

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A SEMANA SEGUINTE trouxe consigo o início da segunda rodada do Torneio Trissolar. Mais uma vez nossos nomes foram sorteados, mas agora os combates seriam individuais e metade de nós seria eliminada — ou pior: morta — até o fim do segundo dia.

Sorte ou não, meu nome foi designado para a última luta do segundo dia contra um mercenário da cidade de Bavidhis chamado Loturak. Pelo pouco que ouvi a respeito dele, não seria um adversário fácil de vencer e o fato de que eu seria a última a lutar me deixou com os nervos em frangalhos. A última luta sempre deveria ser a mais memorável, quase um espetáculo sob o disfarce de um banho de sangue gratuito. Cadius estava se retorcendo de ansiedade tanto quanto eu àquela altura.

Como agora seria permitido que assistíssemos às lutas, meu senhor me levou para a arena fervilhante tanto de calor quanto de expectativa uma hora antes do início do primeiro combate do dia.

Sentamo-nos num assento um pouco mais privilegiado, onde tendas foram armadas para poupar-nos do sol escaldante do meio-dia. Como não lutaria naquele dia, não vesti minha armadura. Usava apenas uma túnica leve sem mangas devido ao calor intenso, calças e botas. Mas admito que estava me sentindo exposta e vulnerável sem ela, especialmente sob o escrutínio escancarado de alguns dos espectadores mais próximos.

Os poucos finalistas que haviam se dignado a me olhar mais cedo também fizeram questão de deixar claro o quanto já me detestavam. Não que eu pudesse culpá-los. O público estava em polvorosa por minha causa. Gorah tinha razão, minha indiscrição com o príncipe Sarghan há alguns dias trouxera muita atenção para mim.

E por falar nele, eu estava dando o máximo de mim para evitar ser o alvo de sua atenção, mas eu sentia nos meus ossos que era observada intensamente, mesmo que me recusasse a fazer contato visual com o pódio, onde ele estava já em companhia do Conselheiro Real e, provavelmente, de sua noiva.

— Já vai começar. — Meu senhor tocou meu ombro e eu arrastei meus olhos até a arena.

Os portões se abriram e, de cada lado oposto da arena, duas silhuetas surgiram, caminhando calmamente pela areia fervente. Reconheci a forma esguia de Zyora, sua tez cor de ébano e a cabeça raspada; andava com a graça e a indolência de uma pantera pronta para apanhar sua presa. Era a protegida do Lorde Darcenus e uma assassina que jamais falhava, alguns diziam. Usava uma espécie de couraça sobre o torso, uma saia de armadura feita de placas de couro batido e sandálias de tiras grossas que lhe subiam pelas panturrilhas. Havia muitos adereços de ouro em torno dos seus pulsos e pescoço. Diziam que sempre exigia que seu pagamento fosse feito em ouro por isso, para que o transformasse em joias pesadas e as usasse para se lembrar de cada vítima de sua navalha. Considerando o número exorbitante de colares, braceletes e pulseiras, não havia dúvida de que era uma assassina muito mais do que apenas eficiente. Era letal.

Seu adversário era um homem alto e forte chamado Thord, proveniente de um dos reinos menores do sul, sobre os quais a nação de Asther ainda mantinha domínio. Seu cabelo loiro estava oleoso e fora puxado para trás num rabo de cavalo para revelar um rosto barbado comum. Sua armadura não tinha nada de especial, tampouco. Mas o que suas mãos traziam talvez fosse digno de nota: uma lança longa em cada mão. Requeria ser um guerreiro absurdamente habilidoso para manejar duas lanças tão grandes de modo simultâneo.

— Aproximem-se, competidores!

Telak comandou de cima do pódio e eu cometi o erro de olhar na direção do príncipe Sarghan, flagrando seu olhar ansioso sobre mim. Virei o rosto depressa, cortando o contato visual e focando no centro da arena outra vez.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora