Capítulo Dezenove: Encontros à Surdina

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UM BANQUETE FOI oferecido no palácio real aos finalistas que corajosamente triunfaram nas arenas de Asther três dias depois do término da segunda rodada do torneio.

De dezesseis, nos tornamos oito: quatro mulheres (contando comigo) e quatro homens. Dois deles, Ymira e Rhiz, me causavam completa repulsa. Duas eu admirava, Zyora e Dashaira. Os outros três homens, Meon — o amante de Ymira —, Bokham e Darien eram completos estranhos para mim, portanto estava indiferente a eles por enquanto.

Eu me aprontei com esmero, sozinha dessa vez, e um pouco confusa pelo fato de que o silêncio de Cadius se estendia até então. Ajeitei a saia fluída do vestido frente única de seda azul-escuro que usava. Ele possuía um bordado elegante com cristais brilhantes na gola e na cintura, além de uma abertura provocante no vale dos meus seios.

Arrumei meu cabelo, encarando-me no espelho do toucador com um vinco entre as minhas sobrancelhas e um desgosto aparente nos meus olhos desiguais. Havia vezes em que, ao olhar-me no espelho, eu não me via como eu mesma, mas como o reflexo de outro alguém. Nunca descobri se isso me agradava ou se me perturbava.

Coloquei um único bracelete dourado no meu pulso esquerdo e rezei às deusas por proteção, foi o único momento em que vi um pouco de fogo arder nos meus olhos distantes.

Alguém bateu à porta do meu quarto.

— Pode entrar — disse e foi meu senhor quem surgiu à porta, vestido com um gibão azul-escuro elegante; um fecho de prata ornamentado prendia a capa de veludo cinza ao seu ombro. — Estou pronta — declarei.

Apresentei-me para ele, para que me avaliasse, mas meu senhor não parecia ter nenhuma opinião formada sobre a minha aparência ou o modo rápido como me mediu indicou que eu não o havia impressionado. Abri um sorriso para ele, que bufou pelo nariz.

— Sabe que sou péssimo nisso. Você está bonita. Isso é o suficiente?

Como não contive o riso, meu senhor me apressou bruscamente, dizendo que já estávamos partindo ao se retirar do quarto. Segui-o até o vestíbulo, onde minha senhora o esperava para se despedir. Ela ajeitou a capa dele e beijou sua face afetuosamente, desejando sorte a nós dois.

— É de bom senso que ela precisa — ele murmurou ranzinza —, não de sorte.

Estávamos a algumas horas do poente quando deixamos a mansão e seguimos em direção ao palácio real e o sol ainda estava forte. Não muito depois atravessamos os imensos portões e fomos conduzidos a um salão diferente dessa vez, mas tão amplo e ricamente adornado quanto o outro. O número de convidados havia se reduzido pela metade, mas ainda se ouvia um burburinho conforme nos aproximávamos.

Fui imediatamente atraída para Dashaira, que estava mais próxima à entrada, novamente acompanhada de seu pai, um homem de aparência e porte distintos. Lorde Darcenus também estava lá, acompanhado de sua protegida, a belíssima e estoica Zyora, e ele parecia orgulhoso por poder desfilá-la pelo salão para os demais nobres presentes.

Encontrei Ymira depois de vasculhar rapidamente o imenso recinto. Nossos olhares se encontraram, mas ela logo o desviou e optou por se focar no homem que a acompanhava: Meon. Rhiz não estava muito longe, mas havia se ocupado de uma caneca de cerveja preta, ignorando o homem pequeno que tentava puxar assunto com ele.

Meu senhor segurou minha mão e a apertou de leve, inclinando-se para sussurrar no meu ouvido:

— Tome cuidado dessa vez, Nysa. É possível que todos aqui tenham assistido a sua última luta. Não se torne um alvo ainda maior para eles, não os faça se sentirem ameaçados. Jogue o jogo que eles quiserem que você jogue. É meu último conselho no que concerne a sua falta de bom senso.

Nysa - A Campeã de AstherOnde as histórias ganham vida. Descobre agora